Estudante de 16 anos diz ter sido estuprada durante Parada Gay

Crime ocorreu há um mês na capital paulista, segundo relato da vítima.

Estudante de 16 anos diz ter sido estuprada durante Parada Gay | Divulgação
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Uma estudante de 16 anos denunciou à Polícia Civil que foi estuprada por dois desconhecidos durante a 17ª edição da Parada do Orgulho LGBT, ocorrida há pouco mais de um mês em São Paulo.

Em entrevista, a adolescente disse estar traumatizada e contou que construiu um porrete de madeira com pregos e passou a andar com ele para se proteger depois que os agressores taparam sua boca e a violentaram sexualmente na noite do dia 2 de junho na região da Praça da República, no Centro, onde aconteceu o encerramento da festa. O evento havia começado à tarde na Avenida Paulista.

Segundo os organizadores, que souberam do caso pela equipe de reportagem, esse é o primeiro estupro envolvendo a parada que eles tiveram conhecimento desde 1997, quando a festividade passou a fazer parte do calendário da cidade.

O registro policial informa que um homem obrigou a garota a fazer sexo com ele enquanto o outro a segurava à força às 21h42. Eles não estariam armados e fugiram depois. Nenhum suspeito foi identificado ou preso até agora. A vítima sequer chegou a fazer o retratado falado dos estupradores para a polícia. O resultado do exame sexológico que poderá comprovar se ela foi mesmo estuprada também não ficou pronto, segundo a sua família.

A estudante contou que foi atacada depois que o irmão e os amigos se afastaram dela para comprar refrigerantes. ?Foi, tipo assim, coisa de cinco minutos. Aí vieram dois rapazes e perguntaram se eu tinha namorado. Eu falei que tinha. Falei: ?tenho, só que ele está para chegar?. E eles falaram que ?não?, que eu não tinha mais namorado. E que meu namorado agora iriam ser eles?, contou ela.

E, diferentemente do que ela afirmou à equipe de reportagem, o local exato do abuso sexual não aparece no documento oficial da Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP (SSP) sobre o caso. No boletim de ocorrência há a informação de que o estupro foi em uma praça perto de uma avenida entre a Paulista e a Rua da Consolação.

Para o G1, a vítima explicou que essa avenida que aparece no registro policial é a Doutor Vieira de Carvalho, que liga a Praça da República ao Largo do Arouche. Ela falou que a região é conhecida entre os gays como "Praça Vieira" e lá é um lugar muito escuro, com pouca iluminação.

?Até tentei correr, mas aí eles [os agressores] eram muito fortes, eles eram muito altos. Aí, foi bem ali na praça mesmo que aconteceu?, relatou ela, que tinha ido pela primeira vez a parada.

Neste ano, segundo a organização, cerca de 3 milhões de pessoas participaram da Parada Gay, que contou com o apoio de 1.800 policiais militares e mil guardas civis metropolitanos. Questionada, a adolescente não soube dizer se a Polícia Militar ou a Guarda Civil Metropolitana viram o estupro que alega ter sofrido. ?Não sei se viu. Se viu, deixou impune ou se, ou não quis ajudar, eu não sei?, disse a jovem, que alega não ter conseguido pedir socorro. ?Não dava para pedir. Eles eram muito fortes e tamparam a minha boca, entendeu??.

Apesar disso, esse caso de estupro não foi divulgado pela Polícia Militar à imprensa no balanço final da operação de segurança. Procurada pela equipe de reportagem, a assessoria de imprensa da corporação alegou que só haviam sido contabilizadas as ocorrências registradas na região central durante a Parada Gay.

Registro no Jaçanã

Moradora da Zona Norte da capital, onde mora com a mãe e mais oito irmãos, a estudante só prestou queixa do crime sexual quatro horas depois, já na madrugada do dia 3 de junho. Ela tinha ido à casa do namorado, de onde policiais militares a acompanharam até um hospital público e posteriormente ao 73º Distrito Policial, Jaçanã, para registrar o estupro.

Ela alegou que não procurou nenhum policial na região central para falar que foi estuprada por sentir nojo e vergonha. Disse que telefonou para o namorado buscá-la porque queria tomar banho. ?Até aí não havia contado nada do que sofri para ele?.

Preocupada com o comportamento tristonho da filha, a operadora de limpeza Ana Lúcia de Andrade, de 46 anos, afirmou que pressionou a adolescente a dizer o que ocorreu. ?Ela me contou que estava com muita dor porque foi estuprada?, disse a mãe, que cuida sozinha de mais cinco meninas e três rapazes, frutos de três relacionamentos que teve. ?Ela era virgem e foi abusada. Eu acredito nela?.

A família da estudante disse que procurou a Polícia Militar à 1h42 para relatar a violência sexual. Depois de um hospital público e do 73º DP, a garota foi encaminhada ao Programa Bem Me Quer para fazer exame sexológico no Hospital Pérola Byington, referência no acolhimento e tratamento de vítimas de crimes sexuais.

Aumento dos estrupros

No próximo dia 25, quando SSP divulgar os índices de criminalidade de junho, o caso da estudante vai entrar para as estatísticas e a adolescente vai figurar como mais uma vítima de estupro na capital. Esse tipo de crime hediondo aumentou 14% nos cinco primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre janeiro a maio de 2013 foram 1.356 casos. Em 2012, 1.181 registros.

Como o estupro ocorreu na área de atuação do 4º DP, na Consolação, o boletim seguiu para a delegacia, que posteriormente o teria encaminhado ao 78º DP, por entender que o distrito policial dos Jardins era o responsável por investigar o crime que ocorreu na sua região. O G1 não conseguiu localizar os delegados para checar a informação.

Neste ano, o 4º DP recebeu nove casos de estupro para análise. Seis boletins de ocorrência ficarão na delegacia para investigação. Um foi encaminhado ao 23º DP, Perdizes, e outro, contra uma jovem que participava de um trote do Mackenzie, seguiu para a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

A mãe da adolescente criticou o trabalho da polícia. ?Até agora ninguém chamou a menina novamente para sequer fazer o retrato falado dos suspeitos. Ou procurar câmeras de segurança que possam ter gravado o crime. Já faz um mês e ninguém fez nada?, disse Ana Lúcia.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 73º DP, os suspeitos de terem estuprado a sua filha são brancos, com cerca de 1,80 m e 20 anos. Um deles possui uma tatuagem de carpa no braço direito.

Enquanto a mãe da adolescente aguarda o resultado do Pérola Byinton e espera ser chamada por policiais civis para saber se algum suspeito pelo estupro foi detido, sua filha comentou que está evitando sair da residência. Alega estar traumatizada ao ponto de ter construído um porrete de madeira com pregos que deixa do lado cama até na hora de dormir. Segundo ela, é para se proteger de estupradores. ?Eu achei, eu achei essa madeira na rua e trouxe para casa. Aí, só depois eu peguei os pregos e coloquei.?

A garota afirmou que está abalada emocionalmente e psicologicamente e por isso vem fazendo tratamento num hospital público perto de sua casa. ?Não tem como a gente falar que a gente vai esquecer, e que, e que é só o tempo, que o tempo vai fazer a gente esquecer porque não é isso não. A gente não esquece e todo dia a gente lembra, a gente melhora, mas a gente não esquece não?, disse a estudante, que também canta música gospel para tentar esquecer o estupro.

Parada Gay

Procurado para falar do caso de estupro, um dos organizadores da Parada Gay afirmou que não havia sido informado sobre o assunto pela PM. ?Eu não tenho que comentar porque desconheço o fato. A polícia não passou nada disso e só posso me manifestar com um documento em mãos e algo que me comprove estupro. Se eu sofri a violência às 21h42 a delegacia mais próxima fica na Rua Aurora por que o crime só foi comunicado a 1h42??, questiona Fernando Quaresma, da Associação da Parada do Orgulho GLBT (APOGLBT), organizadora da Parada Gay.

Em anos anteriores, outros casos de violência haviam sido registrados envolvendo a Parada Gay. Em 2007, um turista francês foi morto por um grupo de intolerência após ter participado do evento. Ele estava num bar próximo à Avenida Paulista. Em 2009, a Parada Gay já havia sido marcada por outro caso de repercussão: a explosão de uma bomba que feriu três participantes. O artefato tinha sido usado por grupos neonazistas homofóbicos.



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