Lama de Brumadinho pode chegar ao rio São Francisco

Subiu para 65 o número de mortes confirmadas após o rompimento da barragem

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Atualizado às 19h30

Relatório de monitoramento do Serviço Geológico do Brasil divulgado nesta segunda-feira (28) indica a possibilidade de a lama de rejeitos da Vale chegar à usina hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco. 

Inicialmente, o relatório falava que a lama poderia chegar a Três Marias entre os dias 15 e 20 de fevereiro. À noite, a Agência Nacional de Águas (ANA), parceira do Serviço Geológico no monitoramento, deixou de falar em um prazo específico. 

Foi o primeiro relatório de monitoramento, que será atualizado duas vezes por dia com base em coletas no monitoramento da lama no Paraopeba. O documento aponta que os sedimentos avançam a 1 km por hora. 

 A previsão do Serviço Geológico do Brasil é que a lama chegue a São José da Varginha na terça à noite e à usina hidrelétrica do Retiro Baixo, em Pompéu (MG), entre os dias 5 e 10 de fevereiro. Isso significa um caminho de 310 quilômetros desde Brumadinho. 

Douglas Magno/AFP 

Atualizado às 19h00

Sobe para 65 número de mortos por rompimento da barragem em Brumadinho

Subiu para 65 o número de mortes confirmadas após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) e ainda existem 279 pessoas desaparecidas, informou nesta segunda-feira o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador da Defesa Civil de Minas Gerais.

Em entrevista a jornalistas em Brumadinho, onde a barragem da usina da mina do Córrego do Feijão se rompeu na sexta-feira liberando uma onda de lama que devastou os arredores, Godinho disse que o número de pessoas resgatadas se manteve em 192. Entre os óbitos, 31 corpos foram identificados.

Viviane Possato/TV Globo Minas 

Fernando Moreno/Estadão Conteúdo 

Atualizado às 17h46

Equipamentos de israelenses não ajuda nas buscas, dizem Bombeiros

Os equipamentos trazidos de Israel para Brumadinho (MG) "não são efetivos para esse tipo de desastre", disse o comandante das operações de resgate, o tenente-coronel Eduardo Ângelo.

"O ministro de Israel se pronunciou a respeito das dificuldades que eles tiveram. O imagiador que eles têm pegam corpos quentes, e todos os corpos [na região] são frios. Então esse já é um equipamento ineficiente".

Indagado sobre que outros equipamentos israelenses podem ser usados nas buscas, o comandante afirmou: "Dos equipamentos que eles trouxeram, nenhum se aplica a esse tipo de desastre".

O militar reconheceu que o detector de imagens poderia ser eficaz para localização de sobreviventes, pois capta o calor humano. Porém, nenhum sobrevivente foi localizado pelas buscas das últimas 48 horas. "O que faz [constitui] a imagem é a temperatura. Quando a temperatura está homogênea, é como se não houvesse nada no solo".

O comandante, porém, disse que o apoio dos israelenses é importante e funciona "como mão-de-obra". "As equipes de campo estão acompanhadas pelas equipes dos bombeiros de Minas Gerais."

O comandante voltou a dizer que são pequenas as chances de localização de sobreviventes.

"O que a literatura fala é que depois de 48 horas, a chance é quase nula. Mas existem registro de pessoas que foram encontradas vivas dias depois, mas é um ponto fora da curva. A experiência mostra que a cada dia que passa, a chance é menor".

Os 136 militares israelenses que ajudarão nas buscas em Brumadinho irão se concentrar em localizar sobreviventes. Eles desembarcaram na noite de domingo (27) em Belo Horizonte com 16 toneladas de equipamentos.

"O primeiro passo será o esforço de encontrar pessoas vivas desaparecidas. Esperamos encontrar", disse o coronel Golan Vach, a cargo da equipe.

Uma equipe de comando começou a trabalhar para estudar a tragédia ainda durante a noite. Ao amanhecer, foram ao local atingido para definir estratégias e depois se reuniram com Zema.

Houve ainda videoconferência com equipes em Israel para ajustar os equipamentos à realidade da tragédia. "Temos agora um quadro completo do que precisamos fazer", disse Vach.

Eles irão trabalhar em conjunto com os bombeiros brasileiros na área do refeitório da Vale, onde havia muitas pessoas no momento do rompimento da barragem da Vale.

'Desastre de Brumadinho deve ser investigado como um crime', diz ONU

O rompimento da barragem de Brumadinho deve ser investigado como "um crime", afirmou à BBC News Brasil o relator especial das Nações Unidas para Direitos Humanos e Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak.

"Esse desastre exige que seja assumida responsabilidade pelo o que deveria ser investigado como um crime. O Brasil deveria ter implementado medidas para prevenir colapsos de barragens mortais e catastróficas após o desastre da Samarco de 2015", disse Tuncak, em referência à tragédia de Mariana.

Segundo o relator da ONU, as autoridades brasileiras deveriam ter aumentado o controle ambiental, mas foram "completamente pelo contrário", ignorando alertas da ONU e desrespeitaram os direitos humanos dos trabalhadores e moradores da comunidade local.

Foto: Adriano Machado/ Reuters via BBC News Brasil

"Os esforços contínuos no Brasil para enfraquecer as proteções para comunidades e trabalhadores que lidam com substâncias e resíduos perigosos mostram um desrespeito insensível pelos direitos das comunidades e dos trabalhadores na linha de frente", disse o especialista.

Até o momento foram confirmadas 58 mortes, das quais 19 corpos foram identificados. Pelos menos 305 vítimas seguem desaparecidas.

Tuncak ponderou que a "investigação ainda está em andamento" e que por isso a ONU ainda não pode "comentar sobre as lacunas específicas de proteção" para apontar conclusivamente quais erros levaram à tragédia de Brumadinho, mas ressaltou que a postura brasileira é particularmente "preocupante".

"É particularmente preocupante que especialistas ambientais e membros da comunidade local tenham expressado preocupação sobre o potencial de rompimento do barragem de rejeitos" e que o Brasil tenha ignorado esses alertas, avaliou Tuncak.

"O Brasil deveria ter, muito antes, assegurado o monitoramento efetivo da barragem, incluindo registros robustos da toxicidade e outras propriedades do material sendo descartado, implementado sistemas de alerta precoce para evitar a perda de vida e contaminação no caso da barragem se romper", disse.

"Nem o governo nem a Vale parecem ter aprendido com seus erros e tomado as medidas preventivas necessárias após o desastre da Samarco", criticou.

Tragédia anunciada

Tuncak questionou a previsibilidade da tragédia, porque a instalação dos trabalhadores foi construída em um local evidentemente vulnerável. "É questionável porque onde a instalação para os trabalhadores foi construída estava abaixo da barragem de rejeitos, considerando a clara existência de tal risco (de rompimento)."

"Os números chocantes daqueles encontrados mortos e desaparecidos apontam que este é um dos piores desastres da indústria de mineração na história. O que é particularmente notório é a aparente falta de medidas preventivas tomadas pelo governo e pela empresa ao longo de três anos após o desastre da Samarco", disse.

Tuncak ressaltou que já em 2012 a ONU havia preparado um relatório sobre o tema da mineração e do risco das barragens de rejeitos, mas que a indústria da mineração parece insensível aos apelos por maior sustentabilidade.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que monitora globalmente acidentes de trabalho, "esse é o pior desastre de barragem de rejeito da década".

A organização não forneceu estatísticas específicas sobre as tragédias mais mortais, porém afirmou à BBC News Brasil que já houve no passado tragédias superiores à de Brumadinho.

Em 2004 o Brasil ratificou a convenção da OIT de 1995 para "segurança e saúde nas minas". Apesar da conformidade com os tratados internacionais, segundo Tuncak são "inúmeros" os casos de impunidade, "onde pouca ou nenhuma responsabilidade é encontrada", diz.

De acordo com o relator, os moradores das regiões exploradas raramente são beneficiados pela operação extrativista. "Os benefícios econômicos dessas indústrias dificilmente são compartilhados com as comunidades sujeitas a abusos de seus direitos, devido à poluição tóxica e outras formas de degradação ambiental."

"O setor de mineração tem uma longa história de abusos dos direitos humanos a partir dos riscos e conflitos inerentes que cria. O legado tóxico dos projetos de mineração em todo o mundo – incluindo o catastrófico colapso de barragens de rejeitos – impacta os direitos humanos à vida, à saúde, ao trabalho seguro, à água potável, aos alimentos, e a um ambiente saudável", resume.

Segundo ele, o Brasil precisa "garantir que suas leis, políticas e práticas" respeitem os direitos das comunidades e trabalhadores que enfrentam "riscos tão graves"."O Brasil não pode retroceder em sua obrigação de proteger os direitos dos trabalhadores e comunidades locais, que continuam a enfrentar riscos excessivos devido à mineração e outras indústrias extrativas" defendeu.

Buscas por sobreviventes seguem pelo 4º dia em Brumadinho, MG

As buscas por vítimas e sobreviventes do rompimento de uma barragem da mineradora Vale foram retomadas na manhã desta segunda-feira (28) em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Até agora, 60 mortes e 305 desaparecidos foram confirmados pelas autoridades.

REUTERS/Washington Alves/Direitos Reservados 

Neste quarto dia de buscas, 130 militares de Israel vão reforçar os trabalhos de resgate. A barragem de rejeitos se rompeu na sexta-feira (25) e ficava na mina de Córrego do Fundão. A lama varreu a comunidade local e parte do centro administrativo da empresa. Entre as vítimas estão moradores locais e funcionários da Vale.

O número de mortos deve aumentar, segundo o tenente coronel Flávio Godinho, da Defesa Civil de Minas Gerais. Em entrevista, ele afirmou que há corpos dentro de um segundo ônibus soterrado perto do centro administrativo da Vale em Brumadinho. A quantidade de vítimas dentro do veículo, no entanto, não foi confirmada.

Por causa da localização do ônibus soterrado, as autoridades haviam decidido não suspender as buscas durante a madrugada. No entanto, o alto volume de lama impediu que os trabalhos continuassem. As buscas foram interrompidas na noite de domingo e foram retomadas por volta das 4h desta segunda-feira (28).

Também na noite de domingo um avião com cerca de 130 militares e 16 toneladas de equipamentos enviados por Israel chegou ao aeroporto de Confins. A tropa vai ajudar nas buscas por vítimas. Os israelenses passaram a viagem planejando os trabalhos. No aeroporto em Confins, os estrangeiros se reuniram com equipes que comandam os resgates em Brumadinho.

O que se sabe até agora:

  • Dos 58 mortos confirmados, 19 foram identificados (veja lista);
  • 192 sobreviventes foram resgatados;
  • Entre as 305 pessoas desaparecidas, há moradores locais e funcionários da Vale. No sábado, a mineradora divulgou uma lista com nomes de pessoas que não foram encontradas (veja);
  • Familiares de desaparecidos buscaram informações no IML de BH. Uma força-tarefa foi formada, mas a identificação dos corpos é difícil;
  • Bombeiros divulgaram lista de 183 nomes de pessoas que foram achadas vivas (veja);
  • A Vale já teve três bloqueios de recursos, de R$ 1 bilhão, e dois de R$ 5 bilhões (veja) e recebeu multas no total de R$ 350 milhões;
  • A Vale suspendeu bônus a executivos da empresa e pagamento de lucros a acionistas e criou 2 comitês para acompanhar a tragédia (veja);
  • As Polícias Federal e Civil abriram inquéritos sobre o rompimento (veja);
  • O presidente Jair Bolsonaro, ministros, o governador Romeu Zema e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge sobrevoaram a área e prometeram ações de investigação, punição e prevenção;
  • A ONU emitiu nota de pesar e ofereceu ajuda nos esforços de busca.


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