Crise migratória: EUA deportam 30 crianças brasileiras para o Haiti

Além do drama das crianças brasileiras, outras 182 menores chilenos estão na mesma condição.

Um agente da patrulha de fronteira dos EUA tenta impedir um imigrante de chegar ao território do país, em 19 de setembro de 2021 — Foto: Paul Ratje/AFP | Um agente da patrulha de fronteira dos EUA tenta impedir um imigrante de chegar ao território do país, em 19 de setembro de 2021 — Foto: Paul Ratje/AFP
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Uma crise imigratória que levou cerca de 15 mil haitianos à cidade texana de Del Rio, fronteira com o México, fez os Estados Unidos deportar 30 crianças brasileiras para o Haiti.

A informação foi dada à BBC News Brasil pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), braço da Organização das Nações Unidas (ONU) dedicada ao monitoramento do fluxo migratório ao redor do mundo.

As crianças brasileiras têm, em sua maioria, até três anos de idade e estavam acompanhadas pelos pais haitianos, com quem fizeram a jornada para sair do Brasil e atravessar as Américas do Sul e Central até chegar à divisa entre México e EUA há pouco mais de uma semana.

Mais de 3,5 mil pessoas já foram deportadas para o país caribenho nos últimos dias — Foto: AFP

Desde que a crise estourou, cerca de 3,5 mil pessoas já foram embarcadas em voos americanos para Porto Príncipe, a capital haitiana. Ao descobrir para onde tinham sido levados, alguns haitianos reagiram com indignação e revolta e tentaram voltar à aeronave dos EUA.

Além do drama das crianças brasileiras, outras 182 menores chilenos estão na mesma condição.

"As crianças brasileiras não apresentavam qualquer problema maior. Caso contrário, seriam encaminhadas para assistência específica", afirmou à BBC News Brasil Giuseppe Loprete, chefe da missão da OIM em território haitiano, que acompanha a situação dos deportados.

Segundo a Constituição Federal, por terem nascido em território do Brasil, mesmo que de pais estrangeiros, os filhos dos haitianos são também considerados brasileiros natos. E por isso eles detinham apenas documentação brasileira ao serem encontrados e deportados pelos americanos.

De partida do Brasil

A partir de 2010, quando um terremoto devastou o Haiti e matou centenas de milhares de pessoas, o Brasil passou a ser destino de migração de haitianos.

Entre 2010 e 2018, os dados da Polícia Federal apontam que em torno de 130 mil haitianos vieram ao Brasil, onde se estabeleceram e formaram família.

O governo brasileiro criou um visto humanitário para atender às necessidades desses migrantes — mais tarde também estendido a sírios e afegãos.

Em março, a BBC News Brasil mostrou que o fluxo já se formava e vitimava pessoas como a haitiana Manite Dorlean, que, grávida de gêmeos, morreu afogada nas águas do Rio Grande em janeiro de 2021, depois de partir do Brasil ainda em 2019.

O número de haitianos localizados por agentes americanos na fronteira (29,6 mil) neste ano, com dados ainda incompletos, já é 6,5 vezes maior do que o total de 2020.

"Eles dizem que foram instruídos por outros haitianos que já passaram para os Estados Unidos e por isso também foram para lá. Infelizmente, é assim que funciona", afirmou Loprete.

Em 2021, o Haiti enfrentou o assassinato do presidente do país, Jovenel Moïse, que aprofundou a instabilidade política, e um novo e potente terremoto, que deixou mais de duas mil pessoas mortas.

Nesse contexto, a diáspora haitiana, tanto do próprio país quanto de outros na América Latina, se moveu para os EUA. Contribuiu para o fluxo a percepção de que a nova gestão democrata, de Joe Biden, teria uma abordagem mais simpática a migrantes.

Crise política nos EUA

A chegada em massa de haitianos, no entanto, detonou uma crise política nos EUA depois que o governo Biden, que prometia uma abordagem "humana" aos imigrantes, recorreu aos mesmos instrumentos utilizados pelo ex-presidente Donald Trump para deportar rapidamente o maior contingente possível, sem dar a eles a chance de pedir por asilo ou refúgio em território americano.

Um agente da patrulha de fronteira dos EUA tenta impedir um imigrante de chegar ao território do país, em 19 de setembro de 2021 — Foto: Paul Ratje/AFP

O enviado especial dos EUA para o Haiti, Daniel Foote, renunciou ao cargo em protesto contra o tratamento dispensado aos haitianos. Em uma carta pública à Casa Branca, ele disse que "não se associaria à decisão desumana e contraproducente dos Estados Unidos de deportar milhares de refugiados haitianos", citando as sucessivas crises humanitárias no país caribenho.

Além disso, imagens de guardas de fronteira ameaçando avançar com cavalos sobre migrantes haitianos correram o mundo e alimentaram ainda mais críticas ao governo americano. Biden afirmou que se responsabilizava pessoalmente pelo ocorrido e determinou o fim do uso da cavalaria entre agentes de migração.

O governo brasileiro, segundo um integrante do Itamaraty que esteve no encontro, recusou o pedido. "Cada um que cuide do seu Haiti", descreveu esse diplomata à reportagem, sobre o teor da resposta do Brasil aos americanos.

Por lei, o Brasil é obrigado a repatriar — inclusive cobrindo os custos de viagem — cidadãos que estejam em risco no exterior e sem recursos para chegar ao Brasil.

Reservadamente, dada a sensibilidade do tema, um embaixador brasileiro afirmou à BBC News Brasil que se as famílias dessas 30 crianças brasileiras expressarem o desejo para que isso aconteça, poderão deixar o Haiti e retornar ao Brasil.

É possível que o número de menores brasileiros nessa situação aumente nos próximos dias, conforme mais aviões americanos com centenas de deportados aterrissem em Porto Príncipe.

Com informações do G1*



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