Piauiense, lavador de carros passa na OAB antes de se formar no curso de Direito

Dias lembra que tudo começou quando foi pedir um real emprestado a um vizinho de uma oficina

Flavio Dias da Silva é natural de Floriano | Divulgação
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Quem conhece Flavio Dias da Silva hoje, nem imagina que ele é um exemplo de superação. O piauiense de Floriano, cidade a 250 de Teresina, chegou a Brasília há 18 anos, desempregado e com a esperança de mudar de vida. E conseguiu. Hoje, aos 36 anos, ele, que lavou carros por vários anos, obteve aprovação no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) antes mesmo da formatura no curso de Direito, que acontecerá no final deste ano e foi considerada uma grande vitória.

A mudança de cidade começou em 1996, a namorada de Flavio ficou grávida. Prevendo o aumento das despesas, a necessidade de ter um emprego foi o fez querer mudar de cidade. Filho de pais separados, o piauiense veio sozinho a Brasília para morar com o pai, que já residia na capital federal. Não tão presente na vida do filho no início, Dias faz questão de dizer que nunca faltou assistência material. O garoto foi morar com a avó paterna aos cinco anos.

Dias lembra que tudo começou quando foi pedir um real emprestado a um vizinho de uma oficina. Ele ressaltou que esperava seu pai e que quando ele chegasse, devolveria o dinheiro. Mas a reação do vizinho foi inesperada.

?Ele me deu uma bronca, dizendo que eu era maior de idade e que não poderia depender do meu pai. Falou que era pra eu arrumar um carro pra lavar, um lote pra capinar, coisas assim. Aquilo mexeu comigo?.

Dias, que já tinha trabalhado como balconista em uma padaria e em um bar e também como garçom, se lembrou de um rapaz que lavava carros perto de sua casa. Eles começaram a trabalhar juntos e dividiram os lucros. Em seguida, começou a trabalhar vigiando carros, próximo ao Cartório do 5º Oficio de notas, em Taguatinga (DF), até encontrar um antigo cliente. Ele se ofereceu para lavar o carro dele e ganhou várias indicações.

?Foi um efeito dominó! Ele indicou amigos que também indicavam pessoas e comecei a lavar vários carros?.

Pergunta incentivadora

A relação comercial também passou ao nível da amizade com alguns funcionários do cartório, incluindo o dono do Cartório. Com a renda que iniciou em torno de R$ 600 e chegou até os R$ 2.000 por mês lavando carros, um dia o lavador de carros se surpreendeu com o questionamento de seu filho mais novo, fruto de um casamento em Brasília, ao levá-lo à creche.

?As outras crianças chegavam de carro e ele queria isso também. Esse foi o pontapé pra que eu recomeçasse os estudos?.

Com o incentivo da mãe e de outras pessoas próximas, ele prestou vestibular para os cursos de Direito, como primeira opção, e Pedagogia, segunda opção, em uma faculdade particular de Brasília. Passou em Direito na primeira chamada e, após explicar sua situação, ganhou bolsa integral. A escolha dos cursos veio da influência do dono do 5º Cartório e amigo, formado em direito, e da mãe, professora aposentada pelo estado do Piauí.

?Eles, sem dúvida, foram minhas inspirações?.

Inspiração que deve ter tocado ao dono do cartório que, além de cliente e amigo, passou a ser ?patrão? de verdade. Começando pela área da limpeza, Flavio também passou pela segurança do cartório, até chegar ao cargo de auxiliar notarial, função que exerce hoje e lhe rende um salário por volta de R$ 1.500,00.

Flavio diz que a sua história pode servir para outras pessoas, sim. Incluindo seus filhos. Ele continua lavando carro às vezes pra complementar sua renda. O serviço executado aos sábados lhe rende cerca de R$ 400. Ele ainda brinca que o trabalho também serve para queimar calorias e diz que dá pra contar nos dedos as pessoas bem sucedidas que lavam seus carros.

?Pra fazer isso, tem que gostar bastante. Eu alivio o estresse e ainda complemento a renda?.

Aprovação na OAB

Com formatura prevista para o final de 2014, o auxiliar notarial resolveu fazer a prova da OAB. Com rotina dividida entre estudos da faculdade, ele diz que a dedicação dentro das aulas mais os estudos em casa, quando conseguia tempo, foram suficientes. Na primeira fase, ele disse que não teve gastos extras nos estudos.

Quando descobriu a aprovação na primeira fase, resolveu focar de vez e pagou um cursinho online para a prova. Com êxito em mais uma fase, ele poderá pegar o certificado da OAB, já que o edital da prova diz que o aluno que está no nono e décimo semestres tem esse direito. A sensação da aprovação foi de felicidade e descrita de maneira única:

?Imagina você ganhar sozinho um prêmio da loteria. Imaginou? Foi assim que eu me senti?.

Futuro na profissão

Seus planos para o Direito são, inicialmente, atuar na área. O auxiliar diz que pensa em fazer uma especialização e quem sabe até dar aula e presentear a mãe, professora aposentada, com essa homenagem.

?Ela diz que morreria feliz se visse um filho dela dando uma aula. Pretendo realizar isso e, quem sabe, até prestar algum concurso?.

Hoje, além do carro que o filho tanto queria para ir à creche, Flavio mora em Taguatinga e possui uma casa financiada em Águas Lindas, no Entorno do Distrito Federal.



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