Ex-ministro Renato Janine Ribeiro repercute saída de Weintraub do MEC

Abraham Weintraub deixa o MEC após sequência de crises com outras instituições

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O ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, que é professor de ética e filosofia, cientista político, escritor e colunista, concedeu entrevista nesta sexta-feira (19), direto de São Paulo, por videoconferência, para o programa Notícias da Boa, da TV Rádio Jornal Meio Norte (Canal 20.1 e 90.3 FM), com apresentação da jornalista Cinthia Lages e comentou sobre o futuro da educação após a demissão do ministro Abraham Weintraub, que permaneceu 14 meses no cargo e deixa o MEC após sequência de crises com outras instituições. Nos últimos meses, ofendeu chineses e chamou ministros do STF de 'vagabundos'. O agora ex-ministro foi indicado para o cargo de diretor-executivo do grupo de países liderado pelo Brasil no Banco Mundial.

“Eu acompanhei a gestão dele com muito espanto, porque apesar de eu não esperar grande coisa do governo Bolsonaro, eu jamais pensei que a educação fosse educação fosse alvo de tanto desprezo e descaso como esse governo mostrou. Ao longo de mais de 20 anos, começando com o governo Itamar Franco, nós tivemos ministro sérios, mas mais do que isso nós tivemos ministros que seguiram uma agenda, ou seja, disseram que o fundamental é melhorar a educação básica pública, vamos colocar dinheiro, investir em qualidade, então se criou o piso nacional mínimo da rede pública, houve expansão de universidades, criação de escolas cientificas, que são os institutos federais e isso tudo foi uma sequência, independente do partido, Itamar Franco era de um partido, Fernando Henrique de outro, Lula e Dilma de outros, mas houve um consenso sendo construído e com o apoio do setor privado. Nós vivemos um período que se percebeu qual eram as prioridades, tínhamos que ter uma base curricular mínima, melhorar a qualidade dos professores, tornar a profissão atrativa mediante um salário bom, ter livros didáticos acessíveis e de repente nós tivemos um governo que não deu a menor importância a isso, que em um ano fez um pauta puramente ideológica e o curioso é que eles acusavam os governos petistas de criar uma escola partidarizada, eles criaram um movimento chamada ‘Escola sem Partido’, mas quem criou partido foram eles, então foi um ministro totalmente alheio aos assuntos da pauta”, afirmou.

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Para Renato Janine Ribeiro, que é conhecido sobretudo por seus trabalhos sobre o pensador inglês Thomas Hobbes, acerca da cultura política nas “sociedades ocidentais dissidentes” e por sua participação no debate político brasileiro, outro fator crucial é a questão do, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que é um conjunto de fundos contábeis formado por recursos dos três níveis da administração pública do Brasil para promover o financiamento da educação básica pública, que, segundo ele ao longo dos últimos meses vem se fragmentando. “ Até hoje o governo não falou nada a respeito e está nas mãos dos parlamentares. Uma das questões fundamentais e mais urgentes é votar logo o Fundeb, diante um governo que é totalmente alheio a esse assunto”, acrescentou.

O ex-ministro Renato Janine avaliou ainda os pontos que consideram que a educação foi mais prejudicada durante a gestão de Weintraub. “Eu vou de dois pontos, quando esse governo assumiu eles não tinham projeto para a educação, usaram mais a educação para atacar Paulo Freire do que para dizer o que eles iriam fazer, você não pode fazer uma campanha só dizendo que é conta, você tem que dizer o que vai fazer e quando assumiram falaram a mesma coisa que nós ministros dissemos nos últimos 20 anos e não fizeram nada nessa direção, você não tem um projeto importante novo, fizeram duas medidas para impedir universidades e institutos escolhessem seus reitores livremente e ainda tiraram recursos do ensino superior. Eles prometeram educação básica e não cumpriram. O segundo ponto é a pandemia, que chegou ao Brasil dois meses depois de outros casos do mundo, então o país tinha uma experiência internacional para saber o que fazer, então veja, o fato é que escolas particulares estão conseguindo com êxito a implementação das aulas online através do sistema remoto e as escolas públicas não estão, seja por falta de equipamentos, internet, preparação ou capacitação, enfim, nós não ouvimos uma palavra do governo federal a respeito do assunto para que os alunos pudessem acompanhar as aulas a distância. O problema não é a dificuldade, mas sim porque não houve nenhuma tentativa por parte do governo que continua alheio as demandas da sociedade, principalmente a parcela mais vulnerável. O papel do poder público é igualar as oportunidades”, acrescentou.

Por fim, o ex-ministro comentou a respeito do projeto de lei de Bolsonaro que pretende regulamentar a educação domiciliar no Brasil. A educação domiciliar é uma modalidade de ensino em que pais ou tutores assumem o processo de aprendizagem das crianças, ensinando a elas os conteúdos em casa ou contratando professores particulares. No entanto, não havia regras para a prática até então. Ele lembrou que para importar modelos de educação de outros países é preciso investir em tecnologia e estrutura para que não haja uma exclusão no ensino.

“A educação online pode trazer muitas cosias boas, mas o ideal é que ela seja para adulto, implementar esse sistema para uma criança não é uma tarefa fácil, porque existe a distração, porque a criança é um ser carinhoso, precisa de afeto, de atenção, ai vem uma pandemia dessa e vamos tentar uma redução de danos, mas essa não seria a situação perfeita. Esse modelo de escola em casa reivindicando por um pequeno grupo de pessoas que esquecem que é muito difícil um pai e uma mãe terem em casa conhecimento para substituir o que um professor formado possui, o segundo ponto é que a educação não é só despejar conteúdo, mas você preparar a criança para a vida, então a escola vai qualificar a criança e o adolescente para a vida em sociedade”, pontuou.



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