Quadrilha provoca blecaute e resgata 13 presos da CPPL II

Os presos serraram grades, cavaram buraco e pularam a cerca após os comparsas cortarem a energia

Ilustração. | Divulgação
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"Existe uma escola de crime que acaba sendo patrocinada pelo próprio Estado dentro das prisões, criando soldados para o crime organizado. São presos condenados coabitando com presos temporários, o que não deveria acontecer de forma alguma". O desabafo da capitã PM Keydna Carneiro, diretora da Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto, a CPPL II, em Itaitinga-CE, evidencia a fragilidade do Sistema Penitenciário do Estado, que sofreu mais um golpe ontem com o resgate de 13 presos daquela unidade prisional, na madrugada de ontem.

Por volta de 00h54, um blecaute foi provocado na CPPL II. O fato deixou às cegas os guardas das guaritas e os sete agentes penitenciários que cuidavam de um universo de 968 presos divididos em 25 mil metros quadrados. Trata-se de uma estrutura cheia de falhas, denunciadas pelas constantes fugas desde sua inauguração, em 1º de julho de 2009, pouco menos de um ano atrás.

Quase que simultaneamente ao blecaute, uma ´saraivada´ de tiros foi disparada - de fora para dentro - entre as guaritas um e oito, em direção ao alambrado, já que na unidade não existem muralhas. "Em menos de três minutos, duas celas foram abertas através dos pergolados, que são frágeis. Todos os fatos foram articulados, sincronizados, coisa do crime organizado mesmo", destacou a diretora.

Detalhes

Segundo a perita Sônia Silva, da Perícia Forense, que esteve ontem pela manhã examinando o local, o blecaute durou sete minutos. "Constatamos que foram serradas grades de proteção da área conhecida como ´brita´ e que a cerca elétrica foi escalada em três lugares".

Ainda de acordo com ela, cordas confeccionadas com lençóis - popularmente chamadas de ´teresas´, nos presídios - foram os instrumentos utilizados pelos presos, dentro das celas 5 e 22, que são vizinhas no Pavilhão B, para quebrarem as colunas de cimento no teto.

INVESTIGAÇÃO

Diretora afirma já ter suspeitos

Funcionários de uma empresa que presta serviços terceirizados de energia elétrica podem ter cumplicidade no caso

As autoridades dos setores da Segurança Pública e do Sistema Penitenciário não sabem ainda quantas pessoas ajudaram na articulação e na execução do resgate dos 13 detentos. "Tudo estava um breu. Quando a luz voltou, os presos já tinham fugido. Mas temos uma suspeita de que há envolvimento de funcionários terceirizados da companhia de energia", adiantou a capitã Keydna Carneiro.

O alvo principal do resgate era, segundo a diretora, um preso condenado a mais de 50 anos de reclusão pela prática de diversos crimes. Chama-se Antônio Carlito Avelino, 44 anos, conhecido como ´Boi´. Ele chegou à CPPL II no dia 6 de abril último, depois de ter sido apontado nas investigações como o ´cabeça´ de um plano de fuga que visava dinamitar a muralha do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), no início daquele mês.

Os artefatos acabaram sendo encontrados no IPPS pela Polícia e foram detonados pelo esquadrão antibomba do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque).

Os fugitivos

Os outros fugitivos, segundo a capitã Keydna, eram ´soldados´ de Antônio Carlito e alguns já condenados, como Edvan da Silva (assaltante e conhecido pela prática de fugas em cadeias); Luís Moreira de Sá (assaltante) e Joaquim de Almeida Otaviano Gomes (homicida).

Também escaparam os seguintes presos que aguardavam julgamento, Rafael Andrade da Silva, acusado de roubo; José Adalberto Viana do Nascimento, acusado de assalto e danos ao patrimônio público; Marcelo Alexandrino de Freitas, acusado de roubo; Maycon Anderson Alves Bezerra, Gilliard de Souza Bezerra, Antônio Israel Chagas Dias, Almir Silva de Oliveira e Francisco Laion Leitão da Silva, todos acusados de assalto à mão armada, além do presidiário Marcelo Silva Gomes que estava preso por furto.

CERCO POLICIAL

Quatro dos detentos que fugiram foram recapturados

Pelo menos, quatro dos 13 detentos que escaparam da CPPL II foram recapturados, no fim da tarde de ontem, durante um cerco policial em um matagal no bairro Jabuti. Os acusados já foram levados de volta para o presídio. A recaptura foi confirmada no começo da noite à Reportagem pelo coordenador do Sistema Penal, coronel PM Taumaturgo Granjeiro.

"Foi uma fuga anunciada, todo mundo sabia que ia acontecer, só não sabia quando", revelou a capitã Keydna Carneiro, em entrevista coletiva, ontem pela manhã, apresentando o ofício enviado ao juiz da Vara de Execuções Criminais, Luiz Bessa Neto, no último dia 3 de maio, solicitando a transferência do preso Antônio Carlito Avelino, o ´Boi´, para outra unidade prisional.

"Havia informações sobre um plano de fuga. Sabíamos que algo estava sendo articulado, mas não tínhamos a noção de quando iria acontecer. Por isso, pedimos a máxima urgência na transferência dele, já que a CPPL é uma unidade para presos provisórios, não para presos condenados, especialmente no caso dele, que veio de uma penitenciária de uma unidade de segurança máxima porque pretendia dinamitá-la para fugir".

Fragilidade

Segundo a diretora da CPPL II, o pedido foi reiterado "várias vezes", inclusive na última segunda-feira (7), por ocasião de uma visita que o próprio juiz fez ao presídio acompanhado do promotor. "O nosso diretor adjunto, Paulo Carvalho, expôs mais uma vez o problema, as fragilidades na estrutura do nosso presídio e a necessidade de se transferir o preso", disse. Outras fugas já ocorreram ali.



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