Carne bovina no Brasil Colônia era abandonada para índios e animais

Os bois eram abatidos para retirada do couro

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O Brasil é o país que mais exporta carne bovina. Mesmo em meio à crise provocada pelo coronavírus e à inflação, bateu o recorde mensal de 211,85 mil toneladas enviadas para fora, de acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). 

Apesar do rebanho que impressiona o mundo, a criação e o consumo de boi por aqui se trata de uma tradição construída. "Não é uma cultura brasileira, mas mundial. O colonialismo do ocidente impôs ao mundo todo a galinha, o porco e o boi", explica Carlos Alberto Doria.

Doutor em sociologia e autor do livro "Formação da culinária brasileira", o pesquisador fala sobre a substituição das carnes da terra pelos animais domésticos adotados pelos europeus no curso on-line "Hierarquia das Carnes", que tem início no sábado (25) pela Escola do Gosto. 

Em entrevista a Nossa, no site Uol, ele conta que os cronistas coloniais apreciavam os bichos selvagens consumidos pelos índios. Porco-do-mato, tatu, tartaruga, paca, veado e macaco são exemplos.

Os bois de origem europeia foram trazidos ao Brasil pela primeira vez por volta de 1534.

A caravela Galga, presente em diversos documentos históricos, era tida como a principal transportadora de bois de Cabo Verde e Açores, em Portugal, até Salvador, capital da colônia à época. Esse fluxo era incentivado pela corte na metade do século 16. 

Valorizados pelo porte físico, os animais eram usados como força motriz dos engenhos de cana e se espalharam pelo litoral. "Não havia a regionalização culinária da carne bovina. O que existiu foi uma agroindústria para dar sustentação especialmente ao açúcar no Nordeste".

 Com o tempo e o crescimento dos rebanhos, os bois foram direcionados para o interior. De acordo com a historiadora Maria Yedda Linhares (1921 - 2011),  sesmeiros arrendavam espaços a quem tinha rebanho a fim de ocupar os territórios, já que terras livres poderiam voltar para a coroa portuguesa e serem redistribuídas.

Doria diz:

 "Houve uma separação dos dois setores, da cana e da pecuária. Basicamente, os bois eram usados para tração e transporte. A carne também era salgada e alimentava os escravos. Esse foi o status inicial do boi". 

No final do século 18, com as secas no Nordeste, há uma transferência da carne de sol para os Pampas Gaúchos. Produtores se instalaram principalmente em Pelotas, no Rio Grande do Sul. ""Lá, os bois eram abatidos pelo couro. Há registros de navios espanhóis que levavam o material para Madrid". 

E o que acontecia com a carne? Deixavam no pasto para os animais, para as feras, para os índios. Era uma carne abandonada".

Valorização à mesa

Esse status começou a mudar de figura, de acordo com Doria, em meados do século 19. "A Europa começa a consumir mais carne. Até então, era algo restrito às classes populares e urbanas. Na nobreza não era comum. Luís XIV e Luís XV, por exemplo, só comiam o palato, que era considerado uma iguaria". 

A modinha europeia foi acompanhada de uma importante inovação técnica: os navios-frigoríficos. A partir daí, o continente era abastecido de exemplares vindos da Austrália, da Argentina, dos Estados Unidos e do Brasil. 

Na mesma época, os bois taurinos que dominavam o território nacional davam espaço às raças zebuínas, vindas da Ásia e mais adaptadas à criação em clima tropical. 

Doria resume: "o boi que entrou no Brasil com a função de suportar economicamente os engenhos de açúcar propagou-se pelo Nordeste, pelo Sul e mais tarde pelo Centro-Oeste e se tornou, então, um item importante de exportação com a invenção do navio frigorífico".

O porco também foi disseminado pelo território nacional, principalmente em áreas caipiras de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Goiás. A sua criação, no entanto, se deu a princípio em nível doméstico.

 "A oposição rural e urbano entre porco e boi, respectivamente, é bastante presente na hieHarquia das carnes até o século 18". 

De acordo com Doria, a região que menos sofreu o que ele coloca como "colonização do gosto" no passado foi a Amazônia, onde predominava a cultura da tartaruga e do peixe-boi. 

Fonte: Uol 



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