João Cláudio Moreno: 30 anos de humor e amadurecimento

Muitos são os personagens e histórias encenados por João Cláudio Moreno, que além de atuar, também canta e sempre tem as melhores piadas para contar

João Cláudio Moreno | Leo Vilari
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João Cláudio Moreno é o maior humorista do Piauí e um dos maiores do Brasil. Em 2019, ele completa 30 anos de carreira com milhares de fãs espalhados por todo o país. Com 51 anos, João é natural de Piripiri, já foi vereador de Teresina e tem o dom de arrancar gargalhadas de muita gente com seu jeito simples e irreverente de ser. O humorista estreia seu novo show “30 anos de humor” no próximo dia 1º de fevereiro em Teresina .

 A expectativa é que o espetáculo percorra todo o país até o fim do ano e fazer um apanhado da trajetória do humorista. Outra novidade é que o show conta com três poemas do livro “Vênus em Câncer”, da autora Clara Mello, filha de João Cláudio.  Muitos são os personagens e histórias encenados por João Cláudio Moreno, que além de atuar, também canta e sempre tem as melhores piadas para contar, uma mais engraçada do que a outra. Ele diverte e se diverte no palco, emociona e faz as pessoas refletirem sobre os temas mais diversos e relevantes.

 João chegou para Teresina aos 14 anos e é um humorista por vocação, contudo somente no final da década de 80 começou sua carreira no mundo do humor. João Cláudio imita como ninguém vários personagens conhecidos como a Dercy Gonçalves, Oscar Niemeyer, Alceu Valença, Jackson do Pandeiro, Alcione, o Papa João Paulo II e outros tantos.

 João Cláudio Moreno já conquistou o coração de todo o Piauí e tem fãs espalhados por todo o Brasil. Prova do seu sucesso nacional é que o humorista já estrelou programas de humor nacionais como “A Escolinha do Professor Raimundo” e “Chico Total”, ambos na Rede Globo. Foi ao lado do ator Chico Anysio que ele despertou a atenção da imprensa nacional e o espetáculo “Um Piauiense no Rio de Janeiro” dirigido por Chico e que teve todas as sessões lotadas. Em entrevista ao Jornal Meio Norte, João Cláudio Moreno lembra momentos importantes da sua trajetória e revela que se tornou uma pessoa melhor.

Jornal Meio Norte: O que representa esses 30 anos de carreira?

João Cláudio Moreno: Tem um amigo que diz pra eu não dizer 30 anos de humor não, mas sim uma ruma de anos, para não me entregar minha idade. Contudo, eu me sinto tão jovem, sei que o pessoal já me chama de Seu João, tenho cabelo branco, mas acho que estou mais jovem do que antes e me sinto mais pleno. Então eu não faço projetos e deixo Deus me surpreender. Eu administro as surpresas e os projetos foram surgindo. Surgiu o projeto de lançar o novo show com o livro de poesias da minha filha Clara Mello, que estuda astrologia e será lançado junto com o show. O livro “Vênus em Câncer”, que representa esse momento que o Brasil ta vivendo, também estará presente no show, que contem três poemas dela misturado com o humor. “30 anos de Humor” é um espetáculo que vai rodar, eu espero, o Brasil inteiro até o dia 17 de dezembro de 2019, que é o dia que fiz o primeiro show. Eu começo a contar a carreira da primeira vez que alguém pagou ingresso para me ver, porque eu já fazia shows nos corredores da universidade, até no ensino médio, até em Piripiri ainda adolescente, tinha público, mas não era público pagante e a primeira vez que alguém pagou ingresso pra me ver foi no dia 17 de dezembro de 1989.

Jornal Meio Norte: Qual personagem mais marcou sua trajetória?

João Cláudio Moreno: Não tenha dúvida que Luiz Gonzaga e Caetano Veloso são os personagens mais marcantes, porque além de imitar a voz eu tenho a psicologia dos dois. Eu acho que tenho dentro de mim, tanto que Luiz Gonzaga de homem rude, conservador, do sertão e ao mesmo tempo essa coisa feminina, urbana e vanguarda do Caetano. As duas coisas dosadas da psique humana desses dois artistas eu tenho e já fiz show especifico só de Luiz Gonzaga e só do Caetano e eles estão presentes em quase todos os meus shows, porque não posso me dissociar deles. Ao todo tenho mais de 100 personagens, mas esses dois são os mais importantes.

JMN: Ao longo desses 30 anos, quais foram as principais mudanças na sua vida?

JCM: Hoje eu me gosto muito mais, porque me entendo e me conheço melhor também, evidente que se eu pudesse mudar, muita coisa no meu temperamento, mas hoje estou melhor do que antes. O mundo piorou, mas eu melhorei e tem duas empregadas que trabalham lá em casa e dizem: ‘Meu Deus e ele ainda era pior do que isso’. Quer dizer, eu ainda era pior, mais preconceituoso, mais fechado, mais irritado, mais egocêntrico, mas hoje não. A maturidade vai dando uma leveza na gente. A coisa que eu mais gosto em mim é que as coisas são para vida toda, os amigos são os mesmos, os lugares, os ideais, não mudo de ideia, agora tem mais coisas que eu não gosto do que eu gosto. E tenho que aprender a falar menos, pensar mais e rezar mais ainda.

JMN: Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?

JCM: Em 30 anos aconteceram muitas coisas, mas foi muito marcante trabalhar com Chico Anysio, fui redator dele, fiz programa de televisão e fiz no teatro também. Pouca gente sabe disso, mas ele me chamava para ir ao teatro com ele e em 98 nós subimos o palco juntos. Eu gravei um disco com Hermeto Pascoal, considerado um dos maiores músicos do mundo, eu participei de duas músicas e gravamos na década de 90, ficou trancado em uma gaveta por 20 anos e em 2018 ele foi lançado e já foi premiado e foi um momento também muito importante. Eu já estive na Itália, Chile, fiz um curta-metragem sobre João Cabral de Melo Neto, que foi premiado no Chile e isso também foi muito importante. Teve a Cantata Gonzaguiana com a Orquestra Sinfônica de Teresina e nós andamos em 42 cidades do Brasil inteiro e você viajar com 80 músicos se apresentando com aquele cenário é quase impossível e eu participei disso em 2012 no ano do centenário de Luiz Gonzaga, inclusive no Congresso Nacional. Nós nos apresentamos na terra de Luiz Gonzaga e também considero isso importantíssimo, fora muitas outras coisas, fizemos a Missa do Vaqueiro na África do Sul e não posso me esquecer que em 1997 eu vi o Pavarotti, no Norte da Itália.

JMN: O que é felicidade para você?

JCM: O Cineas Santos diz que felicidade é um dente que não dói e uma aluna dele disse que não entendeu e ele disse que quando doesse ele entenderia. Felicidade é onde o homem não está, é um ciclo vicioso. O vaga-lume quer ser a estrela, quando ele consegue ele diz que seria tão bom ser o vaga-lume. Como tenho um embasamento religioso muito grande, tenho a noção de que a felicidade total não vai existir nunca nesta vida. Nem Jesus prometeu a felicidade nessa vida, mas tem muito haver em fazer os outros felizes. Quando você busca satisfazer o seu ego pessoal, muitas vezes até busca no dinheiro, no poder, no sexo, na droga, na bebida, em ser bonito, em ser admirado, em ser famoso, você julga que aquilo pode lhe levar a felicidade, mas leva a um vazio total. No entanto, quando você renuncia a si mesmo e faz um sacrifício escondido para fazer alguém feliz a felicidade do outro vai causar felicidade em nós, porque nós fazemos parte de um todo. Você só consegue ser feliz, se o outro também for, e é por isso que nunca houve tanta infelicidade no mundo como agora. Existe muito sofrimento no mundo, exatamente em consequência de egoísmo.

JMN: Qual a sua relação com as pessoas que admiram seu trabalho?

JCM: Eu já nasci com 60 anos, aos 18 anos eu já era assessor de comunicação da Fundação Cepro e editava uma revista, aos 23 anos eu já era secretário de cultura de Teresina, muito jovem. Então, pelo fato de eu ter começado muito cedo e já ter 30 anos de estrada, era até pra eu ser uma pessoa mais conhecida, mas eu sempre me escondi muito porque eu precisava de tempo para ler, estudar, rezar, viajar, dar assistência a minha família. Eu não era só artista, eu tinha uma vida intelectual, religiosa e política também. Hoje a internet dá uma visibilidade maior e se não fosse a internet eu nem estaria trabalhando mais, mas em 30 anos eu trabalho e vivo só disso - a bilheteria dos meus shows, não tenho outro emprego e dessa bilheteria eu vivo; como, criei filhos, ajudo a família e amigos, vivo com dignidade, então isso é muito bom, mas tudo isso só foi possível devido o carinho do público. Imagine que há 30 anos eu faço shows em Teresina e o público é muito fiel e sempre lota todas as casas.

JMN: Como é fazer humor na atualidade, teve alguma mudança?

JCM: O humor mudou, o politicamente correto está aí e limita e engessa a gente, mas é preciso também fazer a autocritica. Muita piada que eu fazia no começo da carreira eu não faria mais hoje, é porque houve um amadurecimento, eram coisas ofensivas, como por exemplo, chamar uma mulher de feia. Eu jamais faria isso de novo, porque primeiro não há mulher feia (nem mulheres e nem crianças feias), então alguém pode até rir disso, mas é um riso desqualificado. Para fazer rir não é preciso lançar mão de instrumentos tão precários e tão infames. Agora o politicamente correto é algo que engessa os humoristas porque você fica preocupado e passível de ofender a um ou outro, e se você pensar, quem tem que ser politicamente correto são os políticos e não os humoristas. O humorista tem uma espécie de licença poética para bater no sagrado, elogiar a vilania, nadar contra a maré para que o tempo passe, as mentalidades passem, mas a essência daquele artista fique como ficou com Charles Chaplin, Luiz Gonzaga, Torquato Neto e outros. Não estou dizendo que eu vou ficar, mas eles ficaram exatamente pela coragem.

JMN: Como se estabelece sua relação com a espiritualidade?

JCM: Até outro dia eu me perguntava se eu não deveria ter sido padre, ter ido para um mosteiro, ser um monge, mas eu acho que a função de um artista é muito parecida com a de um padre. Ele trabalha com a criação, propõe a arte e vê o bem ou o mal que aquilo pode fazer, então eu vivo a missão quase de um padre. A minha fé é muito ainda da necessidade, não é da virtude, mas como formador de opinião nós temos que falar de Deus. Um Deus que não precisa ser um Deus formatado pela mentalidade católica ou de qualquer igreja. Deus não se mede, não se explica, mas Deus se sente. Deus é um mistério que explica as coisas que a gente e nem a ciência consegue explicar e nesse mistério eu acredito. Se eu perder a fé, eu estou perdido. E a minha fé eu quero compartilhar com os outros, então nos meus shows, nos meus vídeos, tenho que dá um jeito de falar nisso. Eu não estou impondo meu Deus. Na verdade, Deus é amor. 

(Por Waldelúcio Barbosa)

Crédito: Léo Vilari



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