Safra de milho é recorde no Piauí e chega ao sul do país

Na contramão dos estados do país, Piauí aumentou a produção

FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

Liana Paiva

repórter

Que a soja é o carro-chefe do agronegócio piauiense, isso é consenso no setor. A cada ano, a produção do grão só aumenta, representando, atualmente, quase 53% da safra total, que chega a pouco mais de 5,2 milhões de toneladas.

Entretanto, o milho, também, vem ganhando bastante espaço entre os produtores do Estado. A previsão da colheita desta cultura na safra de 2021, que será concluída em setembro, é de, aproximadamente 2,3 milhões de toneladas, uma alta de 3,1% frente a safra passada.

E esse aumento da safra piauiense de milho ganhou mais destaque porque vai na contramão da produção nacional desta cultura. Por conta da estiagem e geada na maioria dos estados, a produção de milho no país deve fecha o ano com uma queda de 15,5%. A primeira safra, de verão, está projetada em 24,9 milhões de toneladas, 11% abaixo da safra anterior. A segunda safra, tradicionalmente chamada de "safrinha", deve ser de 60,32 milhões de toneladas, 19,6% abaixo de 2020.

"Em vários Estados não tivemos chuvas e foi pior do que o esperado. Em Goiás, por exemplo, a queda foi de quase 32%", afirmou Carlos Antônio Barradas, analista de Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Para piorar, tivemos as baixas temperaturas (mais recentemente). Em muitas regiões do Paraná e de Mato Grosso do Sul, geou. Isso complica porque pegou boa parte das lavouras de segunda safra, mas só vamos ter a noção quando terminar a colheita de todo o milho", completou o pesquisador.

Os dados são das recentes pesquisas Agropecuária do IBGE e da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), que revelam, ainda, que, além do Piauí, somente outros cinco estados devem registrar crescimento na safra de milho. Fato este que fez com que a produção estadual alcançasse um feito inédito neste ano, conforme as associações de produtores, que foi romper a fronteira nordestina e vender o produto para estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

A venda do milho piauiense foi destinada para estados como Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo e até Paraná, que vem se destacando nacionalmente na produção de carne bovina.

Produtividade em crescimento

De acordo com Rafael Maschio, diretor da Associação de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja Piauí), antes, a produção piauiense de milho ficava apenas no mercado interno, mas em seguida passou a ser vendida para Pernambuco e outros estados nordestinos, sendo que agora comercializa para o Sul do país.

"Esses estados que compraram milho piauiense são exportadores, mas por conta da estiagem e geadas, tiveram problemas em suas safras e sentiram carência do produto, por isso, vieram atrás do nosso milho, tanto para o consumo dentro dos estados como para a alimentação de animais", disse Rafael, acrescentando que, nos últimos dez anos, a produtividade do milho piauiense aumentou bastante. "Cerca de 55% da área plantada dos cerrados é com milho, o que gera 95% de produção da cultura no Estado", reforça.

O diretor da Aprosoja ressalta, ainda, os produtores piauienses, principalmente os dos cerrados, que ficam no extremo Sul do Estado, que tem procurado investir em grãos de qualidade, mecanização da colheita e uso de defensivos e herbicidas, além da correção do solo. Pedro Junior Zimmermann é um deles. Oriundo do Sul do país, o produtor chegou no Piauí ainda em 1999, quando passou a investir na agricultura junto com seus pais e dois irmãos. No ano seguinte, fez uma experiência com o milho e dez anos depois, ou seja, em 2010, passou a plantar o grão como “safrinha’. “Atualmente, faço o plantio do grão como segunda safra, após a soja. Dependendo do ano, chego a destinar ate 40% de nossa área para o grão. Nessa safra, a nossa produtividade do milho verão já chegou a uma média 162 sacas por hectare”, disse o produtor, lembrando que em quilo foi alcançada uma marca de mais de 9,7mil kg por hectare. “Passei a apostar no grão quando percebi que a procura pelo milho era grande e continua sendo”, explica

.Investimento no milho gera resultados

E a produção de milho no Piauí também tem crescido bastante pelo fato do produto ser uma das principais na cadeia alimentar do rebanho bovino. O farelo de milho, por exemplo, um subproduto, é usado para alimentar o gado, tanto de corte como de leite. E a produção de carne tem crescido bastante no estado, bem como na maioria do país. O rebanho bovino piauiense já é superior a mais de 1,7 milhão de cabeças, com maior destaque para a região Sul.

Outro fato é que neste ano, mesmo sem grandes festejos juninos, devido a pandemia da Covid-19, a venda do tradicional milho cresceu em relação a 2020. De acordo com os vendedores, os piauienses mantiveram, de alguma forma, a tradição de consumir o milho e as vendas melhoraram. Tudo isso foi refletido na balança comercial brasileira que registrou superávit de 10,3 bilhões de dólares, no primeiro semestre, o maior saldo mensal em 33 anos.

Quanto ao milho, as exportações cresceram 30% no primeiro quadrimestre deste ano, isso porque foram 3,8 milhões de toneladas até agora, 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Segundo Carlo Logo, analista de mercado da Cogo Consultoria, mesmo com uma quebra na segunda safra do milho, o Brasil não deve ter problemas com o abastecimento interno, mas prevê alta no preço do grão.

"Devido a uma inesperada quebra na segunda safra do milho, que ainda não se sabe a proporção total, então não dá pra falar que haverá prejuízos, ainda que exista um excedente 50 milhões de toneladas de milho. Contudo, a expectativa é que preço do milho no interior deva ficar acima do preço no porto, já que o Brasil vai reduzir as exportações. Com isso, há uma tendência de pagar a preço mais alto no setor de consumidores, frangos e suínos", explica Cogo.

Maior produtor de grãos do país, Mato Grosso teve uma queda de 4,1% na safra total de milho esse ano. A escassez de chuvas prejudicou o desenvolvimento da segunda safra e deixou os agricultores apreensivos quanto à produtividade das lavouras.

No estado, algumas regiões enfrentam 40 dias de seca com perdas estimadas em até 50% da área. Já o estado do Paraná registrou uma queda de 35,4%, a maior percentualmente no país, saindo de 14,9 milhões de toneladas em 2020 para menos de 9,7 milhões de toneladas.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES