Homem conta como assumiu ser gay em post feito por Feliciano

Feliciano pedia relato de milagre e homem diz como assumiu ser gay

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Em uma postagem feita em seu Facebook na quarta-feira (10), o pastor e deputado federal Marco Feliciano, fez um convite para que pessoas relatassem mudanças profundas ocorridas com elas após ouvirem suas mensagens.

O analista de eventos da PUC (Pontifica Universidade Católica) de São Paulo, Caio Locci, escreveu como foi o seu processo de se aceitar enquanto homossexual.

O post de Locci que também  é militante de causas LGBT (lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros)  teve até terça-feira (16), 449 respostas e 3.177 curtidas.

Locci disse que ao fazer o post não teve intenção de alfinetar, mas mostrar a trajetória de superação e que pensou que ele logo fosse apagar ou ainda que pudesse ter repercussão negativa devido as pessoas que o seguem.  Segundo ele, só queria contar sua história.

Post de Caio Locci na página de Marco Feliciano.

"Sou o primogênito, nascido em 1985 de parto normal, gerado e criado por um pai e uma mãe, ambos cristãos heterossexuais, assim como o meu irmão, um ano e meio mais novo.

 

Fomos criados exatamente iguais. Até roupa minha mãe comprava igual, para que não houvesse competição entre a gente. Já fomos inclusive confundidos com gêmeos.

 

Se a gente bagunçava, levava bronca, e se isso não bastasse, a gente apanhava. Já levei tapa, apanhei de cinta, levei beliscões... Tanto eu quanto meu irmão.

 

Minha família nunca foi rica, mas comida nunca nos faltou. Brincava na rua, junto com tantas outras crianças, descalço, ralando joelho, arrancando a ponta do dedão, batendo a cabeça, e sobrevivi.

 

Ganhava poucos brinquedos, mas eram sempre tão bem cuidados que tenho alguns até hoje. Brinquedos que me estimulavam a pensar, que juntavam as crianças da rua.

 

Tinha amigos brancos, negros, ricos, pobres, meninos e meninas. Tudo até aqui foi igual pra mim e para o meu irmão. No entanto, haviam brincadeiras que ele gostava mais e eu menos.

 

Mesmo jogando algumas vezes, nunca gostei de futebol, por exemplo. Não via diversão naquilo, entende? Preferia um jogo de tabuleiro, um jogo eletrônico, algo que eu pudesse usar mais a cabeça que o próprio corpo.

 

Sendo assim, acabei me aproximando mais das meninas, que tinham brincadeiras nas quais eu me divertia muito mais. Mas meu pai e minha avó insistiam que "menino brinca com menino" e foi então que eu comecei a ser diferenciado pelos meninos mais velhos.

 

Pra mim, não tinha problema um menino gostar de coisas que --não sei quem inventou isso-- eram de meninas e vice-versa. Mas os mais velhos, que provavelmente passaram pelo mesmo, tentavam, de maneira um pouco agressiva, me mostrar que eu tinha de gostar das mesmas coisas que eles. Isso só me afastou mais ainda dos meninos.

 

Entrei um ano adiantado na escola e sempre frequentei escolas públicas. Na minha cidade, ainda não tinha escola particular e, mesmo que tivesse, meus pais não podiam pagar.

 

Fiz mais amigos, mais amigas. Os meninos eram chatos, me tratavam diferente, me chamavam de nomes que eu demorei a saber o que significavam, me empurravam nos corredores, colocavam o pé na minha frente para eu cair, atiravam coisas em mim, mexiam nas minhas coisas, e eu fui percebendo que era simplesmente porque eu não era igual a eles.

 

Eu fui crescendo --não muito em tamanho, admito-- e percebendo que alguns meninos eram bonitos. As meninas também, mas os meninos... Ah, eles tinham uma beleza diferente, que me chamava mais a atenção.

 

Mas depois de tudo que ouvi e passei com os meninos mais velhos, me proibi de ter esses pensamentos e jamais permitiria que alguém soubesse disso, principalmente meus pais, o que me tornou uma pessoa totalmente fechada dentro de casa.

 

Minha vida na escola foi legal, mas conturbada. Eu me diverti muito, mas também fui muito apontado, xingado, humilhado, simplesmente porque preferia as coisas de menina às de menino. Então, a fim de evitar o hoje chamado bullying, fingi que gostava de menina, do jeito que as pessoas esperavam que eu gostasse, igual aos meus amigos. Fingi para as pessoas e pra mim mesmo. Foram 18 anos vivendo uma farsa.

 

Aos 18 anos, beijei o primeiro homem e, então, tive certeza de que eles me atraíam muito mais que do as mulheres, que, na verdade, nunca me atraíram realmente.

 

O que eu quero mostrar é que: nada, e eu enfatizo, absolutamente nada do que meus pais fizeram pra mim, deixaram de fazer para o meu irmão. Sempre tivemos tudo igual, seja o número de nuggets no prato, as roupas e o amor de nossos pais.

 

Meu irmão gosta de futebol, tem namorada, gosta de mulher e, ainda assim, respeita e ama o irmão homossexual que tem. Meu irmão me defende quando falam mal, fazem piada de mim ou me deixam triste. Meus pais amadureceram e compreenderam que eu simplesmente nasci assim.

 

Uma prova de que eles não nos diferenciam é que a namorada do meu irmão frequenta a casa deles com a mesma liberdade que o meu namorado também frequentava (sim, hoje estou solteiro).

 

Meus pais me dão a mesma liberdade em casa, que dão para o meu irmão. Não há diferenças entre nós em casa. Somos uma família e nos amamos, cada um com sua personalidade e respeitamos um ao outro, sem impor nossas vontades, ideias e caprichos. Isso se reflete fora de casa, com as pessoas com quem convivemos.

 

Eu não escolhi um dia começar a gostar de homem, assim como meu irmão não escolheu gostar de mulher. A única diferença é que a heterossexualidade dele é aceita e imposta como normal pela sociedade. Minha homossexualidade, infelizmente, não."



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