Cairo: exército tenta apartar manifestantes e premiê propõe diálogo

Oposição afirma que só negocia se o contestado presidente deixar o poder.

Cairo | Reprodução G1
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Militares fizeram disparos para o alto nesta quinta-feira (3) na região da Praça Tahrir, no centro do Cairo, em uma tentativa de separar os manifestantes favoráveis e contrários ao presidente Hosni Mubarak, que continuavam a se enfrentar em meio à crise política que paralisa o país.

Assista ao lado ao relato de Ari Peixoto, enviado da TV Globo ao Egito

Os dois grupos voltaram a jogar pedras um no outro, em uma rua próxima à Praça Tahrir, foco dos protestos dos últimos dez dias.

Também havia focos de incêndio no local, de acordo com imagens da TV local.

O premiê egípcio, Ahmed Shafiz, se colocou à disposição para ir à praça e dialogar com os populares, que pedem a saída imediata de Mubarak do poder.

Mais cedo, a oposição havia desmentido uma versão da TV estatal de que um diálogo político havia sido iniciado. Os oposicionistas insistem em que só vão negociar depois que Mubarak, há 30 anos no poder, deixar o cargo.

"Nossa decisão é clara: não haverá negociações com o governo antes que Mubarak saia. Depois disto, estaremos prontos para dialogar com (o vice-presidente, Omar) Suleiman", declarou Mohammed Abul Ghar, porta-voz da Coalizão Nacional pela Mudança.

O prazo dado pelos oposicionistas é esta sexta-feira (4), batizada de "Dia da Partida".

Os confrontos seguiam apesar de o Exército ter criado uma "zona neutra", de cerca de 80 metros, próximo à praça, para tentar isolar os grupos rivais. Os favoráveis ao governo chegaram a invadir a área isolada, mas tanques os forçaram a retroceder.

O Ministro da Saúde disse na TV estatal que cinco pessoas morreram desde a véspera vítimas da violência na região da praça, centro dos protestos pela queda do regime de 30 anos. Foram levadas aos hospitais 836 pessoas, das quais 86 continuavam internadas, disse Ahmed Samih Farid.

Desde o início dos protestos, que já duram dez dias, pelo menos 100 pessoas morreram, mas, segundo a ONU, esse número pode chegar a 300. De acordo com a TV Al Jazeera, o número de feridos teria passado de 1.500. Não há cifras oficiais, e os números são frequentemente contraditórios.

No início da noite de quarta, o vice Suleiman reforçou o pedido do Exército para que a população obedecesse ao toque de recolher e voltasse para a casa.

Mas, durante a madrugada, tiros esporádicos foram ouvidos no centro do Cairo.

Eles pareciam vir da Ponte de Outubro, onde permaneciam posicionados os partidários de Mubarak.

Os manifestantes também colocaram fogo em diversos pontos da praça, usando bombas incendiárias.

Os antigovernistas afirmaram na quinta que detiveram e identificaram 120 manifestantes pró-Mubarak, e que eles seriam, em sua maioria, ligados às forças de segurança e ao partido governista. Na véspera, o Ministério do Interior havia negado que o governo tenha instigado os protestos.

Repercussão

Vários lideres internacionais, Barack Obama à frente, pediram ao contestado Mubarak que comece já a transmitir o poder. Mas a chancelaria do Egito rejeitou o apelo, afirmando que seu objetivo é "inflamar a situação interna do Egito".

Na terça-feira, Mubarak havia anunciado que não tentaria sua quinta reeleição e deixaria o governo em setembro, após um período de "transição suave" de poder.

O acesso à internet, que havia sido cortado no país em 28 de janeiro, voltou parcialmente nas cidades do Cairo e de Alexandria, segundo usuários.

O corte, protagonizado pelo governo para tentar dificultar a organização dos protestos, gerou críticas da comunidade internacional.

Transição suave

Mubarak, que está há 30 anos no poder, afirmou na noite de terça em discurso na TV que, nos meses que restam de seu quinto mandato à frente do pais, vai ajudar a cumprir as exigências da coalizão de forças oposicionistas que o desafia -inclusive, fazer reformas do judiciário que ajudem a combater a corrupção.

Ele disse que o país atravessava um "momento difícil", que a prioridade era a "estabilidade da nação" e prometeu dialogar com todas as forças da oposição.

Os oposicionistas, no entanto, rejeitaram o diálogo e insistiram na partida dele.

Pressão internacional

A pressão internacional pela saída imediata de Mubarak -antes um nome que, do ponto de vista das potências ocidentais, gerava estabilidade na região- também aumentou desde seu pronunciamento.

Nesta quinta, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Itália pediram ao Egito, em uma declaração conjunta, o início de um processo de transição e condenaram os que usam ou estimulam a violência.

"Apenas uma transição rápida e ordeira para um governo de base ampla vai tornar possível superar os desafios que o Egito enfrenta atualmente", afirma o comunicado.

"Este processo de transição deve começar agora", completa ao texto assinado por Nicolas Sarkozy, Angela Merkel, David Cameron, José Luis Rodríguez Zapatero e Silvio Berlusconi.

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), a britânica Catherine Ashton, pediu ao governo egípcio um julgamento dos responsáveis pelos confrontos entre os manifestantes a favor e contrários a Mubarak.

O presidente dos EUA, Barack Obama, disse na noite da terça que a situação do presidente era insustentável e que a transição deveria começar imediatamente.

mapa do egito com dadosDados do Egito (Foto: Editoria de Arte / G1)

Os EUA estão inquietos "com as detenções e ataques" à imprensa que cobre a crise egípcia, informou o Departamento de Estado nesta quarta. A Casa Branca informou que "deplora e condena" a violência contra "manifestantes pacíficos".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse na quarta em Londres que o ataque a manifestantes pacíficos era "inaceitável".

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, considerou insuficiente o anúncio de Mubarake opinou que o presidente egípcio deve renunciar imediatamente para satisfazer as reivindicações de seu povo.

Levantes em outros países

Na quarta, o presidente de Iêmen, no poder há 32 anos, cedeu a protestos da oposição e disse que não vai tentar a reeleição. Nesta quinta, protestos favoráveis e contrários ao governo tomavam as ruas da capital, Sanaa.

Na terça, o rei da Jordânia -outro importante aliado dos EUA no mundo árabe- havia anunciado uma mudança no governo o país, também depois de protestos populares e de opositores.

Os protestos em Egito e Jordânia -assim como Marrocos, Iêmen e Síria- foram inspirados pelo levante popular que derrubou o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, que caiu pela pressão popular após 23 anos no poder.

País chave

O Egito, o mais populoso dos países árabes (80 milhões de habitantes), é importante aliado do Ocidente na região e administra o Canal de Suez, essencial para o abastecimento de petróleo dos países desenvolvidos.

Além disso, é um dos dois países árabes (o outro é a Jordânia) que assinou um tratado de paz con Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, mencionou o fantasma de um regime ao estilo iraniano, caso, aproveitando o caos, "um movimento islamita organizado assuma o controle do Estado".

O turismo é uma das maiores fontes de receita do exterior no Egito, sendo responsável por mais de 11% do PIB e fonte de empregos, em um país com alto índice de desemprego. Cerca de 12,5 milhões de turistas visitaram o Egito em 2009, proporcionando receita de US$ 10,8 bilhões.

Israel teme queda, diz pesquisa

Para a maioria dos israelenses, a iminente queda de Mubarak terá consequências negativas para Israel e levará ao poder um "regime islâmico", informa uma pesquisa publicada pelo jornal "Yediot Aharonot".

A pesquisa mostra que 65% dos israelenses consideram que, para Israel, as consequências da queda de Mubarak serão negativas, contra apenas 11% que acreditam em algo positivo.

Além disso, 59% dos israelenses entrevistados acreditam que um "regime islâmico" vai suceder Mubarak no poder, enquanto 21% acreditam em um "regime laico democrático".

A pesquisa do instituto Mina-Tzemah-Dahaf ouviu 500 pessoas e tem margem de erro de 4,5%.



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