Maria da Penha, da dor à lei.Veja a historia da mulher cuja vida mudou, mudou vidas.

Maria da Penha, da dor à lei.Veja a historia da mulher cuja vida mudou, mudou vidas.

A mulher cuja vida mudou, mudou vidas.Lei Maria da Penha | Divulgação
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Maria da Penha, da dor à lei

A mulher cuja vida mudou, mudou vidas. (Foto: Estadão Conteúdo)

Fortaleza, Ceará. Maio de 1983. Um casal, com três filhas pequenas, chega em casa. O marido é economista e professor universitário. A mulher, farmacêutica bioquímica com mestrado em parasitologia. Ela põe as crianças para dormir. Ele vai para a sala e liga a TV. Ela toma banho e vai se deitar. De repente, acorda com um tiro nas costas. Imediatamente pensa: "Acho que meu marido me matou". Desmaia. Quando recobra a consciência, vê muitas pessoas à sua volta. São os vizinhos. Assustados, enquanto esperam a ambulância, comentam que houve uma tentativa de assalto. O marido está na sala com o pijama rasgado e uma corda enrolada no pescoço. Por enquanto, só ela sabe que o homem - que sempre agrediu a ela e às crianças - está fazendo um teatro. Mais tarde as investigações vão provar que o marido foi o autor do disparo. Mas o terror não acabou naquela noite. Depois de várias cirurgias e meses de hospital, presa para o resto da vida a uma cadeira de rodas, ela sofrerá um segundo atentado dentro do banheiro da casa. O marido tentará eletrocutá-la. Não consegue, pois ela grita e a babá das filhas aparece.

O nome dele é Marco Antonio Heredia Viveros. O dela, Maria da Penha Maia Fernandes. Vinte e três anos depois do tiro nas costas, a mulher seria homenageada dando seu nome à Lei 11.340, assinada pelo presidente Lula, em 2006. A Lei Maria da Penha que responsabiliza autores de ameaças, agressões, assassinatos embaixo do guarda-chuva da violência doméstica. Mas Maria da Penha é uma entre uma multidão de outras que são submetidas à violência por parte de namorados, noivos, maridos, amantes atuais ou ex. O caso da farmacêutica demonstrou para a opinião pública que a violência doméstica ocorre em qualquer classe social e nível de escolaridade.

No Brasil, desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, o número de mulheres que discam o Ligue 180 - um SOS Mulher - cresceu 600%. A pergunta é: a violência encrudesceu, ou as mulheres estão denunciando mais? É a própria Maria da Penha quem responde: "Acho que a população está mais ciente de que existe uma lei para proteger as mulheres vítimas de violência." A ministra Eleonora Menicucci, titular da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), vai nessa mesma linha de raciocínio: "O aumento de denúncias significa que as mulheres estão acreditando mais nas políticas públicas. Estão acreditando que a impunidade do agressor está chegando ao fim."

A longa batalha

Após as duas tentativas de assassinato por parte do marido, Maria da Penha iniciou várias batalhas contra a impunidade de seu agressor. Mas as portas e os ouvidos das autoridades se fecharam, mesmo tendo Marco Heredia como único suspeito dos crimes. Um ano depois dos fatos, ele é detido. Alega inocência, é liberado. Apenas em 1991 ele vai ao tribunal e é condenado a 15 anos de prisão. Mas o julgamento é anulado. Fato parecido aconteceu no julgamento do jornalista Pimenta Neves - assassino confesso da ex-namorada e também jornalista Sandra Gomide. O Brasil inteiro viu pela TV que, apesar de condenado, Pimenta saiu livre para o conforto de sua casa. Finalmente, o réu teve seu último recurso negado pelo STF e cumpre pena de 15 anos.

Marco Heredia, em 1996, vai para um segundo julgamento. É condenado a dez anos e seis meses de reclusão, mas ganha o direito de recorrer em liberdade. Nesse tempo, tendo seu algoz solto, Maria da Penha segue engajada na luta por justiça. Ela escreve o livro Sobrevivi... Posso contar. Ganha aliados nos grupos organizados de feministas e de direitos humanos. Em agosto de 1998, sua denúncia chega à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Depois da análise dos fatos, a OEA adverte o Brasil. Claramente recomenda que Marco Antonio Heredia Viveros seja responsabilizado, sob pena do governo brasileiro ser declarado conivente com a violência contra a mulher.

Dezenove anos e cinco meses depois da tentativa de assassinato que a deixou paraplégica, Maria da Penha vê Heredia ser finalmente preso. Ele cumpriu menos de 1/3 da pena em regime fechado. Hoje está em liberdade condicional. Marco também escreveu um livro, no qual jura inocência. Igual inocência que jurou o goleiro Bruno quando do desaparecimento da ex-amante Elisa Samudio. O réu só confessou saber do assassinato de Elisa no último dia do julgamento. Na opinião de Maria da Penha: "Se a Lei que leva meu nome tivesse sido devidamente aplicada, talvez Elisa estivesse viva". É fato, a moça fez várias denúncias de ameaças e maus-tratos por parte do Bruno. Todas em vão.

Maria da Penha trabalha todos os dias para que a Lei 11.340 seja plenamente divulgada em todo o país e levada a sério pelos operadores de Justiça. Ela participa de encontros, reuniões, seminários. Sabe que sua história e seu nome são símbolos. Mais do que isso, eles são uma esperança para que outras mulheres vivam uma vida livre da violência. E que os agressores paguem. A impunidade dói tanto quanto as violências sofridas.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES