Forrozeiro lança música em protesto contra abate de jumentos; ouça

O título da canção é bem direto: “Burro é quem mata jumento”

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Os recentes casos de maus-tratos a jumentos, com registros de centenas de mortes na Bahia, levaram o forrozeiro baiano Adelmário Coelho a lançar uma música de protesto. Ele é um dos que ficou chocado com a crueldade contra os animais. CLIQUE AQUI E OUÇA.

O título da canção é bem direto: “Burro é quem mata jumento”. Além de protestar, o músico reverencia o animal considerado "sagrado" por muitos nordestinos e que já foi homenageado também pelo forrozeiro Luís Gonzaga em “O jumento é nosso irmão”.

ecém gravada, a música foi apresentada por Adelmário Coelho ao CORREIO nesta segunda-feira (4) e ainda não foi divulgada ao público. “Ela já estava engatilhada para ser lançada, aí resolvi fazer isto depois desse último caso de crueldade”, disse Adelmário.

O forrozeiro se refere ao flagrante de maus-tratos a jumentos em uma fazenda em Canudos, no sertão da Bahia, na quinta-feira passada. No local, autoridades ambientais e sanitárias encontraram mais 200 animais mortos e cerca de 800 desnutridos.

O forrozeiro destacou que não é um “radical” da defesa dos direitos dos animais, “mas uma coisa como essa tem de falar, pois se Luís Gonzaga estivesse vivo, seria uma voz marcante contra isso”.

A ideia da música, conta Adelmário, veio quando foram publicadas reportagens sobre os casos de maus-tratos em Itapetinga. A letra e parte da melodia foram criadas por um parceiro do forrozeiro, Júnior Vieira, que mora em Recife.

“A provocação para ele fazer foi minha, e falei com ele porque é muito comprometido com a cultura do Nordeste, e não podemos ficar sem nossos jumentos. Nordeste sem jumento é como Austrália sem canguru”, comparou o cantor, segundo qual a música terá também um clipe, já em fase de finalização.

Para Adelmário, “a sociedade tem que lutar para que a decisão judicial possa proibir para sempre os abates”. O mérito da decisão ainda será julgado na Justiça Federal da Bahia – por enquanto, a decisão que proibiu os abates foi liminar (temporária).

Outra decisão, da Justiça Federal de São Paulo, proibiu os abates em todos os estados do Nordeste. Na Bahia e em São Paulo as proibições ocorreram após entidades de defesa dos direitos dos animais entrarem com ações na Justiça pedindo a proibição.

O governo da Bahia e a União, rés no processo, recorreram para que os abates sejam liberados. O mesmo fizeram frigoríficos autorizados, mesmo não sendo parte no processo. Eles defendem que não há crueldade com os jumentos.

Animais desnutridos recem alimento

Inicialmente, a Prefeitura de Euclides da Cunha, no nordeste baiano, divulgou que a fazenda ficava numa área de fronteira entre o município e a cidade vizinha de Uauá, mas, nesta segunda (4) corrigiu a informação e confirmou que a propriedade fica no território de Canudos.

Os animais desnutridos já estão se alimentando com milho e devem ser transferidos esta semana para uma propriedade em Rodelas, à beira do rio São Francisco.

O prefeito de Euclides da Cunha, Luciano Ribeiro (PDT), informou que levou um caminhão do grão para os animais comerem. “Agora estamos vendo a transferência deles logo para a fazenda em Rodelas”, disse.

O transporte depende da análise da Agência De Defesa Agropecuária Da Bahia (Adab), que avaliará se a propriedade tem condições de receber os animais de forma provisória. A pasta informou por meio do diretor de Defesa Animal, Rui Leal, que ainda não fez avaliação da fazenda.

Nesta quarta-feira (6), o assunto será debatido numa reunião entre a Adab, Prefeitura de Euclides da Cunha e Ministério Público da Bahia. O CORREIO não conseguiu contato com a Prefeitura de Canudos para comentar o caso.

De acordo com a Adab, os responsáveis pelos jumentos são dois chineses, os quais foram multados em R$ 40 mil porque os animais estão sem a GTA, guia de trânsito que atesta a origem do animal e serve como comprovante sanitário.

O órgão estadual suspeita que eles sejam ligados à empresa Cuifeng Lin, que tem sede em São Paulo e filial em Itapetinga, onde ela vinha levando os jumentos para o abate no Frigorífico Sudoeste. Ninguém atendeu aos contatos do CORREIO na empresa.

Outros casos

Em setembro de 2018, a Bahia já tinha registrado outros casos de maus-tratos, com 350 jumentos mortos em Itapetinga, na região Centro-Sul, e em Itororó, no Sudoeste baiano, o que levou a Justiça Federal, em 30 de novembro, a proibir os abates que ocorriam desde julho de 2017.

A Bahia é o único estado do Brasil com autorização do Ministério da Agricultura para realizar os abates, que ocorriam em três frigoríficos: um em Amargosa, na região Centro-Sul, Itapetinga, no sudoeste baiano, e Simões Filho, na na Região Metropolitana de Salvador. Os abates foram paralisados com a decisão judicial.

“Está na hora de dar um freio nos maus-tratos. Muita gente bebeu água, carregou rapadura no lombo de um jegue. Vi isso em Curaçá [Norte da Bahia], no distrito de Barro Vermelho, onde nasci. O jumento era nossa força de trabalho”, disse Aldemário.

Negócio com a China

Os abates são para atender a China, onde se extrai da pele e do couro do jumento uma substância usada para fazer o ejiao, remédio tradicional chinês que promete combater o envelhecimento, aumentar a libido nas mulheres e reduzir doenças do órgão reprodutor feminino.

Os animais vinham sendo capturados em estradas do Nordeste ou comprados por até R$ 30 e levados para o abate. Em seguida, a carne, a pele o couro eram exportados para a China depois de passarem por Hong Kong e Vietnã.

Dados do Ministério da Agricultura apontam que a Bahia exportou para o Vietnã 1,28 mil toneladas de carne e couro de “cavalos, asininos e muares”, a US$ 2,5 milhões (R$ 9,7 milhões), neste ano. Para Hong Kong, foram 24,4 toneladas, por US$ 36.814 (R$ 142.282,43).

“É preciso ter uma definição definitiva da Justiça sobre o abate dos jumentos. O país não precisa otimizar sua economia matando jegues”, defendeu o forrozeiro Adelmário Coelho, para quem os animais deveriam receber proteção dos estados do Nordeste.

BURRO É QUEM MATA JUMENTO

Santo Deus, por quê será

Que o homem, tão sabido...

Cresce o olho da ganância,

Quer ver tudo destruído,

E em nome do dinheiro

Deixa o teu nome esquecido!?

Senhor, só vim te pedir:

Me livrai da extinção!

Sou apenas um jumento

Que sirvo a qualquer cristão,

E de cristo eu sei que sou

Animal de estimação!

Mesmo em meio ao progresso

Faço um trabalho bonito,

Respeito muito meu dono,

Minha arma é o cambito,

E carreguei Jesus Cristo

De Belém para o Egito!

Meu Jesus de Nazaré,

Não me deixes levar fim!

Por que será, meu senhor

Que quem é bom, é ruim!?

Parece até que Herodes

Tá se vingando de mim!

Não uso gasolina, respeito meu amo;

Trabalho com fome, mas nunca reclamo!

Dou sangue e suor, jogado ao relento...

Eu acho que burro é quem mata jumento!

Autor: Júnior Vieira.



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