Falta de regras para o uso de redes sociais provoca demissões

Especialistas explicam que problema ocorre por falta de um código de conduta

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Nos últimos meses, alguns desabafos de internautas nas redes sociais que dominam o mundo virtual resultaram em demissões na vida real, gerando perplexidade entre as empresas e, é claro, aqueles que perderam seus empregos.

O caso mais recente é do jornalista Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, publicada pela editora Abril. No último domingo (9), ele postou em seu perfil no Twitter duas mensagens que criticavam uma reportagem apresentada na mais recente edição da revista Veja, pertencente ao grupo.

Nesta terça-feira (11), Felipe desabafou em seu perfil no Twitter por ter sido demitido devido às suas críticas.

- Estou destruído, muito chateado. Acabo de ser demitido por causa dessa infeliz conta de Twitter. Sonhos e projetos desmancharam no ar virtual.

O caso revela que algumas empresas monitoram e levam muito em conta o que seus funcionários espalham em suas páginas pessoais.

A advogada Vivian Pratti, especialista em direito digital do escritório de advocacia Patricia Peck, diz que o ideal é que empregadores e funcionários se entendam quando assuntos do trabalho vão parar nas páginas da internet.

- Recomenda-se primeiro que a empresa tenha um código claro de conduta e até mesmo aplique uma advertência antes da demissão, mas isso depende do que cada uma considera prejudicial à sua imagem.

Renato Opice Blum, advogado especialista em direito digital, explica que a demissão por justa causa acontece em casos mais graves.

- Ela ocorre quando a pessoa identifica em seu perfil na rede social que é funcionário da empresa e fala mal da própria companhia ou de funcionários. Mesmo que ele não se identifique, pode ser demitido por justa causa se infringir regras que já tinham sido combinadas antes ou se a empresa julgar que houve prejuízo à sua imagem.

Procurada pela reportagem do R7, a editora Abril confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que Milanez de fato foi demitido. Entretanto, não confirmou se foi por justa causa.

Ações preventivas funcionam melhor do que punitivas

Segundo Alessandro Barbosa, executivo-chefe da E.life,que faz o monitoramento de redes sociais para empresas, pelo menos uma pessoa é demitida a cada semana por fazer comentários diretos contra a companhia da qual faz parte ou contra colegas e chefes, mas muitas dessas demissões acabam sendo abafadas e não chegam ao público.

O executivo diz que o acompanhamento feito pela E.life tem como objetivo verificar o impacto dos comentários feitos pelo público em geral, inclusive dos colaboradores. Ele conta que as empresas devem priorizar ações preventivas em relação às punitivas, mas acrescenta que a maioria delas ainda não tem um manual que ensine boas práticas.

- A maior parte das companhias não tem essa política de bom uso. Orientamos nossos clientes a não intimidar os funcionários, a mostrar como encaminhar as críticas internamente. O boca a boca tornou o que era invisível em visível. Antes a conversa ficava no ar, hoje fica registrada e tem um impacto bem maior.

A consultora de recursos humanos Andrea Huggard-Caine diz que a vigilância acontece mais nas grandes empresas.

- Se o lugar é de pequeno porte não existe tanta preocupação porque conta com menos pessoas. Então, é mais fácil o diretor conversar diretamente com o funcionário.

Segundo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependentes de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da USP, esse tipo de desabafo pode ser consequência de outros problemas maiores, como depressão, isolamento, baixa autoestima e até por uma incapacidade em dialogar.

- Não dá para dizer se essas pessoas têm dependência só por causa disso. Elas podem ter problema para se expressar. Acabam usando o Twitter para manifestar suas insatisfações, só que esquecem que ele é público.

Nabuco diz que antes de demitir funcionários por causa dessas mensagens, as empresas deveriam encaminhar esses profissionais ao psicólogo para saber se não é nada mais grave.

Empresas devem ter código de conduta

Em fevereiro deste ano, Kimberely Swann, ex-funcionária de uma empresa de marketing na cidade de Essex, foi demitida após ter escrito em seu perfil no Facebook que seu emprego era chato. Ela conta que nem ao menos citou o nome do lugar.

O executivo-chefe da E.life diz que, como esse fenômeno é mundial e vai continuar ocorrendo, sua empresa recomenda aos funcionários não falarem mal de seus clientes em redes sociais como o Twitter ou o Facebook.

? Se a pessoa quiser ter liberdade para falar o que pensa, deve colocar um aviso em seu perfil de que suas opiniões não representam as da empresa.

Um mês depois de a inglesa Kimberely ter sido dispensada, Alex Glikas, diretor da empresa brasileira de hospedagem de sites Locaweb, provocou em sua página no Twitter torcedores do São Paulo, time de futebol patrocinado pela marca. Um pouco depois do ocorrido, o executivo saiu da companhia.

A empresa disse que a saída do diretor ocorreu em "comum acordo", e afirmou que a opinião de Glikas "não condiz com o posicionamento corporativo da companhia". Em nota, a Locaweb diz que está criando um manual de redes sociais, que já estava previsto antes da demissão de Glikas.

A empresa química Basf criou, no ano passado, uma diretriz para orientar os funcionários sobre o uso eficiente das redes sociais dentro e fora do trabalho. O texto foi coordenado pelo setor de comunicação, mas as equipes de tecnologia da informação e jurídico também participaram. Gislaine Rossetti, diretora de comunicação para a América do Sul da companhia, explica que o objetivo não é restringir a liberdade de expressão.

- Não existe regra do tipo faça isso e não faça aquilo. As redes sociais são uma realidade na comunicação atual, então procuramos dar uma orientação. Também não há um sistema que monitore os perfis pessoais dos nossos colaboradores. A reputação de uma empresa não se constrói só nas redes sociais.



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