Estudo traz esperança pela busca de cura da Hepatite C

Novas fórmulas contra a doença já estão sendo testadas. Uma delas reduz o tempo de tratamento drasticamente de 48 para 12 semanas

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No Brasil, cerca de 2,5 milhões de pessoas são afetadas pela Hepatite C, uma doença silenciosa que pode ficar escondida por décadas sem apresentar sintomas; aproximadamente em 80% dos pacientes os sintomas só serão sentidos em um estágio mais avançado, causando dificuldades no tratamento.

Desse modo, buscando atacar com mais eficácia a doença, principalmente nas situações que exigem bastante cuidado, novas opções passam a figurar no mercado. Contudo, nenhuma ainda é aprovada pelo Brasil através da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária). Nessa fórmula revolucionária, o tempo de tratamento reduziria drasticamente de 48 semanas para 12 semanas, ou 24 nos casos mais graves. A luta agora é para vencer toda a burocracia, já que milhões de pessoas sofrem com a HCV e não podem perder tempo.

?O regime de tratamento que descobrimos em fases de estudo combina três compostos e foi testado em cerca de 2,3 mil pacientes infectados em diferentes estágios da doença em mais de 25 países, apresentando taxa de eficácia entre 92% a 100%?, explica Neves.

Outra grande vantagem está relacionada com o índice de abandono próximo a zero, fora aos efeitos colaterais mínimos. ?Os mais comuns são uma pequena cefaleia e fadiga?, afirma. Todo o dossiê já está pronto para a análise na Anvisa e a expectativa é que a sinalização positiva aconteça rapidamente. ?Foi um trabalho bem difícil de chegar. Nosso foco é garantir as aprovações regulatórias?, insere Neves.

Transmitida de pessoa para pessoa, via sangue contaminado, a Hepatite C (HCV) se alastra rapidamente pelo mundo e orienta para uma preocupação global na cura mais efetiva. Atualmente, a doença é combatida através de uma combinação padrão de duas drogas, sendo que estas costumam causar efeitos colaterais perversos, que podem levar até mesmo à depressão e tendência suicida. Esta opção dura 48 semanas e geralmente apresenta um grau elevado de desistência, sendo que o grau de eficácia varia entre 20% e 45% . Nos últimos anos, contudo, os laboratórios têm dedicado horas de empenho em novos medicamentos na luta por melhorar a taxa de cura alcançada, minimizar as sensações adversas e diminuir o tempo de intervenção médica. ?O vírus da Hepatite C é de alta mutação. É importante encontrar um tratamento melhor, tanto em eficiência quanto eficácia?, garante o diretor médico José Eduardo das Neves.

A realidade

No Congresso Hepatologia do Milênio, lançado na última terça, em Salvador, Bahia, especialistas de diversas partes do Brasil e do mundo estabeleceram uma campanha que percorrerá todo o país para divulgar um grupo de risco da Hepatite C. Com o lema ?Se você tem mais de 45 anos, isto é com você?, é emitido um alerta para a faixa etária que mais apresenta ocorrências da doença. A atenção é voltada para que essas pessoas realizem o teste de HCV o mais rápido possível, e no caso de detectada, que sejam encaminhadas para os centros de saúde mais próximos, no intuito de que o tratamento comece imediatamente. ?Nos casos notificados, cerca de 70% ficam na faixa de 45 a 65 anos?, diz Parise.

Segundo o presidente da SBH, o foco do trabalho é na conscientização tanto do paciente quanto do médico, além de uma descentralização no atendimento. ?A estrutura do tratamento ainda está muito focada nas grandes cidades do Brasil?, insere Erico Arruda.

Os profissionais também buscam abrir uma discussão sobre a aprovação dos novos medicamentos, a burocracia tem emperrado grandes avanços. ?A Hepatite C é como se estivéssemos assistindo três personagens todo o tempo. É papel de todos nós contribuir com essa luta; batalhar pela conquista dessa nova tecnologia?, opina Arruda.

Em alguns países do mundo, como os Estados Unidos, as drogas revolucionárias já estão liberadas, desse modo muitos brasileiros importam esses medicamentos para obter a cura. ?Um problema é o custo, atualmente se alguém fizer isso, tem que pagar em torno de R$ 450 mil reais pelo tratamento de 12 semanas, em 24 esse valor dobra?, garante Parise.

O governo brasileiro já estaria negociando uma redução de preços com os laboratórios, fora que ainda faltam todos os empecilhos burocráticos para transpor. A parte da ciência já foi concluída, agora basta resolver esses trâmites para que os portadores do vírus da HCV possam respirar mais aliviados. ?É possível conseguir diminuir os custos, o Brasil tem influência. No Egito, por exemplo, o governo conseguiu 99% de desconto?, finaliza o presidente do Grupo de Apoio aos Pacientes com HCV, Carlos Varaldo.(F.T.)

Poucas pessoas procuram fazer teste de detecção da doença

A detecção do problema é feita através de um exame específico, o hemograma comum não identifica o vírus.

Atualmente, existe o teste rápido anti-HCV, contudo, um número pequeno de pessoas busca realizá-lo. As vias de transmissão mais comum são o compartilhamento de agulhas, transfusão de sangue e até mesmo transplante com um órgão contaminado. ?A relação sexual também pode transmitir a doença, porém esses casos são bem mais raros?, conta o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Edison Parise.

A dificuldade em se estabelecer o diagnóstico ainda no início pode ser justificada pelo fato de quase 30% dos infectados não apresentarem qualquer fator de risco, aliado a ausência de sintomas. ?É preciso que investiguemos os brasileiros que não sabem que possuem HCV. A pessoa precisa ser tratada, acompanhada?, impõe o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Erico Arruda.

Nesse sentido, a cirrose hepática é desencadeada pela gravidade do problema, destacando-se em nível global como uma das maiores causas de morte entre os homens. Segundo Arruda, era a oitava do mundo em 2005, mas certamente já deve ter assumido um posto maior nessa triste escalada.

?A HCV é a segunda causa de doença crônica no Brasil, só perde para o álcool?, garante. O médico ainda alerta para o cuidado em solicitar ao hepatologista o exame específico ao menos uma vez ao ano. ?À medida que não detectamos a doença evoluindo, teremos um aumento de pacientes com câncer no fígado?, afirma.

Apesar do grupo de cirróticos ser mais difícil de tratar, com a nova combinação a cura obtida mantém-se no mesmo patamar dos demais pacientes, ou seja, a chance será muito grande. ?Poderia ser uma esperança para todos os pacientes, a diferença para o tratamento atual é de qualidade e intensidade?, aponta o diretor médico.

O trabalho desenvolvido na obtenção desse novo medicamento demorou cerca de 10 anos para ser concluído.

Consistindo como o maior programa de estudos clínicos em HCV já realizado.



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