Luciane Santos: “Assembleia transformada em balcão de negócio”

Luciane Santos: “Assembleia transformada em balcão de negócio”

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A candidata ao Governo do Estado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Luciane Santos, foi a nona a participar da série de sabatinas com candidatos nas eleições de 2018, no Agora da Rede Meio Norte, na tarde desta quarta-feira (22/08).  O candidata falou de suas propostas e projetos caso seja eleita governadora do Piauí.

Foram sabatinados Romualdo Sena, candidato pelo partido da Democracia Cristã (DC); Lourdes Melo, candidata pelo Partido da Causa Operária (PCO); governador Wellington Dias, candidato à reeleição pelo Partido dos Trabalhadores (PT); Fábio Sérvio, candidato pelo Partido Social Liberal (PSL); senador Elmano Férrer (Podemos) e Valter Alencar, candidato pelo PSC; professora doutora Sueli Rodrigues, candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Dr. Pessoa, candidato pelo Solidariedade. 

Luciane Santos respondeu perguntas dos jornalistas Arimatéa Carvalho, Samantha Cavalca, Ananias Ribeiro e do apresentador Amadeu Campos. Nos 10 minutos finais, a candidato respondeu questionamentos enviados por telespectadores. A sabatina teve duração de 30 minutos.

Durante a entrevista, Luciane Santos afirmou estar preparada para assumir o Governo do Piauí no dia 01 de janeiro de 2019, citando que seu partido possui um "projeto de vida para classe trabalhadora". Candidata falou de suas propostas para áreas importantes como Segurança, Educação, e vulnerabilidade social. "Gente, nós não combatemos a violência com mais violência", afirmou. 

Ela também fez duras criticas a atual gestão de Wellington Dias, abordando os recentes casos de feminicídio. "Está acontecendo uma matança das mulheres no Piauí", disse.

Amadeu Campos: Candidata,  por que o senhora se considera preparada para governar o Piauí?

Luciane Santos:  Bem, como eu havia falado, nós temos nossas candidaturas no Estado e à Presidência da República, e nós precisamos falar da candidatura à Presidência porque nós estamos vivendo um verdadeiro boicote. A nossa candidata Vera Lúcia, ela não está sendo chamada para nenhum debate, e isso demonstra o caráter anti-democrático dessas eleições e nós temos uma alternativa para os trabalhadores. Nós temos uma chapa negra, operaria, nordestina e que apresenta uma saída para crise dos trabalhadores. Vera Lúcia é sapateia, nordestina, de Sergipe, e nós temos o nosso vice Hertz Dias, que é professor da rede estadual do Maranhão, militante do Movimento Negro e militante do Movimento Hip Rop.

Nós aqui no Piauí também estamos lançando campanha para apresentar um projeto de vida para classe trabalhadora. O que se discute aqui entre os candidatos são dois projetos distintos: um que atende aos interesses dos grandes empresários, dos bilionários do estado, que tem como temas principais as privatizações, aí você ver as privatizações que vem ocorrendo no estado, que nada mais é para atender os interesses dos candidatos. Nós temos candidaturas que defendem as reformas, que é algo que ataca diretamente o direito da classe trabalhadora; e nós temos um projeto que, de fato, é socialista e que vai atender às demandas e as necessidades da classe trabalhadora. Nós do PSTU apresentamos esse projeto, e esse projeto passa por um chamado a “rebelião”.

É preciso que os trabalhadores se organizem para dar um basta em tudo que está aí. Não é possível que 90% da população que trabalha, que gera riqueza para o estado e para o Brasil, tenha que viver numa situação de miseriabilidade, sem emprego, sem direito à educação,  sem direito à saúde e à basicamente nada. Então o chamado do PSTU, as nossas candidaturas estão à servido disso, das lutas, à serviço de um projeto que ataque essa crise que está sendo jogada nas costas da classe trabalhadora.

Ananias Ribeiro: Candidata, a senhora falou sobre rebelião diante da atual crise que passa o país. Na prática, como se daria essa rebelião?

Luciane Santos: Gente, quando a gente fala em rebelião muitas pessoas ficaram assustadas, mas na prática os trabalhadores já estão rebelados. Vou dar aqui um exemplo, Ananias, da últimas rebeliões que ocorreram no país. A grave dos caminhoneiros, que de fato causou um caos no país, mas que houve uma aceitação de 80% da população. Aquela luta dos caminhoneiros não era simplesmente contra aumento dos impostos, da gasolina. Ali havia uma insatisfação geral da população contra à privatização da Eletrobras, contra carestia no gás de cozinha. Para vocês terem uma ideia, é inadmissível que um trabalhador que recebe abaixo de um salário mínimo,  tenha que tirar foi seu orçamento mais de R$ 100 para comprar um gás de cozinha. Então isso é exemplo de rebelião. Outro exemplo que acontece aqui no estado,  os professores que estão em grave há mais de 70 dias lutando por um piso que já é rebaixado, que não valoriza a categoria. Os professores estão rebelados, revoltados com o sucateamento das escolas públicas. Eu sou professora, eu sei a realidade da educação do estado no município. Nos jogam em uma sala de aula sem a menor condição de trabalho e querem que nós professores dê conta das mazelas do mundo. Os alunos estão extremamente desmotivados porque não vêem mais na escola uma perspectiva de futuro, porque isso é uma política pensada de todos os governos que estão aí, que é piorar a vida da classe trabalhadora. Então, Ananias, a rebelião é a organização dos trabalhadores para darem basta em tudo que está aí.

Arimatéa Carvalho: Professora, em um manifesto do seu partido, PSTU, um manifesto que conclama o socialismo, você fala nesse documento de uma gestão com conselhos populares. Vamos considerar a seguinte situação, a senhora é eleita governadora do Piauí, no entanto, Vera Lúcia não é eleita presidente da República. O Piauí vai ficar uma ilha de socialismo no meio de um grande país capitalista, onde os grandes grupos econômicos, sobretudo o Mercado Financeiro, tem grande peso na vida cotidiana, em determinar como vivemos. Como seria sua gestão, considerando essa participação dos conselhos populares?

Luciane Santos: Olha só, Arimatéa, o que a gente ver no país e no estado do Piauí, é o Congresso e a Assembleia sendo transformados em uma balcão de negócios. Essa Assembleia, esse Congresso que estão aí não governam para classe trabalhadora. Esses que estão aí governam apenas para os interesses próprios. Nós do PSTU defendemos um governo socialista e apoiado nos conselhos populares, porque quem vai decidir os rumos do estado e do país são aqueles que produzem a riqueza, são trabalhadores.

Amadeu Campos: Professora, como a senhora lidaria, por exemplo, com a Assembleia amplamente desfavorável caso seja eleita? Porque as previsões indicam que boa parte dos que estão lá vão retornar, então como a senhora lidaria entendendo que o ordenamento jurídico hoje do país diz que o Legislativo é um poder constituído, assim como Executivo?

Luciane Santos: São os trabalhadores que produzem a riqueza desse país e que vão dizer como vai ser gasto com a educação, com a saúde, com o saneamento básico e com a geração de emprego e renda. Somos nós trabalhadores e que produzimos as riquezas desse país é que temos condições de dizer com o que vai ser gasto. Você acha que esses políticos milionários, latifundiários que estão aí na Assembleia Legislativa, vão ter a sensibilidade de saber o que um morador da periferia, o que um morador dos ‘rincões’ do Piauí está precisando? Nós iríamos governar com os trabalhadores. Vou te darem exemplo.

Amadeu Campos: Se for aprovar um projeto de lei tem que passar pela Assembleia, então como a senhora fará?

Luciane Santos: Justamente isso que iria falar, se a gente tem um projeto de lei que discute sobre a necessidade de uma reforma agrária no estado e esses parlamentares, que a maioria são latifundiários, votam contra, o que é mais democrático: a gente chamar o povo e dizer “não, aqui a lei vai ter que ser aplicada, ou vocês estão governado para gente ou para os interesses de vocês?”, então o que é mais democrático: governar com trabalhadores ou governar com essa Assembleia que está aí e que de fato não pensa em medidas para melhorar a situação dos trabalhadores?

Nós do PSTU preferimos, escolhemos o lado de estar governado ao lado dos trabalhadores, através dos conselhos populares. É isso que o país está precisando, que os trabalhadores digam com o que vai ser investido toda riqueza que ele produz, porque é muito interessante, a produção da riqueza é social, 90% dos trabalhadores produzem a riqueza do país. E a apropriação é o quê? Os bilionários se apropriam daquilo que os trabalhadores produzem? Não, a gente tem que acabar com isso. A nossa proposta de governo, proposta do PSTU é justamente acabar com isso. Não há meio termo. Quem produz a riqueza do país tem que se apropriar dela, e quem produz são os trabalhadores.

Ananias Ribeiro: Candidata, uma das grandes preocupações da sociedade hoje é com a segurança pública. Qual a proposta da senhora, do PSTU para esta área? Há grupos defendendo o fortalecimento da sociedade no acesso às armas e grupos defendendo que a conexão social é o melhor caminho.

Luciane Santos: Bem, quando se fala em segurança pública vem no ideário da cabeça das pessoas, e é a proposta de muitos candidatos que passaram por aqui, policiais fortemente armados. Gente, nós não combatemos a violência com mais violência. O governador Wellington Dias em sua campanha passada, ele propôs, como programa de governo, pedir ajuda e incorporar às Forças Armadas no Estado.  E eu pergunto a vocês, houve melhoria com relação a violência? Nós moradores da periferia sofremos constantemente com a violência. Nós precisamos tratar a violência como um problema social. Nós não podemos tratar a violência apenas como um caso de polícia. A maioria da juventude que mora na periferia não tem acesso a nada, as pessoas não tem acesso a emprego, não tem acesso à cultura, à lazer, não tem acesso às uma educação pública de qualidade. Então isso faz com que haja um aumento da violência, e quando se coloca policiais fortemente armados, eles vão somente para periferia.

Luciane Santos: Por exemplo, o que aconteceu recentemente na Casa Hip Hop, quando a periferia tenta expor a sua cultura ela é criminalizada. Teve um evento lá na Casa Hip Hop, lá no Parque Piauí, um evento que foi pensado durante meses e quando os grupos estava lá se apresentando, a polícia chegou encapuzada, sem identificação, num tom mesmo de extermínio, porque quando você chega que não se identifica, fortemente armado e sem identificação, isso é o quê? Um tom de extermínio! Mandou parar a festa, deu “baculejo” em todo mundo, disse que recebeu uma denúncia. Então o que é isso? É a criminalização da cultura da periferia. Eu duvido que esses policiais cheguem dessa forma nas casas de diversão da zona Leste. Não chegam porque há uma padronização dos indivíduos que são suspeitos. Esses indivíduos suspeitos são os negros, moradores da periferia. Então para tratar a questão, nós temos que mudar a concepção de segurança pública. É preciso haver um investimento radical nas políticas sociais, para que os pais de família tenham emprego e não fiquem vulneráveis à uma situação de violência.

Amadeu, nós temos 200 mil trabalhadores que estão desempregados no estado do Piauí. Nesse momento são 200 mil pais de famílias que não tem nem como alimentar seus filhos. Essas pessoas ficam vulneráveis à situações de violência. Nós temos uma juventude da capital e do campo que é totalmente marginalizada, que muitas vezes não chega na escola porque não tem nem como pegar um ônibus. Então essa questão da violência precisa ser pensada de forma radical, precisas ter investimento. Mas não tem por quê?

Amadeu Campos: Candidata, o orçamento do Piauí pode chegar a R$ 10 bilhões no ano que vem, e a senhora propõe que 1% do orçamento-geral seja destinado para combater à violência contra a mulher, o que seria, de grosso modo, R$ 100 milhões. Queria que a senhora detalhasse e como aconteceria isso, e como seria aplicado?

Luciane Santos: Nós viemos num país que é o quinto que mais mata mulheres no mundo, nós viemos em um estado, que saiu recentemente no Mapa da Violência, que coloca o Piauí liderando o ranking no número de femicídios. Os feminicídios acontecem por vários motivos, um deles é a questão do machismo. A gente vive em uma sociedade extremamente machista em que os homens acham que podem decidir sobe a vida das mulheres, mas nós temos outro elemento fundamental, que é o elemento da culpa dos governos com relação à isso. Quando você não investe em políticas públicas de combate à violência ou em qualquer outros setores oprimidos da sociedade, que são as mulheres, negros e LGBTs, de fato vai fazer uma matança e aqui no Piauí está acontecendo uma matança das mulheres. Nós viemos em em estado que tem apenas uma Casa Abrigo e que nem funciona direito, por que? Porque não tem estrutura, não é investido. Nós temos poucas delegacias especializadas para atender essas mulheres vítimas de violência.

E nós já recebemos várias denúncias de mulheres que quando vão nas delegacias fazer boletim de ocorrência, que já vivenciei isso com uma pessoa que foi fazer o B.O, ela é muito maltratada na delegacia. Nós temos profissionais que não são preparados, e para pensar a questão da violência contra a mulher não basta só atuar no momento em que ela sofre violência. É preciso pensar também em políticas públicas que possam atender às mulheres da classe trabalhadora. Nós temos que pensar em geração de emprego e renda porque a maioria dessas mulheres que sofrem violência, que se submetem à situação de violência, é porque elas não têm independência financeira.

Amadeu Campos: Esse dinheiro, 1% do orçamento, ele iria para qual lugar?

Luciane Santos: Esse 1% seria investido nas políticas de combate à violência. Não sei se uma secretaria, porque a gente vê tantas secretarias aí no estado do Piauí e que não resolvem às demandas dos trabalhares,então seriam as próprias trabalhadoras que diriam como esse dinheiro seria investido, utilizado. A gente precisaria construir mais Casas Abrigo para atender essas mulheres vítimas de violência. Nós precisamos de uma rede multidisciplinar que atenda essas mulheres, com atendimento de assistência social, psicóloga, médico.



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