Turma denuncia falas racistas de aluna durante aula na UFPI em Teresina

A situação aconteceu na última sexta-feira (16) e os estudantes pedem que a instituição de ensino tome providências.

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Alunos do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGEL) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), denunciaram comportamentos e diversas falas de cunho racista proferidas por uma colega de classe, durante uma aula da disciplina de Literatura e Filosofia. A situação aconteceu na última sexta-feira (16) e os estudantes pedem que a coordenação do PPGEL e da instituição de ensino tomem providências.

Em nota de repúdio divulgada nas redes sociais, os alunos da turma de Literatura e Filosofia deram mais detalhes do ocorrido, explicando que ela atacou verbalmente os colegas com discursos racistas. "Sua negritude não vai calar minha branquitude", "vocês pretos têm que sair desse lugar de coitadinhos", "hoje em dia querem enfiar preto em todo buraco", "minha irmã sofreu preconceito por ser bonita e foi ameaçada por uma preta", entre outras (entenda-se que essas frases apenas se aproximam da fala da referida)”, diz a nota. 

Turma denuncia falas racistas de aluna durante aula na UFPI em Teresina (Foto: Reprodução/ Instagram)

Ao Meionorte.com, Janaira Rodrigues, uma das alunas que estava presente no momento, classificou a situação como uma ‘experiência traumática para todos que estavam na aula’. Segundo ela, a colega, desde o início do período, vinha apresentando indícios de preconceito em suas falas e questionamentos. 

“É uma pessoa que desde o início das aulas já vinha vez ou outra soltando alguns discursos que de certa forma mostrava esse lado dela preconceituoso e preconceituoso de todos os âmbitos. Principalmente na aula de filosofia ela foi capaz de proferir em diversos momentos falas que incomodavam os colegas de uma forma em geral e que a gente tentou adotar aquela postura de fingir que não ouvia, ou que não entendia para não comprometer o andamento da disciplina e em respeito ao professor também. As falas dela, que para ela talvez não tenha peso nenhum, doeram bastante em nós. Ela começa a fazer, ao longo de toda aula, questionamentos ao professor e geralmente esses questionamentos acabam demostrando esse preconceito que ela internaliza”, destacou.  

Além disso, Janaira relata ter observado falas de cunho homofóbico da colega apontada, que é mestre.  “Houve momentos em que ela demostrou ter uma fala homofóbica quando ela disse que achava feio as pessoas estarem se beijando publicamente e implicitamente ela quis dizer que se fosse pessoas do mesmo sexo isso ainda era pior. Ela não gostava nem de ver casais héteros, quanto mais essa outra forma de relacionamento. Ela diz uma coisa e vai tentar justificar com uma outra coisa. 'Ah, mas eu não sou preconceituosa, eu tenho meu amigo que é gay'. Ela também não vai se intitular racista provavelmente porque ela estuda na sala que teria negros, seria uma justificativa que ela poderia usar”, completa. 

A turma tentou registrar um Boletim de Ocorrência (B.O) virtualmente, mas acabou sendo informada que devido à denúncia apresentada ter ocorrido no âmbito da UFPI e dentro de uma sala de aula, a situação teria que ser apurada dentro da esfera administrativa da instituição federal para que adotem-se as medidas cabíveis e após a conclusão, provocar o Ministério Público Federal para as medidas judiciais cíveis e criminais cabíveis, se assim for entendido. 

Turma denuncia falas racistas de aluna durante aula na UFPI em Teresina (Foto: Divulgação)

"Alterou o tom de voz"

Ainda para a reportagem, Janaira Rodrigues explicou que durante o ocorrido na aula na última sexta, uma outra colega pediu a palavra na tentativa de respondê-la, mas foi impedida. 

“Ela proferiu em alto e bom-tom que ela era branca, oxigenada, mas ela tinha o direto de fala. Que a gente tinha que parar de achar que só nós negros tínhamos o direito de fala. Que a branquitude dela, ela até usou esse termo, acredito que ela nem sequer saiba empregar corretamente, mas ela falou dessa forma; que a branquitude dela não ia ser calada. A gente tentou intervir para que a gente entrar em diálogo, pudesse tentar fazer que ela pensasse sobre as coisas que ela tinha proferido ao longo de toda a aula. Mas ela não deu espaço, ficou alterada, visivelmente vermelha, falando muito alto, o professor ficou em estado de choque, alguns alunos também ficaram parados diante da situação, mas todos perplexos que o que viram e ouviram ao longo de toda a aula”, descreveu a aluna.

Para ela, é uma situação de muita tristeza, pois a universidade é um local de construção de saberes democráticos e individuais, mas acima de tudo, de respeito ao outro. Janaira Rodrigues chama a atenção para que as medidas sejam tomadas, pois a colega disse que não tinha arrependimento e que a turma teria que ‘lhe engolir’. 

“O mínimo que a gente queria era que a universidade tomasse as medidas cabíveis porque durante a fala dela ela não expressou arrependimento em nada do que ela tinha dito. Ela simplesmente disse que a gente teria que aguentá-la. Ela já passou por eventos semelhantes em outra instituição e a gente teria que fazer o mesmo, tentar engolir. A gente está se mobilizando para tomar as medidas legais, pois foram falar horrorosas. Houve certo momentos que ela começou a falar com certo menosprezo pelos estudos de literatura africana, negra, literatura afro-brasileira. Primeiro ela enquadra esses estudos como se fossem todos a mesma coisa, de uma mesma categoria, coisa que não é. Você percebe uma fala de desprezo pela por essas coisas. Se não bastasse isso, ela entrou nesse ponto de que implicitamente um conceito que o negro, apesar da cor, é inteligente. Ela soltou uma fala parecida com essa e isso me incomodou bastante, foi um momento que eu revirei os olhos e tentei respirar fundo. Fiquei muito incomodada e apesar do silêncio, pensei que tivesse só incomodando a mim. Em um outro momento ela disse: 'Ah, as pessoas tem que entender que todo mundo sofre preconceito. Não só pessoas pretas fossem'. Ela exemplificou a irmã dela mesmo sofreu um tipo de preconceito uma vez e uma menina queria bater na irmã dela por segundo ela, a irmã dela ser bonita'. Preconceito até por ser bonita”, pontua a aluna. 

Aluna apontada responde à nota de repúdio

Nas redes sociais, a colega apontada respondeu à nota de repúdio da turma, dizendo que os alunos são 'incapazes de vencer um debate teórico. "Meu recadinho para nota de repúdio da turma de Filosofia e Letraa da UFPI.... incapazes de vencer um debate teórico. Só sabendo falar: esse não é seu lugar de fala! Não tem base teórica, nem argumento. No mais... Vão se ferrar e ler os autores que defendem sua história, nao ouvi fazerem de um sequer!! PPGEL Eu sou Filosofia!!!", escreveu,

Aluna apontada respondeu e criticou nota de repúdio nas redes sociais (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

"A gente esperava uma postura de arrependimento, de que a colega tentasse perceber a gravidade das coisas que ela falou e nas redes sociais dela, o que ela fez foi totalmente o contrário. Ela esnobou o nosso programa de pós-graduação, ela esnobou todos os alunos e faltou com respeito até a docente porquê ela se referiu a UFPI como uma instituição em que as pessoas estão lá, na concepção dela, ela não sabe para quê. Ela tira fotos de livros, que ela diz que leu, mas cujo as falas dela vão totalmente em desencontro com os conhecimentos que são compartilhados por esses teóricos", reitera Janaira Rodrigues.

Ainda conforme a turma, nem a coordenação do Programa de Pós-Graduação quanto a UFPI tomaram medidas ou diante do caso. O espaço segue aberto para esclarecimentos ou respostas. 

 



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