Produção de mandioca do Piauí é a 4ª maior do NE; saiba quais os motivos

O melhor preço pago pelo produto estimulou muitos produtores a retornarem a plantar esta cultura, sem falar nas condições climáticas favoráveis

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Qual o prato típico do brasileiro? Quem faz essa pergunta em qualquer região do país tem uma das respostas imediatas, senão, a principal, o tradicional arroz com feijão. Porém, o que pouca gente sabe é que o verdadeiro alimento do Brasil é a mandioca. Ela é a raiz mais consumida em todo território nacional. 

De norte a sul, é um alimento comum na mesa de qualquer família brasileira. Não à toa, ganhou diversos apelidos: macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, maniva e por aí vai.

E nos últimos anos, a produção de mandioca no Piauí segue em ritmo de crescimento. O estado obteve 444 mil toneladas do produto em 2020, quantidade 119% superior a que foi registrada em 2016, ano que a safra do produto voltou a crescer após um longo período de queda. Os dados são da última pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que coloca, ainda, a produção piauiense entre as quatro maiores do Nordeste, ficando atrás apenas de Bahia, Ceará e Alagoas.

Produtores do Piauí produzem e comercialializam a mandioca. (Foto: Divulgação)

“O melhor preço pago pelo produto estimulou muitos produtores a retornarem a plantar esta cultura, sem falar nas condições climáticas favoráveis esses últimos cinco anos”, disse Flávio Cipriano, servidor da Supervisão de Pesquisas Agropecuárias do IBGE no Piauí, responsável pelos números, acrescentando que a mandioca sofreu quedas consecutivas no volume obtido entre 2010 e 2013. “Houve recuperação entre 2014 e 2015, com nova redução em 2016. Desde então, a quantidade tem crescido a cada safra”, completou.

Já em relação a quantidade produzida, a mandioca foi o quarto produto agrícola com maior participação na agricultura piauiense em 2020, último ano do levantamento. Apenas a soja, o milho e a cana-de-açúcar superaram em volume. O alimento também foi o quarto em termos de preço, tendo gerado uma receita de mais de R$ 130 milhões aos produtores. Apenas a soja, o milho e o feijão registraram valores maiores, segundo os dados.

Mandioca é a raiz mais consumida em todo território nacional. (Foto: Divulgação)

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Os municípios de Cocal, Caldeirão Grande do Piauí, Simões, Marcolândia, Bom Princípio do Piauí e Luís Correia são os seis principais produtores de mandioca no Piauí. Juntos, são responsáveis por 52,3% da quantidade total obtida no estado. E foi justamente do litoral piauiense que veio a maior safra de mandioca do Estado. Uma das razões é que a região trabalha com o produto há mais de um século, independente do tempo estar bom ou ruim.

Um desses exemplos é a comunidade Baixa do Eufrásio, na zona rural de Luís Correia. Lá, dezenas de famílias de agricultores vivem do plantio de milho e feijão e, aproveitando o mesmo terreno, fazem o cultivo da mandioca. “A gente planta a nossa safra e nas linhas colocamos a mandioca, geralmente em janeiro, para podermos começar a colher entre julho e setembro”, disse Raimundo José, um dos produtores da cultura na comunidade, ressaltando que cada hectare plantado dá pra tirar uma carga de duas mil mandiocas.

Expectativa de colheita

E para a safra de mandioca atual, que ainda não foi fechada, a expectativa é que os produtores piauienses colham mais de meia tonelada do produto, um crescimento estimado em cerca de 10% em relação a colheita anterior. 

Caso isso se confirme, será a primeira vez em uma década que o Piauí alcançará novamente essa marca. A última vez, segundo dados do IBGE, ocorreu no ano de 2011, quando foram colhidos 511,4 mil quilos do produto.

No entanto, a estimativa de produção do IBGE para a safra 2021/2022 em todo o país é de 18 milhões de toneladas de mandioca, 2,7% abaixo da safra anterior. Segundo a previsão do órgão, o Paraná, que é o Estado responsável por 70% da produção de fécula no Brasil, a produtividade deve ter uma queda de 5% na safra 2021/2022.

Estimatica de colheita é de mais de meia tonelada. (Foto: Divulgação)

A produção nesse estado deverá ser de 2,84 milhões de toneladas colhidas, uma queda de 7%, a menor desde 2004. No Nordeste, a Bahia tem uma produção de quase 800 mil quilos de mandioca, sendo considerado o maior produtor.

Já o aumento no custo de produção e o clima afetaram o preço da mandioca, associado, claro, a uma série de outros fatores, conforme pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), órgão ligado a Universidade de São Paulo (USP). Vale ressaltar que o preço médio nominal, em março, a prazo da tonelada de mandioca posta fecularia, foi de R$ 750,58 (R$ 1,3054 por grama de amido), recorde da série histórica da entidade.

Valorização do preço

A menor disponibilidade de lavouras com mais de 15 meses e a retração dos produtores por conta da produtividade e do teor de amido baixos continuam determinantes para a tomada de decisão pela colheita. A alta nos preços pode atingir o consumidor e a indústria de várias formas, uma vez que a fécula de mandioca é usada não apenas para fazer tapioca e sagu, mas também cosméticos, comprimidos da indústria farmacêutica, sacolas biodegradáveis e até mesmo é usada no resfriamento de brocas da indústria petroleira.

Segundo Fábio Isaias Felipe, pesquisador da área de mandioca do Cepea, há uma série de fatores que explicam essa escalada de preços. Em primeiro lugar, a rentabilidade dos produtores tem sido comprometida desde 2020. “Nesse cenário de baixa rentabilidade, outras atividades tiveram preços promissores em regiões onde a mandioca concorre com boi, grãos, cana e amendoim. O que acabou ocorrendo é que os produtores migraram para essas outras atividades ocasionando redução da área cultivada”, diz Felipe.

Fécula da madioca é usada em vários produtos. (Foto: Divulgação)

Houve também impactos do clima, com excesso de chuva, seca, geadas e calor nas regiões produtoras. De acordo com o IBGE, a produtividade da safra 2021/2022 para mandioca de mesa e para a indústria, tem previsão de 14,4 toneladas por hectare na média no país, uma queda de 3,7% em relação a safra anterior. “Tudo isso reduziu produtividade agrícola também”, explica o pesquisador.

Como a colheita da mandioca leva, no máximo, 12 meses, Felipe diz que os produtores estão descapitalizados o que, frente ao aumento de custos de produção, prejudica decisões sobre plantio. Por isso, mesmo com o preço em alta, parece haver resistência do produtor plantar. “E estamos em um momento de tomada de decisão de plantio e tem havido pouca movimentação nesse sentido. Não tem sido perceptível a animação dos agricultores em plantar mandioca, porque os custos estão bastante elevados e devem pesar para a cultura da mandioca”, conclui.



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