Quem vê Madalena Gordiano, 46 anos, agora não imagina o sofrimento que ela viveu nos 38 trabalhando em situação análoga à escravidão para uma família de Patos de Minas, no interior de Minas Gerais. Impedida de ir à escola, Madalena perdeu a infância e na vida adulta foi obrigada a trabalhar recebendo um salário irrisório. Ela viva num quartinho sem janelas e sem ventilação quando foi resgatada em novembro de 2020.
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Hoje, dois meses depois, Madalena tem sua dignidade de volta. Com sorriso largo e visivelmente mais jovem, Madalena concedeu entrevista ao programa Notícias da Boa, nesta quarta-feira (10) e falou sobre o resgate da autoestima para a jornalista Cinthia Lages. Muita coisa mudou na vida dela desde o resgate. Ela já deixou a imagem abatida para trás e agora aparece com cabelos alongados, maquiada e com um belo sorriso estampado no rosto – visivelmente mais jovem e feliz por estar, finalmente, livre dos abusos.
“Meu sonho é apreder mais de português e matemática, até para poder usar o dinheiro da minha pensão, eu só estudei até a terceira série do ensino fundamental quando eu tinha 8 anos que fui tirada da escola porque eu já estava grande e precisava trabalhar. Eu não tinha quarto, dormia em colchão no chão. Eles não deixavam eu ver minha família”, disse.
Depois da liberdade, Madalena está aprendendo a ler e escrever e tem frequentado Brasília, se juntando na luta contra o trabalho escravo no país. A história de Madalena chocou ao Brasil quando ela foi resgatada da casa dos Rigueira. A mulher contou às autoridades que, aos oito anos de idade, bateu na porta da residência da professora Maria das Graças Milagres Rigueira para pedir um pão e nunca mais saiu de lá.
Madalena se casou em 2001 com um tio da esposa de Dalton, que era ex-combatente e deixou pensão de R$ 8 mil para ela. A família, porém, controlava todo o dinheiro e só repassava R$ 200 para Madalena. Ela só conseguiu escapar dos abusos quando começou mandar bilhetes para os vizinhos com pedidos básicos, como itens de higiene pessoal. Depois de descoberto, Dalton está sendo obrigado pela Justiça a pagar todos os direitos que deve a ela.
“Eu sabia que tinha direito a uma pensão do meu marido, mas eles me pediram para não contar. Eles pediram para eu casar com o moço que eu tava para eu ter direito a uma pensão, e eu não tinha nada, nem dinheiro para comprar absorvente porque eu ainda sou moça e nem sabonete para tomar banho e tinha que pedir para os vizinhos”, acrescentou.
Madelena revela que agora está vivendo na casa de uma assistente social e seu sonho é ter sua própria casa e retomar os estudos. “Eu não sinto magoa, mas não quero mais ver aquela família e agora saio para passear, faço cabelo, maquiagem, compro minhas coisas, almoço em restaurante e estou vivendo e muito feliz”, afirmou em entrevista à TV Jornal.
Entenda o caso Madalena
Madalena Gordiano foi encontrada por agentes do MPT (Ministério Público do Trabalho) em situação análoga à escravidão no dia 28 de novembro na casa do professor universitário Dalton Cesar Milagres Rigueira.
No final de janeiro, o casal Valdirene e Dalton firmou acordo extrajudicial com o MPT para pagar os direitos trabalhistas a Madalena.
O acordo prevê o pagamento de verbas salariais e rescisórias calculadas com base no salário mensal de R$ 1.045,00, por um período de 14 anos completos, entre dezembro de 2006 a novembro de 2020, período em que ela prestou serviços na casa da família Rigueira.
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