Por que a Itália virou um “exemplo de superação” no combate à pandemia

As mortes diárias, especialmente na Lombardia, a região no Norte que mais sofreu o impacto da pandemia, estão por volta de zero

Itália | Reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Assim que o surto do novo coronavírus começou na Europa, a Itália foi o epicentro da pandemia, um lugar para ser evitado, uma espécie de forma reduzida dos Estados Unidos e Brasil atual e uma grande representação do contágio descontrolado no continente europeu.

Atualmente, no continente, a Espanha registrou surtos em algumas regiões. O Reino Unido adiou a nova fase de desconfinamento e impôs mais restrições. E até a Alemanha, elogiada pela sua atuação contra a pandemia, afirmou que o comportamento negligente está provocando um aumento de casos.

Itália está superando a pandemia (Foto: Reuters)

Mas e a Itália? Os hospitais do país basicamente não têm mais pacientes com Covid-19. As mortes diárias, especialmente na Lombardia, a região no Norte que mais sofreu o impacto da pandemia, estão por volta de zero. O número de novos casos diários caiu para “um dos mais baixos da Europa e do mundo”, disse Giovanni Rezza, diretor do departamento de doenças infecciosas do Instituto Nacional de Saúde.

“Temos sido muito prudentes”, avaliou Rezza. Após um início complicado, a Itália consolidou, ou pelo menos manteve, as recompensas de uma rigorosa quarentena por meio de uma mistura de vigilância com a dolorosa experiência médica adquirida.

O governo tem sido orientado por comitês científicos e técnicos. Médicos, hospitais e autoridades de saúde locais coletam diariamente mais de 20 indicadores sobre o vírus e os enviam para as autoridades regionais, que os encaminham ao Instituto Nacional de Saúde.

O resultado disso é um raio-x semanal da situação da saúde no país, no qual se baseiam as decisões políticas. O cenário atual está muito longe dos momentos de pânico e do colapso que atingiu a Itália em março. O Parlamento prorrogou o estado de emergência do país até 15 de outubro, depois que o primeiro-ministro Giuseppe Conte argumentou que o país não podia baixar a guarda “porque o vírus ainda está circulando”.

Esses poderes permitem ao governo manter as restrições em vigor e responder rapidamente — inclusive com quarentenas — a qualquer novo problema. O governo já impôs restrições de viagem a mais de uma dúzia de países, já que a importação do vírus de outros lugares é hoje o maior medo.

“Estão surgindo novos casos na França, na Espanha e nos Bálcãs, o que significa que o vírus não sumiu totalmente”, disse Ranieri Guerra, diretor-geral-assistente de iniciativas estratégicas da Organização Mundial de Saúde e médico italiano. “O vírus pode voltar a qualquer momento”.

Não há dúvida de que a quarentena teve um custo para a economia. Durante três meses, empresas e restaurantes foram fechados, o movimento foi altamente restrito — mesmo entre regiões, cidades e até ruas — e o turismo parou. Espera-se que a Itália perca cerca de 10% de seu PIB este ano.

Mas, a certa altura, quando o vírus ameaçou se espalhar incontrolavelmente, as autoridades italianas decidiram pôr vidas à frente da economia. “A saúde do povo italiano vem e sempre virá em primeiro lugar”, disse Conte à época.

A estratégia de adotar uma quarentena rigoroso trouxe críticas de que a excessiva cautela do governo estava paralisando a economia. Mas pode revelar-se mais vantajosa do que tentar retomar as atividades econômicas enquanto o vírus ainda permanece forte, como está acontecendo em países como Estados Unidos, México e Brasil.

Isso não significa que os pedidos para manter os cuidados, como em outras partes do mundo, tenham sido imunes a piadas, resistência e irritação. Muitas vezes, as máscaras são abaixadas ou simplesmente não estão sendo usadas em trens ou ônibus, onde são obrigatórias. Os jovens estão saindo e fazendo o que jovens fazem — correndo risco de espalhar o vírus para a população mais suscetível. Os adultos começaram a se reunir na praia e nos churrascos de aniversário e ainda não há um plano claro de retorno às aulas, o que ocorrerá em setembro.

Há também um movimento antimáscaras motivado politicamente e liderado pelo ultranacionalista Matteo Salvini, que em 27 de julho declarou que se cumprimentar com os cotovelos, ao invés de apertos de mãos e abraços, era “o fim da espécie humana”.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES