Caso Siemens: Cardozo pode ter conhecido o consultor indiciado

Ministro foi ao Senado explicar os motivos de ter repassado denúncias à PF.

O ministro José Eduardo Cardozo, em audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. | Agência Brasil
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O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu nesta terça-feira (3) a possibilidade de ter se encontrado com o consultor Arthur Teixeira, consultor indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro e evasão de divisas no caso de suposta prática de cartel em licitações dos trens e do metrô de São Paulo e do Distrito Federal.

Cardozo esteve nesta manhã na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para esclarecer os motivos que o levaram a repassar à Polícia Federal (PF) ? e não à Procuradoria-Geral da República (PGR) ? um dossiê sobre a suposta prática de cartel.

Cardozo disse que Arthur Teixeira pode ter sido apresentado a ele em 2003, no início do seu mandato como deputado federal. O encontro, porém, não teria ?marcado? o ministro, que diz não se recordar da fisionomia do lobista.

?Eu conheci o senhor Arthur Teixeira. Até esse final de semana eu achava que não, porque vi fotos no jornal e não me lembro de ter estado com ele?, afirmou o ministro aos senadores.

Segundo informou o Jornal Nacional no mês passado, Teixeira foi investigado pelo Ministério Público da Suíça e indiciado pela Polícia Federal brasileira. Ele era dono de duas empresas de consultoria suspeitas de receber propina de multinacionais, como a Siemens e a Alstom - para que fossem beneficiadas em concorrências públicas.

Teixeira foi citado também nas investigações sobre a formação de cartel em licitações do governo de São Paulo - para a compra e a manutenção de trens - entre 1998 e 2008, durante as gestões de Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra - todos do PSDB.

?Eu não sei se fui apresentado a ele ou não. Se fui, nenhum problema. Não foi algo que seguramente me marcou porque eu me lembraria, mas não posso afastar essa possiblidade porque me encontrei com muita gente como deputado nos meus dois mandatos?, disse Cardozo aos senadores.

O ministro disse que o advogado de Teixeira apresentou à imprensa uma carta na qual dizia que, em 2003, Cardozo teria se encontrado com o consultor com a finalidade de ?conhecer melhor? a área de transportes.

?Acho estranho o seguinte: eu nunca atuei na área de transportes. Eu não só nunca tive nenhum cargo na área, como também nunca fiz nenhum projeto. Se fiz, me escapa?, afirmou.

Segundo o Cardozo, ?é muito frequente? ser apresentado a todos os tipos de pessoas, inclusive lobistas. ?E como todos sabem: às vezes a gente é apresentado a gente do bem e a gente do mal. Eu não posso avaliá-lo [Arthur Teixeira]. Seria um absurdo porque eu não sei. Eu nem me lembro da reunião, para ser franco?, disse o ministro.

Debate

O tom da audiência, que ocorreu a pedido do líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), foi ameno. Cardozo elogiou o ?respeito? com que os senadores da oposição o trataram e disse esperar o mesmo da Câmara dos Deputados, onde ele estará na tarde de quarta-feira (4) para tratar do mesmo assunto.

Cardozo se tornou alvo de críticas de partidos oposicionistas depois de ter recebido do deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT), atual secretário de Serviços da prefeitura de São Paulo, documentos que detalham o suposto pagamento de propina em licitações para a compra de equipamentos para o metrô paulista.

Na última quarta (27), o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), pediu que a PGR e a Comissão de Ética Pública da Presidência da República investiguem a conduta do ministro no episódio do dossiê. O parlamentar tucano acusa o ministro de ter cometido improbidade administrativa ao entregar o documento à PF, que está subordinada a ele, em vez de encaminhar o material ao Ministério Público.

Cardozo rebateu as críticas e disse que, caso não repassasse os documentos para a Polícia Federal - que é quem tem a prerrogativa de investigar -, poderia ser chamado de ?engavetador de denúncias? e de ?prevaricador?.

O senador Aécio Neves (MG), que na semana passada disse que Cardozo não teria mais condições de comandar a investigação, não estava presente na audiência devido a um problema de saúde na família, segundo informou Aloysio Nunes.

Ainda assim, o ministro respondeu ao tucano e provável candidato nas eleições presidenciais de 2014: ?O presidente do PSDB, numa coletiva, disse que eu não tenho mais condições de chefiar, liderar, coordenar essa investigação. Mas seja como for, o ministro da Justiça não lidera, não coordena, não comanda investigação criminal. Quem faz isso é o delegado de Polícia, que nesse caso já cuidava desse inquérito desde 2008?.

O mineiro havia reagido com ironia à decisão anunciada na semana passada por Cardozo de processar por calúnia quem o chamou de "membro de quadrilha, sonso e vigarista", sem citar nomes. No dia seguinte, Neves disse: ?Estou achando meu amigo ministro um pouco nervoso com esse episódio".

Cardozo criticou a politização do caso e disse não que se pode desviar a atenção ?do que é necessário?. ?Se alguém tenta intimidar ou obstaculizar a Polícia Federal ou o Cade, perca as esperanças. Eles agem de forma republicana independentemente do partido que os dirija?, disse.



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