Delegado diz “Bola mata rindo e chora no velório”, após julgamento

A sessão desta quarta-feira começou pouco antes das 10h.

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Após o final do segundo dia do julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, o delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Belo Horizonte, disse que as denúncias feitas contra ele pelo réu e pelo advogado Ércio Quaresma têm "motivação pessoal". Desde segunda-feira Bola é julgado no Fórum de Contagem pela morte do carcereiro Rogério Martins Novelo, em maio de 2000. A sessão desta quarta-feira começou pouco antes das 10h.

Edson Moreira foi arrolado como testemunha pelos advogados de defesa de Bola, segundo ele, como uma forma de vingança. "A defesa me trouxe aqui para me dar canseira, uma vingança pessoal contra a minha pessoa, tendo em vista que os dois causídicos (advogados) são meus inimigos", afirmou, referindo-se a Ércio Quaresma e Zanone Manoel.

Durante o depoimento, Bola acusou o delegado de uma suposta ordem para que ele torturasse um preso a pedido de Moreira, quando os dois seriam colegas de trabalho na Polícia Civil de Minas Gerais no início da década de 90. "Ele está demonstrando que a coisa é pessoal comigo e ele foi devidamente orientado a falar tudo isso. Ele quer desacreditar toda a investigação levada à efeito (do caso Eliza Samudio, que Moreira comandou) que culminou com a prisão e a descoberta de vários crimes, só isso, é isso que ele quer (...) Ele só fala mentira", disse.

Moreira voltou a afirmar que considera Marcos Aparecido dos Santos um "especialista em matar", e desdenhou do comportamento do réu, que chorou alegando inocência ao lembrar dos cães que foram apreendidos nas buscas pelo corpo de Eliza. "Aquilo é um camaleão e as lágrimas são de crocodilo. Aquele mata rindo e depois vai ao velório e ainda chora, é de altíssima periculosidade."

Edson Moreira disse teve contato com Bola no período que os dois trabalharam na Rota, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, antes de eles se transferirem para Minas Gerais, mas que nunca teve desavenças com o réu. "Eu o conheci no fim de 92, 93 por aí, nunca tive coisa com esse rapaz. Esse rapaz foi aluno, nem soldado ele foi, nem formou soldado", afirmou.

Calúnia

Edson Moreira revelou que entrou com um processo judicial contra dois advogados, um deles Ércio Quaresma, por eles o terem acusado de tentativa de extorsão ainda na fase de investigação da morte de Eliza Samudio. "Eles me denunciaram caluniosamente em rede nacional e isso gerou um procedimento (de investigação contra o delegado) na corregedoria. E eu representei, quando fui interrogado, pela denunciação caluniosa porque essa falsidade levantada contra a minha pessoa gerou um procedimento, só exerci um direito meu", justificou. "E ao final da investigação vou tomar providências por danos morais."

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.



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