Com vida útil pequena, consumo de aparelho celular explode no mercado; veja!

Os telefones celulares são trocados frequentemente, mas cuidados devem ser tomados para que esse consumo não atrapalhe a vida econômica ou social

Consumidores trocam de aparelhos constantemente | Reprodução
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A cada toque uma descoberta, a ótica do mundo é ampliada. Obtê-lo já não é apenas uma ação cotidiana, passa a ser uma missão e a cada passo se transforma em um sonho de consumo.

Sua conquista é galgada permanentemente, despede-se do velho e alcança o novo. Com todo desprendimento joga no lixo o antigo companheiro e o escolhido da vez faz sucesso, mas não o manterá para sempre. Ao chegar da nova atualização, será a próxima vítima, de uma sociedade fissurada por tecnologia.

O troca-troca de aparelhos eletrônicos, principalmente celulares, abarca grande parte do mercado brasileiro. A vida útil desses objetos é cada vez menor e a sua ?morte? é decretada a cada novo lançamento, as perspectivas de crescimento nas vendas pipocam as opções. Ninguém quer ficar de fora do universo dos aplicativos e sistemas operacionais mais modernos. É quase um dever social.

Hivana Fonseca, psicóloga, insere as diretrizes sobre esta necessidade e como a cobrança do meio pode influenciar na predominante tendência suplantada no seio da sociedade em geral.

?A sociedade atual tem criado mais e mais necessidades de consumo de bens diversos, como os aparelhos eletrônicos, dentre eles o celular. As pessoas sempre tentarão suprir aquilo que percebem como necessidade, seja uma necessidade fisiológica como a fome, afetiva, como a atenção, ou de consumo, como o celular?, diz.

Para Fonseca, a lógica capitalista pode explicar tal orientação, à medida que toma para si ações ousadas de marketing e estímulo do consumo. ?Diante do avanço continuado da tecnologia, todos os dias são lançados novos modelos, com novas funcionalidades que atraem a atenção de todos, gerando necessidades que antes não existiam e que têm um objetivo claro: vender?, analisa.

Ela também volta para o desejo de estar sempre conectado às redes sociais. ?As pessoas, de modo geral, irão então trocar de celular constantemente numa tentativa de suprir a ?necessidade? que lhe foi imposta.

Vale destacar que os celulares não serão puramente ?a necessidade?, mas também serão meios de atendimento de outras, como participação nas redes sociais, acesso a informação, comunicação mais rápida com outras pessoas ou o acesso a aplicativos que tenham sejam socialmente atraentes ou colocados como necessários à vida social e a própria aceitação das pessoas.

Atualmente, boa parte das pessoas muda de celular não por que os que têm não funcionam, mas porque ?precisam? de um celular com mais funcionalidades, que atendam as necessidades que a sociedade capitalista criou e psicológico que será minimizado pela satisfação da compra?, vislumbra a psicóloga.

Embasando-se nesta perspectiva, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Market Analysis, especializado em pesquisas de opinião, divulgaram um estudo inédito sobre o comportamento do consumidor brasileiro com relação ao uso e descarte de aparelhos eletrônicos. As conclusões apontaram para a troca maciça de celulares, eles possuem um ciclo de vida em média de 3 anos, e raramente ultrapassa 5 anos.

Os motivos para dados tão perceptíveis, concentram-se na falta de funcionamento e na busca por um equipamento mais atual. Incluindo este horizonte em debate, as mulheres tendem a trocar mais os aparelhos por motivo de funcionamento (60% versus 53% na população geral), enquanto os homens tendem a trocá-los com o objetivo de ter um equipamento mais moderno (55% versus 47% na população geral).

Essa polaridade também é observada em diferentes níveis sociais: enquanto a população de classe mais baixa tende a substituir mais facilmente o equipamento por problemas de funcionamento (66% versus 53%), a população de classe alta o substitui por questões de atualização tecnológica (59% versus 46%).

O social media expert, Samuel Messias, revela que está sempre ligado nas novidades do mercado de celulares.?Sempre acompanho os lançamentos e sempre que posso troco. Acho que de ano em ano?, afirma.

Assim como Messias, muitas pessoas têm verdadeira fixação nos aparelhos dotados de funcionalidades complexas e modernas, o psicólogo Denis Barros aponta dois motivos para tal realidade.

?Envolve uma sensação de carência, de achar que sempre vai precisar de algo mais atualizado; o outro motivo é a necessidade de status social, sendo os objetos eletrônicos um forte símbolo disso?, aponta.

A nova sensação do mercado de celulares responde pelos smartphones, o que obriga muitos estabelecimentos a se prepararem para esse nicho, mais abrangente a cada mês.

A lojista Cilene Figueiredo conta que ainda há um público que procura aparelhos mais simples, preocupados prioritariamente pela violência, porém revela que a crescente tendência é realmente por equipamentos mais atuais e que comportem programas e aplicativos que estão na moda.

Denis Barros ainda aponta para um importante viés no comportamento consumista e que deve demandar cuidados entre a população. ?A obsessão por novidades, desapreço pelas coisas simples e gratuitas e, principalmente, a frustração por perceber que somente na próxima compra é que ele poderá talvez sentir um prazer imenso obtido pela posse de um bem são características a serem observadas?, afirma o psicólogo.

O ávido interesse pelas novidades tecnológicas não deve extrapolar o bom senso, como revela Barros. ?Temos exaurido a natureza, extinto centenas de espécies de animais e plantas, aquecido o planeta, entre outras coisas, por que acreditamos que precisamos ter coisas para sermos felizes?, conta.

Adquirir um celular moderno pode não trazer a felicidade, mas muitos usuários continuam a defender a relevância condizente à inserção nesse mundo. ?A maioria dos trabalhos precisam do auxilio de algo tecnológico, a importância é máxima, ainda mais que trabalho na área?, impõe Samuel Messias.

Uma sociedade consumista

Com a ampliação da renda e o crescimento econômico, a facilidade na compra de aparelhos eletrônicos torna-se muito mais fácil, abrangendo todas as classes sociais.

"O consumismo é um dos reflexos maiores e mais claros do capitalismo. Como mencionado anteriormente, hoje em dia foram criadas mais necessidades de consumo, portanto, consome-se mais, compra-se mais", revela.

Esse ciclo consumista pode se tornar negativo no âmbito das relações sociais. "Muito desse aumento no consumo de bens materiais trata-se da tentativa de suprir necessidades, que nem sempre são materiais, por isso mesmo as pessoas experimentam uma continua insatisfação, que se tenta amenizar pelo consumo, gerando um ciclo vicioso e que pode se tornar prejudicial e adoecedor", vislumbra Fonseca.

A subserviência desses fatores podem contribuir para uma fragilidade preocupante, que norteia debates em todo o mundo. "Interessante observar que, paralelamente a isso, pode se observar uma fragilização das relações intra e interpessoal.

Quem nunca viveu ou presenciou uma situação na qual todas as pessoas estão numa mesa ou roda, mas cada um de cabeça baixa e olhos atentos ao celular?", completa a psicóloga Hivana Fonseca.

Quando o consumo extrapola

Sucintamente, a psicóloga Hivana Fonseca destrincha quais pontos devem ser observados para que o consumo não extrapole a normalidade e sintetiza bem a diferenciação entre as diversas denominações.

"Vale destacar que o consumo não é puramente um comportamento racional, mas resultado de um complexo emaranhado de pensamentos, ideias, sentimentos, emoções e expectativas. Consumista é um termo que pode definir puramente alguém que consome em excesso, mas que tem certo grau de controle sobre isso", afirma.

Ela atenta para o problema ocasionado quando este consumismo passa a ser compulsivo e, consequentemente, deixa de ser saudável. "O indivíduo passa a experimentar grande sofrimento e ter dificuldade de controle sobre sua decisão de compra.

É importante, entretanto, que fiquemos atentos aquilo que consideramos necessidade e até que ponto o consumo de determinado produto, como um celular, vai de fato minimizar em nós a ansiedade, o sofrimento ou o desconforto das nossas reais necessidades.

Muitas vezes tenta-se substitui-se pelo consumo carências afetivas e sociais, criando a ilusão de que ter determinado produto vai tornar a pessoa feliz", conta Fonseca. Nestes casos, segundo a psicóloga, o tratamento é necessário.

Com a diminuição das fronteiras, através da internet, o uso de smartphones converge como um ambiente de integração maior nas relações interpessoais.

"Os produtos da sociedade contemporânea certamente que auxiliam no nosso dia-a-dia, facilitam a vida de várias maneiras, é preciso ter cuidado entretanto para que não ocupem o espaço das vivências, das relações e das sensações.

Por exemplo, o celular facilita a comunicação, entretanto não poderá nunca substituir a necessidade real que se tem do outro, de estar com o outro e se sentir afetivamente seguro e aceito", inquire.

Mercado de assistência de smartphones explode

Com o consumo voltado para a compra de aparelhos celulares mais modernos, os profissionais que trabalham com assistência técnica também comprovam o aumento da procura desses equipamentos. A maioria dos clientes é possuidora de smartphones, a manutenção desse tipo de celular já responde por 80% de todos os trabalhos realizados.

A lojista Cilene Figueiredo revela que as lojas estão voltando uma atenção especial para esse setor. "Compensa mais consertar o aparelho com problemas do que comprar um novo, já que os preços são mais elevados", afirma.

Antes especializadas apenas na venda, muitos estabelecimentos apostam na abrangência dos dois polos, comércio e assistência. Enquanto nas prateleiras, os celulares modernos dominam, na mesma loja, em um outro espaço, eles também predominam, quando a questão é o conserto.



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