Blogueiro que tirou Twitter do ar fala sobre medo depois da fama

Georgii Jakhaya tem 34 anos e é um professor universitário nascido na cidade de Sukhumi

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Pouco mais de uma semana atrás, boa parte do mundo virtual parou. Após um violento ataque que tinha como alvo um único blogueiro, serviços como o Twitter, LiveJournal e Facebook ficaram indisponíveis. ?Cyxymu? ? forma adotada em alfabeto latino para escrever o nome da cidade Sukhumi, originalmente em cirílico ? é o nome do alvo principal.

Os sites sofreram ataques de negação de serviço (Distributed Denial of Service, ou DDoS), realizados quando pessoas mal-intencionadas querem sobrecarregar um serviço, para tirá-lo do ar. Em entrevista exclusiva ao G1, o alvo dos ataques contou um pouco da vida na Geórgia e de como está lidando com a repentina ?fama?.

Georgii Jakhaya tem 34 anos e é um professor universitário nascido na cidade de Sukhumi, capital da Abkházia, território disputado com a Rússia, basicamente, nos mesmos moldes da Ossétia do Sul. Após a guerra com a Rússia, de 1992 a 1993, ele se viu obrigado a fugir para Tbilisi, capital da Geórgia, onde mora até hoje, como refugiado de guerra.

Jakhaya é alvo frequente de ataques, por manter uma série de blogs e perfis onde divulga sua posição pró-Geórgia e contra a ?invasão? russa a seu país. Mas, após ter, involuntariamente, causado a queda de gigantes da web, finalmente ganhou a fama e a voz para espalhar sua mensagem.

Até mesmo o poderoso Google comprou sua briga. Um dos gerentes do Blogger ? serviço que também foi afetado pelo ataque --, Rick Klau postou em sua página uma mensagem direta a Jakhaya. ?O Google colaborou com outros serviços para repelir esse ataque. Nós esperamos que todos os governos e companhias possam reconhecer essas ameaças à liberdade de expressão e que possam ajudar a internet a continuar sendo um refúgio seguro para dissidentes?.

De fato, o próprio ?Cyxymu? postou uma carta pedindo providências imediatas no blog que Dimitri Medvedev, o presidente da Rússia que Jakhaya culpa pelos ataques, mantém na internet. ?Peço ao senhor que dê uma missão aos seus especialistas de segurança, que é a de achar os organizadores e realizadores desses ataques e punir exemplarmente. O senhor é apaixonado por internet, então espero que o senhor entenda como é importante manter a imagem da Rússia após este ataque sujo?.

Confira a íntegra da entrevista.

G1 - Primeiro, gostaria de pedir para você se apresentar para nossos leitores. Quem é Cyxymu?

Cyxymu - Eu sou Georgii, nasci em Sukhumi, capital da Abkházia, e 18 anos atrás me tornei refugiado, largando minha cidade natal. Hoje trabalho na Universidade Estatal de Sukhumi, que hoje localiza-se em Tbilisi, capital da Geórgia.

Inicialmente, criei o blog para estabelecer um diálogo com os moradores que ficaram na Abkházia. Mas, durante a última guerra entre Rússia e Geórgia, tive que assumir a função de ?meio de comunicação de massa?, uma vez que os sites georgianos, estatais e particulares, permaneceram sob violento ataque DDoS durante todo o tempo, não podendo, assim, cumprir suas funções. Enfim, deste modo, todos os georgianos no LiveJournal se tornaram as únicas fontes de informação vinda da Geórgia.

G1 - Cyxymu atua só no cyberespaço ou também age no mundo real?

Cyxymu - Bom, como te dizer isso? Você está vendo que sou real. Tenho uma família, esposa e dois filhos. E eles também estão absolutamente em pânico após esse último ataque?

G1 - Em sua opinião, o que aconteceu na semana passada? Ha alguma investigação em curso ou prováveis suspeitos?

Cyxymu - O que aconteceu? Bom, eles estavam de olho em mim. E, por minha causa, três dos maiores serviços de comunicação pessoal da internet foram ?DDoSados?. E milhões de pessoas não conseguiram se comunicar no mundo virtual. E, apesar de tudo, eu me sinto muito culpado pelo enorme transtorno. Afinal, por minha causa, muita coisa importante deixou de ser feita, muito incômodo foi causado?

G1 - Sua vida mudou depois de adquirir essa inesperada fama mundial?

Cyxymu - Mudou, é lógico. Agora todo o mundo sabe quem eu sou, os meios de comunicação, jornais, enfim, todos me ligam, fazem entrevistas, querem saber tudo. Isso é interessante, mas cansa, depois de um tempo. Aqui na Geórgia, ainda bem, poucos sabem que eu sou ?Cyxymu?. E eu até dei uma entrevista, uma vez, para um de nossos canais, o ?Rustavi 2?, mas sentei de costas para a câmera e não mostrei meu rosto, é lógico.

G1 - Você, naturalmente, sabe o que pode acontecer com quem manifesta ideias contrarias a Rússia. Você vai continuar sua luta apos o ataque? Tem medo?

Cyxymu - Claro! Só idiotas completos não teriam medo! Mas tenho consciência de que não estou fazendo nada ilegal, fora da lei. Apenas estou expressando o meu ponto de vista. Mas, se isso for crime, bom?

G1 - Aliás, como está a vida na Geórgia? Muita coisa mudou após o último conflito com a Rússia?

Cyxymu - A princípio, nada mudou, em nada se diferencia daquela vida que levávamos antes da primeira guerra. A grande alteração na nossa rotina foi o aparecimento de mais de 20 mil pessoas que não podem, hoje em dia, voltar para suas casas. Há também a crise no país, as obras foram paralisadas? Mas a vida continua. Nós estamos construindo uma democracia, apesar de tudo.

G1 - Na imprensa ocidental, sempre lemos sobre um "ódio" da Geórgia com relação à Rússia. É verdade?

Cyxymu - Eu não diria que há um ódio. Mas é claro que cada um tem sua opinião. Eu diria que há uma reação muito negativa ao poder na Rússia, que está ocupando um pedaço de nosso território.

G1 - No Brasil, temos muitos imigrantes georgianos e armênios. Tem conhecimento de algum tipo de apoio dos que vivem na América do Sul ou da diáspora pelo mundo?

Cyxymu - Sobre o Brasil e o que vem de vocês, eu sei pouco, ou não sei nada. Mas a diáspora, os georgianos e nossos amigos que vivem no exterior, esses nos apóiam fortemente. Eles, para começo de conversa, foram às ruas e protestaram em frente às embaixadas da Rússia por todo o mundo.

G1 - Você conhece muita coisa sobre o Cáucaso e sua história. Há alguma esperança de convivência pacifica na região?

Cyxymu - Não sei, duvido, mas não sei mesmo. Acho que pode haver paz, haverá paz. Mas boas relações de todos com todos, é muito improvável, inverossímil. Por exemplo, uma relação pacífica entre Armênia e Azerbaijão não seria nada simples de se construir.

G1 - E, por fim, o que você diria aos usuários do Facebook, Twitter, LiveJournal e etc. que sofreram com o ataque e que criticaram ou defenderam sua posição?

Cyxymu - Bom, eu gostaria muito de pedir desculpas, perante todos. Eles me ?DDoSsaram? e por isso ninguém pôde utilizar nada? E gostaria também de agradecer a todo o apoio que, inesperadamente, eu acabei recebendo. Blogueiro que tirou Twitter do ar fala sobre medo depois da fama



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