Coronel Correia Lima, condenado a 129 anos, é solto no indulto dos pais

A Polícia Federal aponta que ex-coronel da Polícia Militar do Piauí era chefe do crime organizado entre os anos 80 e 90

Coronel Correia Lima | Rede Meio Norte
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O ex-coronel da Polícia Militar, José Viriato Correia Lima, de 70 anos, é um dos  detentos do sistema carcerário do Piauí a receber o benefício do indulto do Dia dos Pais. O famigerado "Coronel Correia Lima" é apontado pela Polícia Federal como chefe do crime organizado do Piauí entre os anos 80 e 90, além de participar de crimes de assassinato, sequestro, vilipêndio de cadávares e formação de quadrilha.

A pena total de Correia Lima é de 129 anos 8 meses de reclusão em regime fechado. No entanto, após cumprir 21 anos 7 meses e 10 dias de prisão, ele teve o direito a progredir para o regime semiaberto, na Colônia Agrícola Major César, em Altos. Correia Lima está preso desde 1999.

Além de Correia Lima, mais 367 detentos serão beneficiados com o indulto do Dia dos Pais no Piauí. No caso de Correia Lima, ele cumpre os requisitos do Código Penal Brasileiro, que é ter bom comportamento e cumprido até 1/6 da pena estipulada.

"Coronel" Correia Lima. Crédito: Rede Meio Norte.

Correia Lima deverá voltar à Colônia Agrícola no dia 18 de agosto.

Quem é Coronel Correia Lima?

O ex-coronel Correia Lima responde pelos crimes de homicídio contra Leandro Safanelli, morto em 1989, condenado a 23 anos; Zé Quelé, assassinado em 1996, também condenado a 23 anos, e do professor e engenheiro José Ferreira Castelo Branco, mais conhecido como Castelinho, executado à queima roupa em 1999, condenado a 25 anos. 

No dia 24 de setembro de 2015, o ex-coronel Correia Lima, a professora universitária aposentada e viúva de José Ferreira Castelo Branco, Ana Zélia Correia Lima Castelo Branco e o policial militar da reserva Francisco Moreira do Nascimento foram condenados pelo assassinato do engenheiro Castelinho. O ex-coronel e a viúva do empresário foram os mandantes do crime. 

Correia Lima em julgamento. Crédito: Wilson Filho.

No caso do assassinato do engenheiro José Ferreira Castelo Branco, com três tiros, em 1999, quando fazia caminhada no bairro Ininga, na zona Leste de Teresina, Francisco Moreira foi o responsável pela execução, com. Ana Zélia contratou Correia Lima para matar seu marido porque temia o divórcio que o marido havia anunciado. Segundo os autos do processo, Ana Zélia pagou R$ 70 mil para Correia Lima executar o marido.

Antecedentes

Nascido em Iguatu, cidade do interior do Ceará, ingressou na Polícia Militar e logo se envolveu em atividades criminosas no estado vizinho, o Piauí. Em 1979, com 27 anos, já chefiava o crime organizado no Estado, estendendo, nos vinte anos seguintes, sua influência junto a políticos, policiais, empresários, juízes e promotores públicos. 

Mesmo depois de reformado, continuou a desfrutar de enorme poder e comandava, de forma clandestina, a Polícia Militar do Piauí. 

O grande filão da quadrilha comandada por Correia Lima surgiu com a municipalização das despesas federais com saúde e educação, o que trouxeram muitas verbas públicas para municípios do Piauí. Com empresas de fachadas que emitiam notas frias notas frias relativas a despesas falsas de fornecimentos e serviços, a quadrilha desviou pelo menos R$100 milhões, que se destinavam à compra de merenda escolar e a serviços comunitários, de 40 prefeituras do Piauí

Todo esse dinheiro era arrecadado por uma empresa de cobrança de propriedade de Correia Lima. A quadrilha também atuava nos Estados do Maranhão e do Ceará. Os prefeitos que se negassem a participar do esquema eram pressionados e, se resistissem, assassinados. Nove tiveram esse destino num período de dez anos. Chegou a ser criada no Piauí uma inusitada União das Viúvas de Prefeitos Assassinados, entidade criada para denunciar o descaso do Poder Judiciário piauiense em solucionar os processos referentes a esses homicídios. 

Investigações

Em 1997, o promotor público Afonso Gil Castelo Branco, falecido em 2004 em um polêmico suicídio, denunciou a existência de uma máfia, formada por policiais civis e militares, que agia em seu Estado. Nessa época, ele investigou 61 policiais de Teresina por crimes como abuso de autoridade, lesão corporal e homicídio.

Durante os interrogatórios, descobriu que boa parte dos acusados trabalhava para o escritório do coronel Correia Lima. Denunciou 25 policiais à Justiça, mas apenas um foi condenado. Ameaçado de morte, Castelo Branco passou a viver recluso e andar armado. 

As denúncias do promotor só foram adiante em 1999 quando o crime organizado passou a ser objeto de atenção de uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Nacional e as investigações passaram a ser orientadas pela Polícia Federal. A PF grampeou uma dúzia de telefones dos principais suspeitos de integrar o crime organizado no Estado. E obteve 700 horas de gravação, registradas em 350 fitas que, somadas, contêm 2.500 conversas.

Provas

Foram reunidas provas que indicavam a ocorrência de pelo menos dez assassinatos cometidos pela quadrilha. Arias Costa Filho, era o delegado de polícia que investigava o caso da morte do policial civil Leandro Safanelli. Uma terceira pessoa foi assassinada porque ameaçou denunciar a quadrilha. Curiosamente, em pelo menos dois casos, os mortos, um motorista e um caseiro de Correia Lima, tinham seguro de vida, feitos pelo próprio coronel, cujos beneficiados eram sua mulher e sua filha. 

Prisão

Correia Lima foi preso e recolhido a um quartel da Polícia Militar. Junto com ele foram detidos o delegado de polícia José Wilson Torres, ex-presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil, o irmão do coronel e empresário Augusto Correia Lima, vários policiais civis e mais de dez soldados da PM. 

Augusto foi acusado, juntamente com diversos prefeitos, de fraudar licitações para o desvio de milhares de reais do Fundef e do FPM. Depois de quatro preso preventivamente Augusto Correia Lima foi absolvido por insuficiência de provas. Os irmãos Valdílio e Odival Falcão, respectivamente comandante da PM e chefe da Casa Militar do então governador Mão Santa, foram afastados de seus cargos, por suspeita de envolvimento com a quadrilha.

Correia Lima. Crédito: Efrém Ribeiro. 

Mesmo na prisão, o coronel continuou no comando de sua quadrilha, pois dispunha de celulares e recebia visitas livremente. Chegou a ordenar o espancamento de um jornalista que o criticava. Por causa disso, esteve durante algum tempo preso no Maranhão

Julgado e condenado por alguns de seus crimes, em 2007 cumpre pena de 23 anos e 9 meses num quartel da PM do Piauí. Para que possa ser transferido para uma penitenciária, o Ministério Público estadual entrou com processo para que Correia Lima perca sua patente de coronel. José Viriato também teve estreitas relações familiares com outro notório contraventor nordestino, José Enilson Couras, mais conhecido como Courinhas, pistoleiro acusado de mais de 100 homicídios ao longo das décadas de 1970 e 80.



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