Pandemia reforça importância da saúde emocional de policiais

Profissionais que estão na linha de frente, como policiais, vivem momentos de estresse e responsabilidade maior diante da pandemia

Na linha de frente da pandemia os policiais devem cuidar do emocional | Efrem Ribeiro
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No último domingo, dia 28 de março, um soldado da Polícia Militar da Bahia identificado como Wesley Soares, morreu após ser baleado por outros militares depois de sofrer um surto psicótico. Ele gritava palavras de ordem e disparou dezenas de vezes para o alto, no Farol da Barra, em Salvador. Acabou atingido por disparos, após quase quatro horas de negociação com equipes especializadas da PM. Wesley faleceu no hospital.

O caso traz à tona uma discussão a respeito da saúde emocional dos agentes de segurança pública, principalmente, em meio a uma pandemia. 

Desde março de 2020, enquanto diversos setores foram descontinuados e outros passaram a trabalhar de forma remota, os profissionais da segurança pública continuam nas ruas trabalhando e sendo expostos ao vírus. Pensar em estratégias e políticas de saúde mental é essencial para esses agentes.

Considerados como trabalhadores essenciais desde o início da pandemia, os profissionais de segurança pública permanecem em alta exposição ao vírus e convivendo com o medo de se contaminar e contaminar os seus familiares. Neste contexto, o suporte emocional se faz essencial.

Cuidar da saúde mental do policiais é necessário, também na pandemia/José Alves Filho

Para o psicólogo José Augusto, especialista em saúde mental, algumas emoções precisam ser consideradas parte do processo, como ansiedade, angústia, tristeza, medo, raiva, sensação de perda de controle ou irritabilidade. Essas manifestações são perfeitamente esperadas e precisam ser elaboradas. Porém, se interferirem na execução de tarefas pessoais ou profissionais, deve-se buscar ajuda psicológica e médica, se necessário.

“O suporte emocional é importantíssimo não só para os profissionais da segurança pública, mas para todos os profissionais que estão na linha de frente. Esses profissionais, além de mais expostos, estão convivendo com o medo de se contaminar e de contaminar os familiares. Também, exercem atividades laborais extremamente estressantes, e agora, com a pandemia essa relação emocional, tornou-se mais importante”, diz o especialista.

Segundo ele, muitos lidam com situações do cotidiano, naturalmente estressantes, como aplicações de medidas sanitárias, muitas vezes, guardas municipais, polícias militares, polícia civil, são submetidos a um controle de decretos, como situações de fechamento de atividades clandestinas, de aglomerações, de festas. E ainda precisam aguentar uma carga de crítica da sociedade, de quem não quer seguir os protocolos sanitários.

 “Esses profissionais recebem toda essa carga emocional negativa. Caso não esteja preparado, emocionalmente e psicologicamente, isso pode gerar um conflito maior do que o esperado, daí a importância de se trabalhar com suporte emocional para esses agentes”, disse.

Autocuidado também faz parte do cotidiano

Para encarar a situação da melhor maneira possível é importante o autocuidado. Dessa forma, você cuida, também, do outro. É preciso refletir e compreender sobre os impactos da pandemia na saúde emocional. José Augusto lembra que além do fato de ser atividades mais estressantes, o Brasil enfrenta um problema de maior intolerância, violência, maior desigualdade social e a pandemia intensificou todos estes problemas. 

Os agentes de segurança, além de ter ainda uma maior responsabilidade com seu dever, têm que lidar com as questões de cumprimento de medidas de segurança, toque de recolher, lockdown, fechamento de atividades comerciais, acumulando novas responsabilidades que trouxeram a eles um conflito maior, principalmente, com a população em geral.

“Vale a pena ressaltar que não adianta só a gente culpar os profissionais de segurança quando ocorre um conflito, muitas vezes, a população precisa colaborar.  Eles estão cumprindo o seu dever, e ao  se exceder, seja de um lado ou de outro, isso vai ser apurado da maneira correta. Tenho certeza que eles não têm intenção de machucar o trabalhador, prejudicar, mas orientar e manter a ordem. Tudo é passível de ponderação, de negociação de acordo, da tentativa de seguir um protocolo que evite as vias de fato, que evite um conflito. Uma das maiores consequências que veio para os profissionais de segurança foi a necessidade de um maior controle”, acrescentou.

A vacina traz alívio esegurança aos policiais/Diulgação Governo do Estado do PI

Garantia de vacinas traz maior alívio

O Piauí iniciou, na última segunda-feira (5), a vacinação de profissionais da segurança pública contra a Covid-19. Segundo o Governo do Estado, 6% do grupo de segurança e salvamento, que estão na linha de frente do enfrentamento à doença, deverão participar desta fase de imunização, totalizando 3 mil profissionais. Serão vacinados policiais militares, bombeiros e policiais civis que estão atuando na linha de frente de combate à Covid, em barreiras sanitárias, patrulhamento e nas delegacias da capital e do interior.

Segundo o comandante da Polícia Militar de Piauí, coronel Lindomar Castilho, o início da vacinação chega em boa hora, porque os policiais militares têm uma das classes mais afetada, diretamente com a covid, por ser uma categoria que não pode realmente estar fora do trabalho diário das ruas. É o patrulhamento, prevenção e repressão do crime, além de envolver a fiscalização das medidas sanitárias que são próprias nesse momento em todo estado.

“A vacinação chega em um bom momento, porque o policial é formado e aprende técnicas de abordagem, de defesa,  prática de tiro, defesa de tiro. Ele tem toda uma qualificação para poder se defender da marginalidade e do crime, mas agora nós estamos lidando com outra situação, que é no combate ao vírus. Por ser um elemento invisível, o policial não tem todas as ferramentas para se defender. A melhor ferramenta de fato é a vacina. O policial tem que estar imunizado para continuar nessa labuta, na defesa da sociedade e na fiscalização das medidas sanitárias que o estado decreta”, enfatizou.

José Augusto endossa que a vacina traz uma garantia maior para esses profissionais sim.  “Acreditamos que todos os que têm a oportunidade de se vacinar, tem essa certa sensação de alívio, mas sempre lembrando que as medidas de segurança devem ser mantidas, como uso do álcool gel, a máscara e todos os outros protocolos de higienização. Pelo fato dos profissionais de segurança pública estarem mais expostos, terem contato com aglomerações, a fim de cumprir os decretos determinados, essa vacinação traz certo alívio para a segurança de que esse policial, no exercício do seu dever, não vai ser acometido pela covid-19”, avalia.(W.B)

Policiais estão na linha de frente da pandemia/Efrem Ribeiro

Saúde emocional é prioridade para os agentes

O comandante da Polícia Militar de Piauí, coronel Lindomar Castilho, acrescentou ainda que a PM conta no Piauí com um setor que cuida da saúde psicossocial do policial. O Centro de Atendimento Integral à Saúde do Policial (Cais), presta atendimento não só ao policial militar, mas também à família dele. No caso de um filho ou da esposa ou parente mais próximo necessitar, também, desse apoio por meio de um psicólogo, assistente social, ou terapeuta, a equipe do Cais vai até a residência do policial e presta o atendimento, aconselhamento, encaminhamento.

“Esse é um centro realmente importante que nós temos aqui dedicado para saúde psicossocial do policial, que tem trazido excelentes resultados ao longo do seu trabalho, sendo agregado ao Hospital da Polícia Militar do Piauí (HPM), prestando ajuda aos nossos policiais militares”, destacou.

O coronel ressaltou ainda que desde o início da pandemia foram adotados todos os cuidados sanitários para os policiais, como fornecimento de máscaras, álcool em gel, até a sanitização de viaturas e dos quartéis.

“São medidas realmente que temos adotado para que policial possa de algum modo se sentir mais seguro. Também estamos adotando um rodízio nas escalas, antes da pandemia, os policiais trabalhavam no ritmo de 12h por 36h, indo com mais frequência ao trabalho. Nós ampliamos essa jornada para 24h e ele passam três dias no repouso. É uma forma de afastar um pouco mais do dia a dia nas ruas. Essas são algumas das medidas que estamos adotando e observando tudo aquilo que é recomendado pela OMS para trazer para os quartéis”, finaliza.(W.B)



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