Neurocirurgião que salvou operário atingido por vergalhão vira “celebridade” instantânea

Vinte dias e pelo menos 25 cirurgias depois, o médico Ivan Sant’Ana ainda não se acostumou à fama repentina.

O cirurgião, de 65 anos, no Miguel Couto: “era um caso realmente incomum”. | JORGE WILLIAM / O GLOBO
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Assediado pela imprensa e por produtores de programas de TV, reconhecido nas ruas e alvo de brincadeiras de colegas que lhe pedem autógrafo quando cruzam com ele pelos corredores da emergência, o médico da equipe de neurocirurgiões do Hospital Miguel Couto brinca que já pegou até raiva do vergalhão e lembra que inusitado foi o fato, não o procedimento cirúrgico.

? Infelizmente, é comum atender operários com traumas em razão de acidentes em obras. Mas, alguém ser atingido por um vergalhão na cabeça e não sofrer grandes lesões, isso sim é inusitado ? afirmou o médico, que já cuidou de casos que parecem tirados de filmes de terror: ? A minha primeira cirurgia, após a residência, foi um desespero. Uma mulher que levou uma foiçada do marido na cabeça. E eu sozinho com a instrumentadora. Um horror. Padeci. Não lembro nem quantas horas durou a cirurgia, mas lembro que o maior problema era a quantidade de sangue ? disse o médico, de 65 anos, responsável pelos residentes do setor de Neurocirurgia do Miguel Couto.

Ivan conta que, no fatídico dia 15 em que o operário Eduardo Leite chegou à emergência com o vergalhão atravessado no crânio, a equipe havia acabado de operar uma mulher de 38 anos em estado gravíssimo, vítima da violência do marido, quando chegou a notícia de que um homem com ?um ferro na cabeça? tinha acabado de dar entrada.

? Era um caso realmente incomum, que, claro, atraiu a atenção de todos, inclusive dos residentes. Mas os exames mostraram que se tratava de um sujeito de sorte ? disse.

Segundo ele, uma reunião de alguns minutos foi suficiente para que a equipe definisse um plano de ação para a cirurgia que durou cerca de cinco horas:

? Hoje (quarta-feira), passamos três horas discutindo três cirurgias que faremos para a retirada de um câncer. Uma delas será feita pela doutora Mariângela Gonçalves. Vou chegar mais cedo para auxiliá-la. Aliás, auxiliar esses jovens é o que mais gosto de fazer hoje ? comentou, orgulhoso, apontando para uma das jovens médicas do hospital.

De família humilde, ele abre um largo sorriso quando perguntado se era um residente chato, do tipo que cola no cirurgião para participar das operações:

? Claro. E devo ter dado pernada em um ou outro colega para ficar com a cirurgia, talvez, não lembro.

A cirurgia mais longa de Ivan ocorreu no Instituto Nacional do Câncer. Ela durou três dias e foi feita em três etapas. Para ele, as mais difíceis são de casos de câncer ou aneurismas:

? No caso do aneurisma, existe sempre o risco de estourar. Graças a Deus, isso é cada vez mais raro. As cirurgias de câncer são muito complexas também. É o caso de um paciente de Belford Roxo que vamos operar amanhã (quinta-feira). Há seis meses, ele vinha sofrendo com dores de cabeça, aguardando tratamento, até que o lado direito dele paralisou.

? Já acabou a entrevista? Preciso trabalhar ? disse, para em seguida atender outro operário ferido na cabeça ontem numa obra perto dali.

Perguntado se sabia que o médico era o mesmo que atendera dias antes um colega seu de profissão, o rapaz ferido, que não quis se identificar, afirmou:

? Que bom. Então sei que estou em boas mãos.



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