Há cem anos, eclipse em Sobral trouxe o 1º 'Einstein estava certo'

O físico alemão havia anunciado sua teoria em 1915. Nela, afirmou que a massa dos corpos deforma o espaço próximo a eles. Assim, o caminho da luz emitida por um astro, ao passar por esta região desviada, deixa de ser uma linha reta.

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Em maio do ano 1919, em uma cidade no interior cearense, onde nunca havia circulado um carro, foi “invadida” por cientistas brasileiros, americanos e britânicos, que desembarcavam de trem com parafernálias trazidas do Rio de Janeiro, como telescópios e espectrógrafos. A expedição realizada em Sobral atingiu um feito que, nesta quarta-feira (29), completa seu centenário: a comprovação da teoria da relatividade de Albert Einstein , através de fotografias realizadas durante um eclipse solar. As informações são do O Globo.

Além de Sobral, os “caçadores de eclipse” também instalaram uma equipe na Ilha do Príncipe, na África. Desde 1912, pesquisadores tentaram fazer observações em quatro locais. No entanto, o mau tempo atrapalhou o registro das imagens. Na Ucrânia, em 1914, os cientistas tiveram de abandonar seus materiais, devido ao avanço das tropas na Primeira Guerra Mundial.

— Sobral era uma cidade pequena, mas de infraestrutura razoável, porque tinha uma estrada de ferro conectada diretamente a um porto — destaca Christina Barbosa, historiadora das Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast). — Os cientistas foram alojados no sobrado confortável de um deputado federal, mas reclamaram muito sobre o clima e os mosquitos, e os americanos ficaram impressionados com os flagelados da seca. 

O físico alemão havia anunciado sua teoria em 1915. Nela, afirmou que a massa dos corpos deforma o espaço próximo a eles. Assim, o caminho da luz emitida por um astro, ao passar por esta região desviada, deixa de ser uma linha reta. No entanto, este fenômeno só poderia ser testado a partir de um eclipse total do Sol, quando é possível observar as estrelas que ficam atrás ou ao fundo dele.

— Se colocarmos uma bola pesada em cima de uma colchão, ela vai deformá-lo. Se jogarmos depois, no mesmo local, uma bola de gude, sua trajetória será mudada. O mesmo ocorre com a luz: ela é desviada quando se depara com um objeto maciço — compara Alfredo Tolmasquim, diretor de Desenvolvimento Científico do Museu do Amanhã. 

De acordo com Christina, os cientistas tiveram cuidado especial com o fechamento de acampamentos, para que a população não tocasse nos instrumentos. Duas lunetas, no entanto, foram disponibilizadas para que os moradores locais fizessem observações. Também houve um alerta para que a população não disparasse fogos de artifício ou qualquer coisa que pudesse afetar a luminosidade.

Pouco antes das 9h da manhã de 29 de maio de 1919, veio o eclipse, que encobriu completamente o Sol ao longo de cinco minutos. Foi um período curto, mas suficiente para astrônomos ingleses tirarem fotografias com câmeras acopladas a telescópios, registrando a posição das estrelas próximas à borda solar. Os pesquisadores brasileiros também fizeram fotografias da coroa solar, a camada mais externa do Sol. 

No céu limpo de Sobral, as placas usadas pelos cientistas registraram 12 estrelas normalmente ofuscadas pelo Sol. Na Ilha do Príncipe, onde o tempo estava nublado, foram registradas apenas seis. A comprovação da teoria da relatividade foi vista com ressalvas pelos colegas de Einstein, ainda não convencidos de que a medição estava correta. A opinião pública foi mais generosa, e alçou o físico à condição de ícone pop.

— Era um momento simbólico, porque a Primeira Guerra Mundial havia acabado há poucos tempo, e eram pesquisadores britânicos interessados em ver Einstein, um alemão, derrubando as teorias sobre o Universo de Isaac Newton, um inglês — assinala Tolmasquim. — O eclipse e o simbolismo de luzes fazendo curvas no espaço também deram uma aura mística ao estudo.

Einstein recebeu muitos convites no mundo inteiro para explicar sua teoria da relatividade. Em 1925, o físico veio à América do Sul, onde passou por Argentina e Uruguai, antes de chegar ao Rio. Segundo relatos da época, fascinou-se com a mistura cultural da cidade, mas sofreu com o calor e a solidão — estava há quase três meses viajando sozinho, e não conhecia muitos profissionais de sua área.

Para comemorar a data histórica, o Mast, em parceria com o Observatório Nacional, vai inaugurar às 11h a exposição “O Eclipse — Einstein, Sobral e o GPS”, que contará detalhes sobre a expedição. Imagens e instrumentos usados à época na cidade cearense integram o acervo.

Já o Museu do Amanhã realizará nesta quarta-feira, a partir das 16h, a atividade “Um eclipse para chamar de seu”: um painel que debaterá diferentes abordagens — científicas, culturais e religiosas — do fenômeno. Além dos debates, haverá a exibição do filme “Casa de areia”, protagonizado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres e dirigido por Andrucha Waddington.



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