Menos acidentes: Isolamento social libera leitos em hospitais

O número de acidentes de trânsito diminuiu a sobrecarga no sistema de saúde, deixando mais leitos disponíveis para os pacientes com Covid-19.

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De cada dez leitos de Unidades de Tratamento Intensivo no país, seis são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito, ou seja, esses pacientes ocupam 60% das UTIs no Brasil. É o que revela um estudo feito pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), e durante o atual cenário de pandemia, quando as autoridades de saúde e governantes correm contra o tempo para liberar leitos hospitalares para atender aos pacientes que manifestam sintomas mais graves da Covid-19, reduzir acidentes de trânsito significa também diminuir a sobrecarga no sistema de saúde, deixando assim mais leitos disponíveis para os pacientes que testam positivo para o vírus.

O isolamento social é uma das principais medidas adotadas no mundo para enfrentamento da infecção pelo novo Coronavírus. No Hospital de Urgência de Teresina (HUT), um levantamento feito pelo setor de estatística, mostra que o isolamento social realizado desde o início de março reduziu em 16% a entrada de pacientes vítimas de acidentes de trânsito na unidade.  O dado aponta que, de 1º a 30 de março de 2020, foram atendidas 731 vítimas de acidentes de trânsito. Já no mesmo período do ano passado, foram 870 pessoas acidentadas.

FOTO: Divulgação

O registro é desde o início do primeiro decreto municipal que determina o fechamento do comércio e serviços não essenciais em Teresina. A variação está diretamente relacionada às ações de distanciamento social recomendadas por órgãos de saúde. No dia 3 de março, o prefeito Firmino Filho anunciou um novo decreto que suspende o funcionamento de estabelecimentos comerciais, como lojas de material de construção e peças automotivas. Segundo o Diretor-Geral do HUT, Rodrigo Martins, o distanciamento social é uma medida importante nesse momento de pandemia de Covid-19, já que ficar em casa também reflete na menor quantidade de veículos circulando pela cidade. Isso é importante para reduzir os acidentados e deixar mais leitos disponíveis aos pacientes confirmados com coronavírus.

“O HUT sempre trabalhou com mais de 100% da sua capacidade de leitos, através de leitos extras, além dos cadastrados pelo SUS, lógico que quando fazemos uma comparação do momento que estamos vivendo de isolamento social com anos anteriores temos uma redução do número de acidentes considerável e isso é importante porque como o hospital passou a não trabalhar com excessos e ter a possibilidade para melhor atender os pacientes que podem vir a dar entrada com coronavírus”, disse.

Distanciamento social reduz fila por atendimento

O diretor lembra que apesar do HUT não ser um hospital de referência para o atendimento de pacientes infectados com o novo coronavírus, sempre que há uma patologia nova na sociedade essa acaba chegando na unidade de saúde, por ser um hospital de porta aberta e o maior do Piauí, além de receber pacientes de parte do Maranhão e Ceará.  

Rodrigo Martins, Diretor-Geral do Hospita de Urgências de Teresina

“O distanciamento social, assim como a redução dos acidentes, permitiu que o HUT pudesse desenvolver um trabalho de planejamento, fazendo com que os leitos críticos de UTI e semi-UTI pudessem ser pensados e trabalhados para atender as pessoas com coronavírus, com redução na fila de atendimento”, destacou.

Atualmente, o Hospital de Urgência de Teresina possui 26 leitos de UTIs registrados e habilitados pelo Ministério da Saúde, sendo 10 leitos de pediatria e 16 leitos adultos. Paralelo a isso, o hospital conta com 16 leitos da Enfermaria do Posto 4 e outros 16 leitos de tratamento intermediário, assim como 5 leitos intensivos na Sala Laranja, todos funcionando com efeito e equipamentos de Unidade de Terapia Intensiva. O Hospital também elaborou um Plano de Contingência para a Covid-19 e montou uma UTI exclusiva para pacientes com a doença com 18 vagas, sendo 3 de estabilização na emergência e 15 leitos na UTI Covid.

"Hoje continuamos com todos os leitos de UTI ocupados no HUT, até porque as outras patologias continuam acontecendo, lógico que diminuiu a entrada de vítimas de acidentes e isso repercutiu numa diminuição da fila por leitos de UTI e, certamente, se o isolamento não tivesse acontecido estaríamos vivendo um momento muito apertado, as filas por procura para UTI seriam bem maiores, mais complicadas e com maior dificuldade de atendimento. Com certeza, se o isolamento não tivesse sido imposto e respeitado a demanda estaria nas alturas e não iríamos conseguir dar vazão a como estamos conseguindo atualmente", avaliou Rodrigo Martins. (W.B.)

Redução de acidentes aumenta disponibilidade de leitos

Para evitar a contaminação pelo vírus, o isolamento social e medidas emergenciais foram determinadas por meio de decretos do Governo do Estado e das prefeituras, como em Teresina, para que a população fique em casa e evite ao máximo ir às ruas. O Superintendente de Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi), Herlon Guimarães, que atua na linha de frente no combate ao vírus, lembra que o decreto de isolamento social foi uma das primeiras medidas implementadas pelo governo, com a orientação da Sesapi, uma vez que o assunto remete a um problema de saúde pública sendo utilizado como estratégia para promover, entre outras questões, a redução do número de acidentes de trânsito.

Herlon Guimarães, Superintendente de Atenção Primária à Saúde da Sesapi | FOTO: ARQUIVO MN

“O fato de promover um decreto de isolamento social e fechamento de toda e qualquer atividade que promova o aglomerado de pessoas é estratégico pensando, principalmente, na questão dos bares, restaurantes e festas noturnas, onde nossos índices de acidentes saltavam. O fato de termos tomado essa medida ainda no início da pandemia foi no intuito de combater justamente isso, já que tínhamos 70% dos nossos leitos de UTI ocupados com vítimas de acidentes de trânsito, então essa diminuição de acidentes, fez com a gente tivesse uma disponibilidade de leitos”, declarou. Até segunda-feira (27), o Piauí tinha 74% dos leitos de UTIs disponíveis e 25% ocupados, segundo mostrava o Painel Epidemiológico de Covid-19.

Para o superintendente, não só a redução de acidentes, mas como a prática do isolamento social como um todo pela população foi de extrema importância para que o sistema de saúde não entre em colapso, assim como para disponibilidade de leitos vagos no momento de pico da doença. "A prática do isolamento social levou a questão da redução de acidentes e com isso diminuiu o número de pessoas dependendo dos nossos leitos, isso fez com que a gente abrisse as vagas, principalmente, para pacientes com Covid-19”, ressaltou.

Herlon Guimarães reforça que todas as ações tomadas pelo Governo do Estado, com orientação da Sesapi, são baseadas em estudos, avaliações e projeções, inquérito epidemiológico, que são pautados na ciência para poder reduzir o pico de coronavírus com menos pessoas doentes no maior intervalo de tempo. “Com isso teremos a quantidade de leitos suficientes para poder dá uma condição de saúde necessária para uma parcela da população que tenha o quadro agravado da doença", pontua.

Escolas, universidades e a maior parte do comércio, assim como serviços públicos, suspenderam as atividades. Os decretos preveem que quem descumprir as regras pode ser penalizado com multa ou até prisão. Os estabelecimentos, serviços e atividades que continuam funcionando devem atender a medidas de controle de acesso, de limitação de pessoas nas áreas internas e externas, de modo a evitar aglomerações, resguardando a distância mínima de dois metros entre as pessoas. O descumprimento dessas determinações pode levar a penalidades como multa e/ou interdição total da atividade e cassação de alvará de localização e funcionamento, na forma da legislação vigente. (W.B.)

Queda nas doações de sangue torna isolamento importante

Com a evolução da pandemia de coronavírus, o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi) registrou uma queda de 50% no número de candidatos a doação de sangue. Segundo a entidade, a média de doações antes da pandemia chegava a 150 por dia. Agora fica em torno de 90. Com a queda das doações, o isolamento social passa a ser mais um fator positivo para a redução dos acidentes para assim diminuir a necessidade de bolsas de sangue em intervenções cirúrgicas com caráter de urgência e emergência.

Devido à pandemia de coronavírus, a Saúde estadual e municipal suspendeu as cirurgias eletivas, mas a situação de pacientes que realizam transfusões de sangue, rotineiramente, ainda é preocupante. Para reforçar o estoque de bolsas em meio à crise sanitária, o Hemopi está realizando uma campanha para pedir às pessoas que agendem um horário para doação de sangue.

O agendamento é uma alternativa encontrada pelo hemocentro para que se evite a aglomeração de pessoas em um só local e evitar que o estoque de bolsas de sangue caia durante o período de calamidade pública no estado. Em Teresina, as doações podem ser agendadas através do telefone (86) 9 8894-6614. Nos Hemocentros Regionais de Picos, Parnaíba e Floriano as doações também podem ser agendadas para evitar aglomerações e garantir mais segurança para quem sai de casa para doar sangue.

Segundo o diretor-geral do Hemopi, Jurandir Martins, o hemocentro precisa manter seu estoque para atender as demandas já rotineiras, assim como de urgência e emergência que surgirem.  "Nós ativamos nosso plano de contingência com intuito de diminuir a queda de doadores, buscando cada vez mais a captação de doadores para que a gente possa conseguir manter o estoque de sangue satisfatória para atender a demanda hospitalar pública e parte da rede privada de Teresina e do interior do Estado. Sabemos que durante essa pandemia as pessoas realmente precisam ficar em casa como forma de diminuir a proliferação do vírus e que devam sair apenas em situações emergência e de extrema importância como é a doença de sangue", finalizou. (W.B.)



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