Ataque com armas químicas mata cerca de 1.300 sendo muitas crianças na Síria; imagens fortes

A região atingida é dominada por rebeldes, que acusaram o Exército sírio pelo ataque

Corpos de vítimas são levados para o cemitério em Damasco | AP
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Quando os foguetes atingiram sua aldeia de Mouadamiya, a sudoeste de Damasco, Farah al Shami ignorou rumores no Facebook de que os projéteis estariam carregados de agentes químicos. Ela achava que seu bairro estava perto demais de um quartel para ser afetado.

?E ao mesmo tempo a ONU estava aqui. [Então] parecia impossível. Mas aí comecei a ficar tonta. Estava sufocando, e meus olhos estavam ardendo", disse a síria de 23 anos à agência de notícias Reuters, via Skype.

? Corri para o posto de saúde dos arredores. Felizmente ninguém da minha família passou mal, mas vi famílias inteiras no chão.

As cenas acima ocorreram nas primeiras horas desta quarta-feira (21) nos subúrbios de Damasco, onde um provável ataque químico matou centenas de pessoas. Uma equipe da ONU chegou ao país há três dias justamente para investigar o uso de armas químicas no conflito.

A região atingida é dominada por rebeldes, que acusaram o Exército sírio pelo ataque, ocorrido às 3h locais. O regime de Bashar al Assad confirmou que realizou ataques à região na quarta-feira, mas negou o uso de armas químicas.

O incidente pode ser o mais grave ataque com armas químicas desde 1988, quando as forças de Saddam Hussein atacaram com um gás a cidade curda de Halabja, no Iraque, matando entre 3.000 e 5.000 curdos iraquianos.

Em depoimento à Reuters, um homem que disse ter retirado vítimas no subúrbio damasceno de Erbin descreveu um cenário de horror.

? Entrávamos em uma casa e estava tudo em seu lugar. Cada pessoa estava em seu lugar. Eles estavam deitados onde haviam estado, pareciam dormir. Mas estavam mortos.

Imagens recebidas da Síria mostraram vários corpos ? alguns deles de crianças pequenas ? no chão de uma clínica, sem sinais visíveis de lesões. Algumas mostravam pessoas com espuma ao redor da boca.

Ativistas de oposição citaram várias cifras de mortos, de 500 a 1.300.

Os Estados Unidos e outros dizem não haver confirmação independente de que armas químicas tenham sido usadas em Damasco, mas todos os indícios apontam nessa direção.

Médicos entrevistados descreveram sintomas que, segundo eles, apontam para o gás sarin, um dos agentes que as potências ocidentais acusam Damasco de manter em estoques não declarados de armas químicas.

O ministro sírio da Informação, Omran Zoabi, disse que as acusações foram "ilógicas e fabricadas". O governo Assad diz que jamais usaria gás venenoso contra os sírios. Mas os EUA e seus aliados europeus acreditam que as forças de Assad já usaram pequenas quantidades de sarin anteriormente, o que levou à atual visita da ONU.

O Conselho de Segurança realizou uma reunião urgente em Nova York. A presidente de turno do conselho, a embaixadora argentina María Cristina Perceval, expressou apenas ?preocupação? e disse que era preciso mais ?clareza? sobre o assunto.

Tipos de gases

O ataque levantou também dúvidas sobre o misterioso arsenal químico da Síria, um dos maiores do Oriente Médio e sobre o qual se tem poucas informações.

Em entrevista à rede americana CNN, Gwyn Winfield, jornalista especializado na cobertura de uso de armas não convencionais, declarou que as imagens divulgadas pela imprensa sugerem duas hipóteses: uma grande quantia de gás de controle, como o lacrimogênio, pode ter sido utilizada em um espaço fechado; ou então usada uma substância química muito mais poderosa pode ter sido lançada a céu aberto.

O termo ?armas químicas? tem sido usado não apenas para substâncias mortais, mas também para outros gases que causam irritabilidade e queimaduras. No caso da Síria, alguns gases são apontados pela imprensa internacional como os mais prováveis de serem utilizados em ataques aéreos do governo.

O sarin é um gás letal que diversos países já denunciaram ter sido usado pelo Exército na Síria. Ele vaporiza com facilidade e se espalha no ar de forma rápida. O gás age no sistema nervoso e pode causar a morte entre um e dez minutos após a exposição.

Entre os sintomas, que aparecem em poucos segundos, estão irritação dos olhos, coriza, visão borrada, excessiva formação de saliva, tosse, aperto no peito, diarreia, atordoamento, sonolência e náusea, para exposições leves ao gás. A morte das vítimas se dá, na maior parte dos casos, pela contração muscular, que causa insuficiência respiratória, perda de consciência e paralisia.

A atropina e a fisostigmina são estimulantes do sistema nervoso e podem ajudar a conter o efeito do sarin, mas os remédios precisam ser administrados imediatamente após a exposição, o que atrapalha o tratamento, já que as equipes médicas não sabem prontamente com que tipo de substância estão lidando.

Outra substância é o gás mostarda, que queima a pele e os órgãos internos. O gás pode provoca ardor nos olhos e na pele, além de afetar pulmões, boca e garganta, se for inalado. Normalmente, o mostarda não é letal, mas pode causar câncer e graves queimaduras, que podem levar até mesmo à desfiguração.

Algumas vítimas sofrem ainda de conjuntivite, queimaduras na pele, dor de garganta, tosse e maior susceptibilidade à infecção e pneumonia depois de expostas ao gás, já que não há nenhum tratamento ou antídoto para o mostarda. O agente precisa ser removido totalmente do organismo.

Já o gás cloro também é tóxico e causa asfixia, irritação e resseca as vias respiratórias. O organismo, então, reage levando mais água para as cavidades do corpo e a vítima morre ?afogada?.

As vítimas podem ser tratadas com inalação de oxigênio úmido e intubação para vítimas que já estejam com as vias aéreas obstruídas. O cloro foi usado durante a 1ª Guerra Mundial por alemães contra o front belga.

O gás lacrimogênio, por sua vez, é um agente incapacitante, ou seja, o contato com o gás atrapalha os movimentos da vítima, dificultando a respiração e irritando os olhos e causando lacrimação.

Os efeitos mais comuns são dor de cabeça e falta de ar, mas a exposição ao gás também pode causar tosse, irritação na pele, sensação de queimadura e vômitos por até 45 minutos.

A Síria é um dos poucos países a não ter assinado a Convenção sobre a Interdição de Armas Químicas, além de não ser membro da Organização encarregada de controlar a sua aplicação, a OIAC.

O programa químico sírio iniciou nos anos 1970, com a ajuda do Egito e, em seguida, da ex-URSS. A Rússia, nos anos 1990, e o Irã, a partir de 2005, também forneceram apoio ao país, segundo a Nuclear Threat Initiative, uma organização independente que coleta informações sobre as armas de destruição em massa.



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