Sócio da Kiss ordenou ataque que deixou militar com fratura exposta

Os arquivos da Polícia Civil gaúcha registram duas queixas contra Kiko por agressão.

Luiz Fernando mostra a cicatriz do braço direito, onde levou as cassetadas. | Clarissa Barreto
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A cicatriz no braço direito, abaixo do cotovelo, e os pinos ortopédicos que ainda usa impedem que o soldado da Aeronáutica Luiz Fernando Crispan, de 22 anos, esqueça a noite de 30 de janeiro de 2011. Para evitar que os cassetetes dos seguranças da boate Kiss atingissem seu rosto, o militar ergueu os braços, que foram golpeados em cheio. Passados quase dois anos, Crispan mantém a convicção de que a agressão teve nome e sobrenome: Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da danceteria e, segundo o militar, responsável pela ordem de ataque.

Da fratura exposta, ficaram apenas a cicatriz e uma lembrança amarga, já que a vítima teve medo de sofrer represálias se recorresse à Justiça.

Os arquivos da Polícia Civil gaúcha registram duas queixas contra Kiko por agressão. Uma delas foi a comunicada por Crispan. A outra, ocorrida no dia 18 de abril de 2010, envolvendo uma cliente da Kiss que se insurgiu contra o valor da conta, não informa o nome da vítima. A moça entrou na Justiça, alegando também ter sido vítima de cárcere privado, e ganhou da boate uma indenização por danos morais no valor de R$ 10 mil.

No banco de dados do Departamento Estadual de Informática Policial (Dinp) do Rio Grande do Sul, aparece ainda um boletim registrando acidente de trânsito com ?lesão culposa? em 28 de agosto de 2003. A moto do empresário bateu numa árvore, ferindo a acompanhante, Juliana Dahmer Pereira.

Era um sábado, dia de balada na Kiss, quando começou a briga generalizada num local da boate Kiss perto de onde Crispan estava com uma amiga:

? Estava lotado. Para defender minha amiga, eu me coloquei na frente dela. Como a briga se aproximou demais, tive de empurrar alguém que iria cair sobre a gente. Quando os seguranças viram, bateram três vezes nas minhas costas com cassetetes de madeira.

Depois de pagar a comanda junto com amigos, o soldado da Aeronáutica conseguiu sair da boate. Porém, disse que, antes de afastar-se, perguntou a Kiko Spohr o nome dos seguranças que o agrediram. Irritado, o empresário mandou o grupo ir embora. Como um dos amigos insistiu em saber os nomes, Kiko avisou, antes de entrar na boate, que os seguranças voltariam ao ataque.

? Subíamos a rua quando fomos alcançados por seis seguranças armados de cassetetes. Só tive tempo de proteger o rosto. Saí correndo e parei três quarteirões depois, quando motoristas de táxi ameaçaram os seguranças que nos perseguiam ? recorda-se o jovem.

Socorro a feridos na boate

O jovem foi dali direto para o hospital, onde os médicos puseram dois pinos em seu braço direito. Embora tenha prestado queixa na delegacia, Crispan não levou adiante um processo de agressão por temer represálias. Segundo ele, Kiko nunca o procurou.

Desde então, o militar nunca mais havia colocado os pés na boate até domingo, quando foi um dos voluntários que ajudaram a retirar feridos e mortos de dentro da Kiss. Perdeu cinco colegas da Força Aérea, entre outros amigos.

Os depoimentos de mais de 40 testemunhas relacionadas à tragédia, já ouvidas pela polícia, convergem num sentido: houve falhas de segurança, inclusive na orientação para que os funcionários impedissem os clientes de deixar a boate sem pagar a comanda.

Um ex-chefe da segurança da Kiss, que trabalhou na boate durante dois anos, disse em entrevista ao jornal ?Zero Hora?, de Porto Alegre, que a orientação de Elissandro Spohr era no sentido de fechar as portas e não deixar alguém sair antes de pagar a despesa.

O advogado de Kiko, Jáder Marques, acusou Crispan de ter iniciado a briga:

? Esse menino é da Base Aérea (de Santa Maria). Arrumou uma confusão na boate e foi expulso pela Brigada Militar. Mas voltou com os amigos para brigar de novo com os seguranças. Queria processar Kiko como mandante porque sabia que não conseguiria tirar dinheiro dos seguranças.

Embora a polícia gaúcha o aponte como um dos donos da Kiss, Kiko só tem em seu nome 96% de participação na empresa Verdes Vales Distribuidora de Pneus, representante da GP Pneus em Santa Maria. Sua família tem outros negócios no setor. Na cidade e na cena artística gaúcha, Kiko é tido como o empresário da danceteria, responsável pela contratação das atrações, além de ser vocalista do Projeto Pantana, banda que se apresentava com frequência na Kiss e na Absinto Hall, outra casa noturna ligada ao empresário Mauro Hoffmann.

A conta de Kiko no Facebook tem sido palco, desde a tragédia, de um confronto verbal entre amigos do empresário e internautas inconformados com o descaso da boate. O dono de uma empresa de produções artísticas disse que Kiko não gostava de pagar cachês, alegando que a Kiss, por ser uma das casas noturnas mais conhecidas do estado, era uma vitrine para grupos musicais iniciantes.

Kiko já levou nomes como o de Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana, para tocar na boate, bem como subiu ao palco para tocar ao lado da Cachorro Grande, uma das bandas de rock mais conhecidas do Sul. O blog do Projeto Pantana, com dados sobre a banda, saiu do ar.



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