Gambiarras tão comuns na rede elétrica traz perigo à população

Áreas residenciais instaladas em terrenos invadidos possuem uma peculiaridade perigosa.

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Teresina tem crescido bastante nos últimos anos, reflexo disso está na grande quantidade de conjuntos habitacionais construídos na cidade. Na zona Sul, pelo menos três estão sendo construídos, mas esse benefício ainda não chega a todos. Reflexo da insuficiência está nas invasões. Famílias que vivem em condições precárias buscam o sonho da casa própria invadindo terrenos. Na zona Sul isso se torna bastante comum, mas traz uma série de consequências.

No Parque da Vitória, região do Mário Covas, os moradores buscam formas de melhorar a vida e fazem por si mesmos ligações de energia e água para garantir um mínimo de qualidade de vida. De forma clandestina, eles arriscam a própria vida e trazem prejuízos a moradores vizinhos, a eles mesmos e à própria Eletrobras Piauí, responsável por distribuir energia no estado. Francisco das Chagas mora há quatro meses no Parque da Vitória e a energia que chega a sua casa é através das chamadas gambiarras, ligações de energia clandestinas.

Os moradores retiram a energia dos postes do Conjunto João Paulo II e distribuem a energia de maneira bastante precária para mais de 4 mil casas. Apesar da energia chegar às famílias, ela não chega de boa qualidade e as dificuldades por causa da má qualidade são muitas, como contam os próprios moradores.

?A energia aqui é péssima. É muito fraca e não é suficiente para manter todos os eletrodomésticos ligados. Só liga mal o radinho. Para ter água gelada só comprando gelo e o calor aqui é demais. Não tem força elétrica nem para ligar o ventilador?, afirma o morador que teve sua geladeira queimada com apenas seis meses de uso.

Antônia Inocência, de 74 anos, mora sozinha em uma residência no mesmo local e há dias que nem energia recebe em sua casa. ?Estou desde sábado sem energia. Até agora a geladeira está conservando, mas se não voltar, vou precisar achar um outro modo. Apelar aos vizinhos que têm?, comenta a idosa que completa: ?Essa noite eu não dormi porque é muito calor e muriçoca. A gente acende vela para não ficar no escuro?, conta.

Dificuldades como essas, são comuns a todos os moradores e de acordo com eles, a única saída é fazendo gambiarras. ?A gente queria que tivesse energia de qualidade e água. Como a gente não tem condição, precisa fazer isso para ter pelo menos o mínimo de condições para viver?, justifica Carlos Gonzaga, outro morador.

De acordo com o engenheiro de segurança da Eletrobras Piauí, Edilson Uchoa, a Eletrobras reconhece o problema, no entanto, não pode fazer nada para melhorar o fornecimento de energia no local. ?Hoje é difícil se ter um controle porque normalmente são invasões. E a Eletrobras não pode fazer nada. Só a partir do momento em que a Prefeitura regularizar os terrenos que podemos oferecer o serviço de qualidade?, explica.

Eletrobras não registra mortes, mas alerta para perigo

No Parque da Vitória, a equipe de reportagem do jornal Meio Norte flagrou na tarde de ontem (15), moradores instalando energia para puxar para as casas. De maneira bastante rudimentar, sem sequer equipamentos de segurança, eles arriscam a própria vida em cima dos postes (pedaços de madeira) e utilizando fios nem sempre adequados. A propósito, o risco de vida é apenas um dos principais causados pelas gambiarras.

Carlos Gonzaga faz bicos de eletricista e estava instalando a energia para levar às residências. Ele conta que recentemente os fios chegaram a pegar fogo e provocou a queima de muitos eletrodomésticos dos moradores. De acordo com o engenheiro de segurança da Eletrobrás, isso é bastante comum.

?Como o fio não é dimensionado corretamente, a corrente que vai passar por ele vai ser muito maior do que a que ele suporta. Pode esquentar, derreter e vai pegar fogo. E dessa forma, ele se parte e uma pessoa que passa e toca no fio energizado morre?, explica.

Além disso, as técnicas bastante rudimentares e a falta de conhecimento em eletricidade, acabam trazendo uma série de riscos, sobretudo à vida. De acordo com a Eletrobras, há dois anos não são registradas mortes por estarem realizando esse procedimento, no entanto, isso ainda não é motivo para se comemorar, já que as ligações clandestinas são inevitáveis e, além de riscos, também trazem prejuízos.

?Já encontramos energizado arame farpado com fio desencapado. E isso é bastante comum. A partir do momento em que as instalações não são no padrão, já traz o risco. A Eletrobras exige o aterramento para proteger a rede de qualquer interferência externa e nas gambiarras isso não é feito. É um risco para todos. Risco de vida, de incêndios e a energia ainda não é de qualidade?, explica Edilson Uchoa, engenheiro de segurança da Eletrobras Piauí.

Moradores de comunidades vizinhas estão prejudicados

O problema da péssima qualidade de energia que chega aos moradores do Parque Vitória também se transforma em um grande problema para moradores de outros conjuntos da região. No último ano, as quedas de energia se tornaram constantes.

Maria Celeste da Silva mora no Conjunto Mário Covas, próximo ao Parque Vitória e alega que o problema na qualidade de energia se deve às ligações feitas para beneficiar os moradores do lugar. E não é só com energia. De acordo com ela, o abastecimento de água também ficou prejudicado, desde que os moradores do Parque passaram a fazer essas gambiarras para sobreviver.

?Faz 9 anos que moro aqui e queda de energia era a coisa mais difícil de acontecer. Hoje em dia quando começa eu já desligo tudo para não queimar meus eletrodomésticos. Dia desses ouvi um estouro que aqui ficou mais de uma hora sem energia. Água, nem se fala, tem dias que acaba à tarde e só vem chegar seis da manhã?, afirma.

Segundo Celeste, não é só o Conjunto Mário Covas que fica prejudicado. Na região, o conjunto ao lado, João Paulo II (de onde retiram a energia) também sofre as consequências da necessidade dessas famílias. ?No João Paulo II a gente ouve falar que tem muita queda de energia também. Eles não têm de onde tirar a energia e prejudica a gente também?, conta.



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