Lojas de Teresina amargam crise brasileira

País caminha para recessão com redução do PIB e lojas fechando as portas. O índice de desemprego também preocupa.

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Andar pelo centro de Teresina está se tornando uma experiência inédita. Lojas vazias. Comércio sem nenhum movimento. Vários pontos disponíveis para aluguel. Os três primeiros meses do ano mostram as feridas de uma economia mazelada por uma crise que se estende desde 2016. 

Crédito: Raíssa Morais

Teresina, infelizmente, segue a tendência nacional do comércio varejista, que voltou a fechar mais lojas do que abrir no primeiro trimestre. Após um ano e meio no azul, o comércio volta a amargar o vermelho, com um saldo negativo de 39 pontos de vendas fechando as portas no país. 

O número pode parecer pequeno, mas é assustador, quando comparado ao saldo positivo em 4,8 mil lojas em 2018.  Vale lembrar que 2018 já foi apontado como um ano de crise, apesar do número pequeno, quando comparada às 220 mil lojas que o varejo perdeu entre 2014 e 2017.

Os números levam em consideração dados de um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) com o apoio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A expectativa dos economistas é que 2019 encerraria com a abertura líquida de 22 mil lojas, fato que ainda não apresenta sinais de possibilidades.

O alto índice de desemprego, que chega a 12,4% da população, atingindo 13,1 milhões de desempregados, além do dólar, é a força motriz para que muitas lojas acabem tendo que selar as portas.

Retração de 0,2% do PIB indica um país a caminho da recessão

O Brasil, aos poucos, caminha para um processo de recessão. Apesar do Produto Interno Bruto (PIB) ainda não ter recuado por três semestres consecutivos, o consumo das famílias brasileiras vai de ladeira abaixo. A renda per capita do brasileiro estacionou em 9,1%, valor que é considerado abaixo do começo de 2014.

Para o economista Valmir Falcão Sobrinho, a retração do PIB, associada ao desemprego, é um dos fatores que não deixam a economia alavancar no início do ano. “A economia do Brasil está tendo uma retração neste primeiro trimestre, de 0,2% do PIB. Isso não vinha acontecendo desde 2016. Isso significa que os três setores da economia, primário, secundário e terciário, não estão reagindo às medidas emergenciais do governo, como contenção de gastos e anúncio de reformas”, declara.

Economista Valmir Falcão | Crédito: Raíssa Morais

O economista aposta na recuperação da economia brasileira, mas diz que os empreendedores precisam de capacitação. “Em contrapartida, há muitos anúncios de investimentos externos. O dólar deu uma melhorada esta semana [a moeda americana caiu sete centavos de quarta para quinta-feira]. Há uma expectativa de um pacto dos três poderes para tomar medidas importantes com relação à economia. E isso repercute, evidentemente, na abertura e fechamento de novas empresas. Aliados a isso, tem a falta de conhecimento dos empreendedores com o tipo de investimento do mercado. Falta competência”, acrescenta o economista.

O economista acredita que o empresariado deve estar atento às mudanças que estão para acontecer.  “A dica que eu dou é que os empresários esperem um pouco os impactos das medidas do governo e em qual investimento você deve escolher. A segunda é não gastar o desnecessário, somente o essencial. A taxa de desemprego está nas alturas, o que afeta diretamente o comércio. Todos os setores estão afetados. O único setor que ainda sobrevive é o agronegócio. O setor primário está bem por conta do inverno, que foi bom, esperam-se grandes safras”, considera o economista. (L.A.)

Lojas vazias e lojistas em crise

Para Tertulino Brandão, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado do Piauí (Sindilojas), o comércio está em crise. “Você entra numa loja e não tem ninguém. Realmente está havendo muitos fechamentos, e isso é em todo o Brasil. Em Teresina, o mesmo está ocorrendo. Não dá para estimar um percentual específico, porque muitas empresas estão fechando e ficando em stand-by”, declara.

Crédito: Raíssa Morais

A situação preocupa o sindicato. “Tem muito ponto para alugar. As pessoas estão fechando as lojas porque o número de pessoas na loja está reduzindo. Esse início de ano era para melhorar, mas isso não aconteceu. A expectativa é que melhore até o segundo semestre com as reformas que estão sendo apresentadas”, avalia Tertulino.

No entanto, os lojistas não estão nada esperançosos. A exemplo de José Wilson, empresário que mantém uma papelaria no centro. “Depois que esse governo entrou, ninguém vem comprar nada. Além disso, a falta de estacionamento está tirando as pessoas do centro. A Strans [Superintendência de Transporte e Trânsito de Teresina] multa todo mundo. Quem vai comprar algo barato aqui, tendo que pagar oito reais de estacionamento? É difícil. A prefeitura tem que ser nossa parceira”, explica. (L.A.)

José Wilson, empresário que mantém uma papelaria no centro | Crédito: Raíssa Morais

Marketing digital como solução para a crise

Felipe Brasil, gerente de uma loja de tatuagens, piercings e roupas, acredita que a saída é o marketing digital. “Para driblar essa crise, a gente aposta nas redes sociais, em vendas pelo WhatsApp. Tem que dar um jeito. As pessoas acabam vindo para loja apenas para serviços presenciais, como para fazer tatuagens e piercings”, avalia.

Felipe Brasil aposta no marketing digital | Crédito: Raíssa Morais

O setor de cosméticos também apresenta dificuldades. É o que conta Franciane Gabriele, gerente de uma loja de produtos para cabelos. “Antes, a loja era cheia, agora poucas pessoas passam por aqui. Está tudo muito fraco, e não é só aqui. O comércio está muito ruim”, aponta.

Crédito: Raíssa Morais

Mas muitos consumidores ainda apostam nas compras no centro. É o caso de Maria Lúcia, de 58 anos. “Eu faço exames aqui nas clínicas e desço para o centro. A gente aproveita e compra muita coisa boa e barata. Prefiro comprar no centro, que em lojas do shopping, que são muito mais caras”, finaliza. (L.A.)



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