Parada Gay acontece hoje em Teresina e reunirá mais de 100 mil pessoas; saiba

Símbolo de luta justa dos homossexuais por direitos iguais, a Parada da Diversidade acontece hoje em Teresina.

Parada Gay acontece hoje em Teresina | Reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Hoje a 12ª Parada da Diversidade de Teresina vai reunir uma riqueza de diferenças distribuídas em mais de 100.000 pessoas. O brilho da festa com show da cantora Daniela Mercury atrai um grande número de pessoas, muitas das quais desconhecem ou não dão importância ao lado engajado do evento.

Nesta miscelânea, é muito discutido se a magnitude da comemoração ofusca a luta por direitos. A relevância do evento não envolve apenas o movimento LGBT, mas toda a sociedade. Afinal, neste espaço da diversidade várias tribos e bandeiras são acolhidos numa grande festa.

O doutor em Ciências Sociais, professor Fabiano Gontijo, analisa que as paradas são rituais, por isso sempre têm uma conotação política que vai além da diversão.

?As paradas são rituais, assim como o Carnaval é um conjunto de situações ritualizadas, e também servem como momentos para pensar, viver e experimentar o que nos torna membros de determinadas comunidades e o que nos torna ?mesmos? ou ?outros? em relação a outras comunidades.

Logo, o ritual, qualquer que seja ele, é muito mais do que ?diversão?, sempre é politico, pois lida com agência de sujeitos e com o poder de produzir ou não vínculos e pertencimento?, declara.

Segundo ele, a discussão em torno da necessidade das paradas se dá pelo fato de elas não serem movimentos sociais tradicionais. ?A questão é que as paradas não são movimentos sociais ?clássicos?, do tipo daqueles que reivindicavam direitos de classes pela via da redistribuição?, observa Gontijo.

Vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-PI, Tiago Iglesias, avalia que ações como a parada contribuem para o fortalecimento dos direitos já conquistados e dar visibilidade para reivindicação de novos direitos para combater a homofobia. Segundo ele já houve avanços significativos , mas como o reconhecimento pelo STF da união homoafetiva.

?O retrocesso hoje pode ser visto de forma proporcional ao reconhecimento dos direitos LGBT, pois conforme essa população seja reconhecida com seus direitos, grupos conservadores, intolerantes e muitos religiosos tentam a todo custo barrar esses direitos e agredir essa população, sempre se manifestando de forma contrária a esses direitos?, declara, ressaltando a necessidade de a comunidade gay se organizar e lutar por direitos.

À frente da organização o Grupo Matizes, um importante articulador do movimento, Marinalva Santana, participou de todas as doze edições da Parada da Diversidade em Teresina. Ela pondera que mais que diversão a Parada da Diversidade traz irreverência à cidade, mostrando que a luta pela igualdade de direitos é o principal objetivo.

?Nós, como organização da Parada, fazemos um esforço hercúleo para que ela não se transforme na festa pela festa.

Para nós, a parada é uma manifestação com viés político, reivindacatório, muito forte. Esse deve ser o principal traço do evento. Mas o legal é que fazemos isso com leveza e irreverência. Agora, infelizmente, há pessoas (LGBT, inclusive) que não conseguem perceber a Parada como uma mainfestação política, de caráter reivindicatório?, observa Marinalva.

Juventude (pre) parada

O público jovem tem se mostrado cada vez mais atuante levando irreverência e criatividade nas Paradas. As Angels por exemplo é um grupo de estudantes de moda que sempre se prontifica a estar na linha de frente em várias manifestações que acontecem na cidade.

Com muita irreverência e descontração Abraão Vasconcelos, Rafael Lopèz e Clodoaldo Junyor, o Clô, estão preparados com as perfomances mais inusitadas para arrasar, como os próprios dizem.

?Como Angels, lutamos pela quebra de preconceitos e estereótipos. Temos isso em nós. Não é pq vestimos uma peruca que somos Drag Queens, mas se fôssemos não seria vergonha alguma. Usamos essa ferramenta como um meio de nos divertirmos e para que tenhamos visibilidade.?, explica Abraão.

Rafael complementa: ?É mais que fantasiar-se!?. E Clô observa que é preciso mais força para conseguir total liberdade. ?Ser quem devemos ser, ser uma linda mulher de barbas ou um lindo homem de saia?, diz Clodoaldo.

Outra forma de manifestação se dá através do movimento pró-saia que surgiu no seio da Executiva Nacional de Comunioação Social (ENECOS). Tudo começou quando Lucas Fortuna foi coagido por estar usando saia num dos encontros da Executiva. Ano passado Lucas foi morto por homofobia.

Para o integrante da ENECOS, Jader Damasceno, o fato de usar uma saia é para mostrar que assim como o vestuário não serve para pré-julgar pessoas, a sexualidade também não é critério para discriminar pessoas. ?A saia simboliza a quebra de barreiras e de preconceito?, destaca.

Para além da parada homossexual

A 1ª Parada foi realizada em 28 de junho de 2002. Naquela época, o Matizes ? que organiza o evento - tinha sido fundado há um mês. Marinalva considera que a Parada é uma das muitas manifestações dos LGBT bna luta por direitos.

?As Paradas são um momento importante de visibilidade das bandeiras do movimento LGBT. Mas o movimento está para além das Paradas. Em Teresina, por exemplo, nós do Matizes organizamos a Parada, mas temos o ano todo de intensas atividades?, observa.

Um outro segmento do movimento gay, que aos poucos vem se destacando na luta por direitos, são os travestis e transexuais. Maria Laura dos Reis, representante do Centro de Referência para Promoção da Cidadania LGBT Raimundo Pereira, informa que desde 2009 o Grupo Piauiense de Transexuais e Travestis (GPTRANS) atua na parada.

Quanto à questão da alienação das pessoas sobre as reivindicações do movimento ela avalia que o viés político nunca foi abandonado. ?Aqui em Teresina, acho que esse foco nunca foi perdido, pois não temos go go boys, ou essas situações que levem à vulgarização da Parada.

Temos sempre cartazes, faixas, protestos e revindicações. As pessoas falam muitas vezes da nudez das trans, mais para nós é uma forma de expressar que devemos ser respeitada como somos, nudez de protesto e não de vulgaridade, mais infelizmente as pessoas tendem a sexualizar as situações?, expõe.

Marinalva relata que já houve discussões internas no Matizes sobre a necessidade de continuar organizando Paradas. ?Existem capitais em que os grupos não realizarão parada este ano.O ano de 2014, por exemplo, é muito complicado pra realizar, por conta das eleições gerais.

Não se assuste se realizarmos somente a Semana do Orgulho de Ser que é pra nós é uma das ações mais importantes do Matizes. A Parada é somente uma das atividades que integram a programação da semana?, diz.

Apesar disso, Marinalva reconhece a Parada como uma arena para todas as tribos e conta com a participação de vários setores. ?Este ano, mais uma vez, a Parada será aberta por mulheres cadeirantes. Temos também b o apoio de mulheres cadeiras autônomas. Outra coisa importante é a expressiva a participação da juventude e também de famílias muitos pais com suas crianças?, afirma.

Diversidade inclui heterossexualidade

A participação dos heterossexuais dentro da parada não se restringe a aproveitar a festividade. A jornalista e professora de Ética da UFPI, Sarah Fontenelle, afirma que vai ao evento com seu namorado, Diego, sobretudo para manifestar-se por esta causa que impacta toda a sociedade.

? É importante, sim, todas as parcelas da população agarrarem esta bandeira, mesmo não considerando-se gay, porque a luta no combate à opressões é tangente à toda população. Sobretudo, se conseguimos resgatar nestes movimentos a perspectiva de classe?, explica Sarah, acrescentando que a mesma lógica machista que oprime gays é a mesma que coage as mulheres.

Déreck Moaraes é heterossexual e ?particularmente não vou pela festa, apesar de acreditar que todas as formas de reafirmação diante da opressão são válidas, vejo nos espaços de promoção e reflexão política direta mais incisivos no processo de formação da consciência dos próprios homossexuais e militantes LGBT?.

Ele também participa do movimento pró-saia e ajuda na construção de outros espaços que combatem as opressões contra minorias. ?Participo dos espaços não só contra a homofobia, sendo hetero, mas também de movimentos feministas, sendo homem, pois acredito que eliminar todas as formas de opressão e desrespeito é uma luta de toda a sociedade?.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES