Pagodeiro acusado de estupro conta: “Não podemos ir às ruas que ouvimos piadinhas”

Nove integrantes são suspeitos de estuprarem duas adolescentes após show. Eles foram soltos do Complexo Penal de Feira de Santana na quarta-feira (3)

Banda New Hit | Reprodução
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

"Saímos da prisão judicial e agora estamos na prisão domiciliar. Não podemos ir para as ruas que ouvimos piadinhas. É realmente muito difícil", comentou o cantor da banda New Hit, suspeito com mais oito integrantes da banda, de terem estuprado duas adolescentes de 16 e 17 anos no dia 26 de agosto. Eles ficaram presos 38 dias e foram soltos na quarta-feira (3) mediante um pedido de habeas corpus, deferido na terça-feira (2).

Junto com os integrantes da banda, um policial militar que fazia a segurança do grupo é suspeito de ter sido conivente com o crime. Todos eles, inclusive o PM, foram indiciados por estupro e formação de quadrilha no dia 25 de setembro. O documento, que tem 23 páginas, foi protocolado pelo delegado Marcelo Cavalcanti, titular da Delegacia de Ruy Barbosa, na Vara Criminal, no dia 24 de setembro.

Perguntado sobre a versão deles sobre as acusações, o vocalista disse: "Não podemos falar sobre os fatos por segurança dos nossos advogados e não podemos entrar em detalhe sobre os fatos, mas a Justiça vai fazer Justiça, e com fé em Deus todas as provas vão aparecer e as coisas vão ser bem encaminhadas", explicou Eduardo Martins.

A festa aconteceu no município de Ruy Barbosa, enquanto o grupo tocava em um trio elétrico, na micareta da cidade. De acordo com a versão das meninas que acusam os integrantes, elas foram recebidas no ônibus do grupo para poder tirar fotos, quando o crime teria acontecido. Eles disseram que não tem costume de receber fãs no ônibus da produção.

"Como foi um lance de trio, foi uma ocasião especial porque não tinha onde tirar foto, já tinha outra banda para subir para levar o percusso do trio e foi uma ocasião especial", disse Martins. Ao ser perguntado se o vocalista admitia que tinha recebido as fãs no ônibus, ele disse: "A gente não pode falar sobre o fato".

Prisão

Eles passaram 38 dias presos, levando em conta, os dias em que ficaram detidos na delegacia de Ruy Barbosa. Sobre os momentos na prisão o vocalista revelou. "Eu nunca passei por uma delegacia, na frente de uma delegacia pela minha vida. Você ter que estar algemado é humilhante para gente. É muito humilhante", revelou o cantor.

"Tinham muitos outros presos até de outros delitos graves mas estavam todos juntos", disse o dançarino Alan Aragão. Sobre isso, o vocalista completou. "Eles nos trataram da mesma forma que trataram todo mundo. Lá ninguém tem diferença, todo mundo é igual. A comida de um é a comida de todos. O chão que um dorme é o que todos dormem. Para ser sincero nós não conseguíamos dormir, quando cochilávamos, acordávamos assustados", disse Martins.

Sobre a acusação das adolescentes, o músico diz: "Talvez um fanatismo falso, um falso fanatismo, uma estratégia, enfim, eu não sei o que pode se passar pela cabeça de um ser humano", revelou o músico. "As provas estão nas mãos da Justiça. Prefiro não entrar em detalhes. Vamos esperar a Justiça ver o que tem que acontecer ou não", completou.

Shows

"Nós não sabemos se queremos continuar, voltar a fazer shows. Não temos propósito nenhum. Estamos muito abalados psicologicamente e emocionalmente", disse o dançarino. O grupo havia sido contratado para participar de um festival de pagode que aconterá em Salvador no dia 21 de outubro, mas a participação foi cancelada na sexta-feira (5), com a afirmação de que o grupo estava abalado psicologicamente para tocar no evento. O anúncio foi feito pela produção do grupo um dia após a empresa patrocinadora do show ter cancelado a distribuição de verbas até que a questão envolvendo o grupo fosse resolvida. Em nota a empresa patrocinadora disse que "em respeito aos consumidores, a marca decidiu e gostaria de comunicar que suspendeu o patrocínio ao evento até que a questão envolvendo uma das bandas do festival seja esclarecida".

O advogado da banda New Hit, Cléber Andrade, disse que a produção do grupo sugeriu o cancelamento do show para preservar os artistas. Segundo ele, por enquanto, não há nenhuma apresentação da banda prevista. "Ficamos preocupados com a repercussão negativa. Achamos por bem eles não se apresentarem agora por uma série de fatores. Não tem show nenhum marcado, vamos esperar passar essa tempestade", afirma o advogado.Integrantes foram soltos após 38 dias.

Denúncia

A juíza da Vara Crime de Ruy Barbosa, Márcia Simões da Costa, recebeu na quinta-feira (4) a denúncia de estupro qualificado pelo Ministério Público da Bahia, de autoria da promotora Marisa Marinho. O grupo será citado por carta precatória para responder a acusação por escrito no prazo de 10 dias.

Em nota, o Ministério Público da Bahiax (MP-BA) informa que a promotora relata no documento que durante a ação uma das vítimas foi "puxada pelos cabelos, agredida fisicamente e xingada" por seis dos suspeitos. Na denúncia, a promotora classifica como "vis e animalescos" os atos cometidos contra a outra adolescente envolvida no caso.

Secretária lamenta

Em documento divulgado na quarta-feira (3), a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Lúcia Barbosa, lamentou a soltura dos suspeitos. No documento, ela diz que ?o caso merece atenção especial, uma vez que o ato possui características de crime hediondo, com participação de mais de um autor, contra vítimas que não puderam e nem conseguiriam esboçar qualquer reação de defesa?.

Ainda no documento, ela falou da importância dos responsáveis serem julgados para que o caso não fique impune. ?Acreditamos que a Justiça dará os encaminhamentos necessários para a responsabilização dos acusados. O importante é não deixar este episódio impune. É preciso que o caso sirva de exemplo para a sociedade, evitando a possível sensação de impunidade. Esta é uma oportunidade de reafirmar que as mulheres baianas têm direito a uma vida sem violência?, pontuou.

Habeas corpus

Os nove integrantes da banda de pagode New Hit e o policial militar que fazia a segurança do grupo tiveram o primeiro pedido de habeas corpus deferido pela Justiça na manhã de terça-feira (2). O pedido foi julgado na 2ª turma da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), pelo desembargador Lourival Almeida Trindade, relator da sessão.

Investigações

De acordo com o delegado Marcelo Cavalcanti, o laudo fornecido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), de Feira de Santana apontou que foi encontrada uma quantidade de sêmen nas roupas das meninas e de um dos músicos. Segundo a polícia, o resultado foi considerado prova material e influenciou no indiciamento dos suspeitos.

A polícia indicou ainda que o volume de sêmen localizado é "bastante" superior à quantidade de "uma, duas ou três pessoas". Por isso, foi solicitada a realização de exames de DNA para identificar a quem pertence o sêmen localizado pela perícia. O prazo para divulgação do resultado é superior a 60 dias.

O caso

Segundo relato das vítimas, elas foram até o trio da banda para pedir autógrafos e tirar fotos com os artistas. Um produtor do grupo teria orientado as garotas a ir para o ônibus da banda, onde denunciaram ter ocorrido a violência sexual. Segundo a polícia, dois integrantes admitiram que fizeram sexo com as adolescentes, porém com consentimento. Os outros negaram que tiveram relação sexual com as garotas.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES