Tratamento com células-tronco cura estudante do diabetes tipo 1

Humberto se submeteu ao tratamento, que tem sessões de quimioterapia para desprogramar o sistema imunológico e ter as células-tronco reintroduzidas

Humberto não toma um único remédio e vive vida normal após tratamento | Reprodução
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Um médico que virou o cozinheiro da casa só para diminuir o sal da comida.

Um biólogo que mudou de vida por causa de uma previsão.

Um estudante que se libertou de uma doença considerada incurável.

Três histórias de vida. Três vitórias brasileiras na luta contra essas doenças que se tornaram uma epidemia mundial: a hipertensão e o diabetes.

Será que Humberto está curado do diabetes? Essa pergunta ainda não pode ser respondida. Mas ele não toma um remédio e tem uma vida igual à de qualquer outro jovem nessa idade. Poderia ser muito diferente.

Mas um tratamento com células tronco, desenvolvido pela USP de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, fez com que o pâncreas desse estudante voltasse a produzir insulina. Algo considerado impossível até bem pouco tempo atrás.Há quase seis anos, Humberto está livre das injeções.

?Eu tinha dentro de mim uma confiança muito grande de que ia dar certo. Meus pais, eles ficaram meio receosos porque eles precisaram assinar um termo, porque corre um risco de vida. Mas eu tinha para mim que eu tinha fazer isso?, conta Humberto.

Humberto e mais 24 voluntários se submeteram a um tratamento criado em 2003 pelo professor Julio Voltarelli. O médico, um dos maiores pesquisadores de células-tronco do país, morreu no ano passado. Atualmente, o projeto é conduzido pela equipe do endocrinologista Carlos Eduardo Couri.

Todos os voluntários sofriam de diabetes do tipo 1, aquele que costuma aparecer na infância ou na adolescência, tornando o paciente dependente de insulina.

Humberto tinha 17 anos quando recebeu o diagnóstico de diabetes, e logo depois entrou para o projeto.

?Estava num processo de vestibular, então carregava uma garrafinha d?água e eu estava bebendo muita água e indo no banheiro. Sentia diferença na visão, que eu uso óculos, e achei estranho. E ate então eu nem sabia o que era diabetes?, declara Humberto.

O estudante mora em Ribeirão Preto e tinha todas as condições para participar da pesquisa.

?Minha mãe falava: ?Ah, eu acho que não há necessidade de você passar por tudo isso, até porque tem um processo de quimioterapia que é muito forte, sendo que você consegue conviver com essa doença??, conta o estudante.

Mas Humberto decidiu não seguir os conselhos da mãe.

O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune. O pâncreas é atacado pelo próprio sistema imunológico do organismo. Por isso, deixa de produzir insulina. Para fazer com que o pâncreas volte a fabricar a substância, os médicos, primeiro, retiram células-tronco da medula do próprio paciente. Depois, o voluntário passa por quimioterapia para desprogramar o sistema imunológico.

Em seguida, as células-tronco são reintroduzidas. Quando isso acontece, o pâncreas volta a funcionar, produzindo insulina.

Os médicos não fazem previsões: não sabem dizer, ainda, por quanto tempo o pâncreas vai continuar produzindo insulina. Dos 25 voluntários, três não alcançaram o objetivo. Mas outros 22 conseguiram uma significativa melhora de vida.

?Dos 22 pacientes, vários deles voltaram a usar insulina, mas apenas em uma dose ao dia, o que também é uma grande vantagem tendo em vista que o tratamento usual são três ou quatro injeções de insulina por dia. E temos pacientes como o Humberto que está livre de insulina até hoje e não precisa usar esse hormônio. Pode ser que ele precise, mas ele está livre até hoje?, declara o doutor Carlos Eduardo Couri, endocrinologista da USP de Ribeirão Preto.

Mas o paciente tem que fazer a sua parte: a vida de excessos na alimentação e sem cuidados com o corpo precisa acabar.

A tal mudança de vida sempre tão falada pelos médicos começa assim, com exercício físico. Pode ser uma caminhada, uma corrida, a dica é achar uma atividade que traga prazer. O importante é dar ao corpo o que ele mais precisa: movimento.

E foi a isso que Humberto se agarrou. Malhando na academia, correndo no parque e caprichando na alimentação, ele pretende dar ao corpo condições para se manter saudável.

De quebra, Humberto ainda descobriu um jeito de se livrar da tensão e diminuir o estresse.

E o nosso biólogo, que mudou de vida só por causa de uma previsão? Previsão científica. Adelson é um dos poucos brasileiros que podem dizer, com certeza, que teria hipertensão no futuro, graças a um simples exame de urina descoberto pelos pesquisadores da Escola Paulista de Medicina. Com o resultado positivo, o biólogo não perdeu tempo.

?Eu prefiro hoje investir o que eu tenho fazendo exercícios físicos na medida do possível, do que lá na frente acabar comprando medicação contra hipertensão, contra doenças?, diz o biólogo Adelson Marçal Rodrigues.

Para chegar a esse exame pioneiro, que já tem patente mundial, essa médica passou 30 anos pesquisando. Ela percebeu que a urina de algumas pessoas têm uma determinada enzima com um formato diferente. E que essa diferença está relacionada ao futuro desenvolvimento da hipertensão. A própria doutora Dulce se submeteu ao teste e viu que tem predisposição a se tornar hipertensa.

?Então, eu procuro fazer exercício, me alimentar bem, ter uma qualidade de vida boa. E eu estou com 60 anos e ainda sou hipotensa, ainda não desenvolvi hipertensão?, declara a doutora Dulce Casarini, professora de nefrologia da Unifesp.

Já no ano que vem a equipe da doutora Dulce Casarini quer lançar um kit bem simples para exames de laboratório. Assim, qualquer pessoa poderá saber se tem tendência a desenvolver a doença.

Para evitar a hipertensão, o primeiro passo de Adelson foi tirar o saleiro da mesa.

?De repente eu vi que tudo tem sal. Na margarina tem sal, em todos os produtos alimentares têm sal. O grande vilão da hipertensão, né?, diz Adelson.

O mar sempre foi o grande fornecedor de alimentos. Os peixes e algas marinhas fazem parte da história da humanidade. O sal também é um alimento importante, mas hoje é usado em grandes quantidades, principalmente pelo brasileiro. Um perigo para a saúde. É preciso saber dosar a quantidade para dar gosto à comida e ao mesmo tempo respeitar os limites do organismo. Nessa hora vale o ditado popular: nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

As mãos que preparam o peixe com tanta habilidade são do médico Maurilo Leite Jr.

?Agora a gente distribui o coentro em pedacinhos pequenos, picotados sobre a superfície, como está o alho, né??, diz Maurilo.

O doutor Maurilo adora cozinhar. Aprendeu a combinar os temperos. ?Coentro casa muito bem com qualquer fruto do mar, né??, diz Maurilo.

Mas nem sempre foi assim. O médico só se interessou pela culinária quando descobriu que ele próprio era um hipertenso. Ao receber o diagnóstico, a doença já havia causado uma pequena lesão nos rins. Com o susto, vieram as mudanças: além do remédio, mais esporte e menos sal.

Repórter: Aí também não vai sal, né?

Maurilo: Não, jamais. Não precisa. Eu coloco queijo até para fazer esse balanço porque o sal do queijo vai estar complementando aqui.

Repórter: Esse queijo já tem um pouco de sal, né?

Maurilo: Tem sal, tem bastante sal.

Em todos os pratos, a falta de sal é compensada com temperos diversos.

?Essa salada a gente pode incluir algumas coisas, tipo orégano, bota um manjericão, um pouquinho de hortelã?, indica o doutor Maurilo.

Um pouco de azeite extravirgem... ?O azeite tem uma característica também de aumentar o HDL, o chamado bom colesterol, e a gente deve usá-lo sempre?, alerta Maurilo.

E o salmão está pronto para ir ao forno.

A família inteira aderiu à dieta sem sal do doutor Maurilo. O filho Daniel era muito pequeno quando a mudança aconteceu, por isso não estranha. Mas é importante dizer: como eles também frequentam restaurantes, acaba havendo um equilíbrio.

?Se você fizer uma média ao longo do dia a tua carga de sal vai ser menor em relação à maioria da população que come sal em casa e come sal na rua. Então, esse é o racional?, declara o médico.

As mudanças deram certo e o doutor Maurilo conseguiu se curar da lesão nos rins. Um exemplo que passa a seus pacientes.

?Isso é importante para o paciente, ele não está sozinho nisso. Os médicos também têm hipertensão e as pessoas podem se tratar e serem felizes com esse tratamento?, declara Maurilo.

É importantíssimo para qualquer pessoa, hipertensa ou não, estar atenta.

O sódio é o principal componente do sal.

Os médicos recomendam, no máximo, cinco gramas de sal por dia. Isso corresponde a dois gramas de sódio. Mas os brasileiros costumam ingerir muito mais. Às vezes, até sem saber.

Nos alimentos industrializados, os rótulos indicam a quantidade de sódio, e não de sal. Mas para ler alguns rótulos, só com uma lupa.

Só um saquinho de biscoitos tem quatro gramas de sódio, o dobro da quantidade máxima recomendada para um dia. Detalhe: esse biscoito é vendido como "produto natural".

O Ministério da Saúde quer baixar o teor de sódio nos alimentos industrializados. Enquanto isso não acontece, cabe a nós evitar exageros. E buscar comidas mais saudáveis.

A equipe de reportagem foi convidada para experimentar o salmão do doutor Maurilo.

Repórter: Olha, realmente o sal não faz falta. Doutor, o senhor está de parabéns viu, sabe cozinhar muito bem, a comida está deliciosa, ótima.

Maurilo: Com a ajuda da minha esposa também, é fundamental. E o apoio do meu filho.



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