Engana-se quem pensa que o futebol é um ambiente masculino. A jogadora Marta, a maior atleta brasileira do futebol entre homens e mulheres, é a prova viva disso. Em Teresina não é diferente e muitas meninas têm talento no pé para mostrar. No Judá Futsal, projeto social fundado no Residencial Mário Covas, elas são, de fato, as donas da bola.
A professora de educação física, Jessica Mota, fundou, em junho de 2018, o projeto Judá Futsal, que resgata meninas em situação de violência e apresenta o esporte como uma alternativa, resgatando a esperança. A iniciativa une jovens moradoras do bairro Parque Vitória e do residencial Vitória Popular, na Zona Sul de Teresina.
A iniciativa de Jéssica promove, ainda, ações comunitárias como a distribuição de cestas básicas e de roupas. Para as meninas, a professora é uma inspiração e a certeza de que um futuro positivo é possível.
Maria Vitória Silva, de 12 anos, reconhece que a iniciativa é importante para sua formação social. “Para mim é excelente. Antes eu não conseguia um futsal feminino aqui. Então eu queria muito participar, cheguei aqui através da minha mãe. Fui gostando aos poucos. Entrei há três meses. Antes eu não gostava de conversar com ninguém, era muito ansiosa. Eu vi tudo melhorar. Comecei a fazer amizades”, revela.
Já Jéssica Camila, de 17 anos, jogava com os meninos antes de ter o próprio espaço. A “xará” da professora também tem talento no pé. “Antes não tínhamos escola de futsal feminino, aqui era um projeto masculino e eu treinava com os meninos. Sempre gostei mais de futsal. Então a Jéssica começou o Judá Futsal, que mudou minha vida. Eu ficava muito só, tinha ansiedade e era agressiva, aqui mudou totalmente minha vida”, aponta.
O futsal mudou a vida de Maria Vitória Souza, de 16 anos, completamente. “Esse projeto salvou minha vida. Saí do fundo do poço para ter uma vida boa. Hoje penso grande, quero crescer e atingir meus objetivos. Hoje penso em quem quero ser e com quem quero andar”, acrescenta.
Projeto supre carência de esporte e lazer na região
Jessica Mota conta com mais dois treinadores para aflorar o talento de mais de 20 meninas que frequentam as aulas, que acontecem em um ginásio cedido pela Prefeitura Municipal de Teresina.
A treinadora, que é formada em educação física, decidiu colocar o futsal feminino “para frente” na região. “O projeto começou pela necessidade do bairro, que tem carência de esporte e lazer. Queríamos levar princípios para uma área da cidade marcada pela violência. Iniciamos com meninas com vários problemas como uso de drogas e violentas. Eram pessoas consideradas problemáticas que hoje foram resgatadas”, revela.
A professora afirma que muitas vezes precisa dar o suporte que elas não têm em casa. “A maioria tem família desestruturada, sem a presença de uma mãe ou pai. Pedimos o amor ao próximo e o amor a Deus. Quando falo em princípios, falo do amor ao próximo, amizade, espírito de equipe, empoderamento, perdão, liderança…”, enumera.
Para lapidar estes talentos, o preparador de goleira, Diego Rocha, um dos voluntários do projeto de Jéssica, é exigente. “É muito gratificante trabalhar com as meninas do projeto. Ensino e aprendo com elas. Por conta da vulnerabilidade do uso de entorpecentes e prostituição, o esporte vem como um suporte necessário que ainda descobre talentos. Posso dizer que todas as meninas que participam podem chegar ao futsal profissional”, considera.
E é assim: com bola no pé e uma nova forma de ver o mundo na cabeça que essas meninas enfrentam as dificuldades. Desta forma elas têm todo o suporte para serem o que quiserem, dentro e fora de campo.
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