Webber, da F-1, termina amizade com Armstrong: “Nos tratou como idiotas”

Piloto relembra relação com o ex-ciclista: da admiração ao “herói” pela superação do câncer à decepção por um “furo” e pelo escândalo de doping

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Mark Webber é fã de ciclismo. Sempre que tem uma pausa no exigente calendário da Fórmula 1, o piloto de 36 anos tira um tempo para dar umas voltinhas de bicicleta. E nas andanças pelo mundo das duas rodas, o australiano da RBR se aproximou de uma grande personalidade desse esporte: Lance Armstrong. Os dois se tornaram amigos. Porém, a amizade acabou ainda antes do ciclista admitir o uso de doping, em razão de atitudes que deixaram o piloto decepcionado. E como quase todo o mundo, chocado com o escândalo do uso de substâncias ilícitas, Webber também trocou a admiração pela repugnância ao ex-hepta campeão da Volta da França, que perdeu todos os títulos e foi banido do esporte.

- Colocou um monte de gente nisso e tratou todo o restante, nós, como idiotas - destaca o piloto.

Em sua última coluna para o site britânico ?BBC?, o piloto contou a história de sua relação com o Armstrong. Tudo começou em meados da década de 1990 quando Webber passou a se interessar pelo ciclismo ao assistir a Volta da França. Encantado pelo esporte, o até então piloto reserva da Benetton leu o livro ?It?s not about bike? em que Lance Armstrong contava como superou o câncer nos testículos para se tornar o maior campeão da história do ciclismo. Webber passou a admirar o atleta, que chamava de "herói". Em 2001, ao passar por Indianápolis com o circo da Fórmula 1, o australiano aproveitou para visitar o hospital em que Armstrong se tratou de 1996 a 1997. A história de superação atraía Webber, que havia perdido um avô por causa da mesma doença no passado.

- Um dos maiores heróis e maiores influências da minha vida foi meu avô. O último ano e meio de sua vida foi torturante. Ele teve o mais brutal fim de vida com o câncer e isso me nocauteou, pois nocauteou meu pai também. Eu tinha apenas 14 anos. Como muitos pacientes, meu avô teria encontrado tremenda inspiração se a história de Armstrong tivesse acontecido antes. Era um conto incrível de como ele superou a doença como pessoa, como paciente e como atleta ? relata Webber.

Através do círculo em comum do ciclismo, os dois passaram a ser amigos e Webber conta que chegou a pedalar em um rancho que o americano possui no Texas, em 2004.

- Foi algo grande para mim na época. Entrei no mundo dele e de seus companheiros. No livro, ele descrevia o local como lugar que o fazia sentir vivo após sobreviver ao câncer ? conta.

Do período que conviveu com Lance, Webber destacou também a memória e o interesse do ciclista em outros esportes. O australiano conta que o ciclista admirava muito um alemão que também possuía sete títulos em uma grande competição, no caso, a Fórmula 1: Michael Schumacher. Além disso, tinha curiosidade sobre a tecnologia usada na categoria, como túneis de vento, e contemplava figuras históricas, como Sir. Frank Williams, fundador e dono da escuderia que leva seu sobrenome.

Mas amizade acabou alguns anos depois. Bem antes do escândalo do maior caso de doping do esporte mundial vir à tona. Webber havia se decepcionado com um ?bolo? que levou de Armstrong e a falta de satisfações do até então amigo em 2008.

- Nossa amizade acabou em 2008 quando ele furou comigo e com minha esposa Ann após conseguimos passes para ele assistir o GP de Mônaco. A RBR havia ultrapassado os limites para atender suas exigências ? que não eram insignificantes ? e deixou tudo pronto. Mas ele faltou e não deixou um pedido de desculpas. Achei isso pobre. Fiquei decepcionado ? revela.

- No início daquela semana, estávamos pedalando juntos, com mais dois amigos dele em Austin e o ex-campeão de superbike, Troy Bayliss. Um dos companheiros de Lance caiu e se feriu gravemente. Após passar dias no hospital, ainda marcou presença no dia da corrida (de F-1), já Lance, não foi ? completa.

Webber conta que o ?furo?, junto às crescentes histórias de que Armstrong usava substâncias proibidas para ganhar vantagem nas competições, acabou o afastando do ciclismo.

- Os rumores de que Armstrong seria um mentiroso em série e uma fraude me fez perceber que talvez ele não era tudo que eu esperava que ele fosse. Eu me distanciei do ciclismo de estrada como esporte, apesar de incluir a prática em meu programa de treinamento. Eu me perguntava como todos que batiam Armstrong davam positivo nos testes, mas ele nunca. Isso se tornou um assunto muito pesado para discutir com os amigos em comum que compartilhávamos ? explicou, que soube das histórias a partir de conversas com o renomado jornalista Paul Kimmage.

Agora que Lance admitiu o uso de doping em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, o piloto se mostrou ainda mais chocado com o modo como o ex-ciclista conduziu a história ao longo dos anos. Armstrong rebatia as acusações com processos e dizia ser vítima de complôs para derruba-lo.

- Há dois anos, disse aos amigos que ele tinha que se limpar, mas eles achavam que era algo improvável. A palavra ?desafiante? sempre surgia. Armstrong desafiava tudo. Ele acreditava estar limpo. Na entrevista, isso fica evidente. Ele admitiu que era dopado, mas não se via trapaceando. O que fica claro é a quantidade de pessoas que ele estava preparado para tirar do caminho. Gente que estava do lado correto da ponte. Ele não estava preocupado com a situação em que colocava essas pessoas. Tudo fazia parte do ?Planeta Lance?. É por isso, Lance, usando suas próprias palavras, que a "pena de morte" não seria tão pesada (Armstrong disse que ser proibido de competir era como uma "pena de morte"). Você colocou um monte de gente nisso e tratou todo o restante, nós, como idiotas.

Webber não poupou Lance nem outros atletas que também tiveram suas carreiras marcadas pelo doping.

- Sempre que penso em Armstrong, penso nos ciclistas limpos que competiram no sistema alimentado por ele semana após semana. Nunca saberemos, mas alguns deles poderiam ter superado Armstrong, Ivan Basso, Jan Ullrich, Alexander Vinokourov, Alberto Contador, Richard Virenque e outros. Infelizmente, não sei o nome deles, mas pelas minhas contas, moralmente, estão a quilômetros desses caras. A vida é cheia de escolhas. Claro, nenhum de nós é perfeito, mas no fim, o karma sempre triunfa ? completou.



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