Miliciano colocou fuzil em mesa de reunião com pré-candidatos no Rio

De acordo com o Gaeco, o encontro aconteceu em 2020, antes das eleições, e tinha por objetivo negociar apoio das regiões comandadas por eles em troca de vantagens.

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Miliciano colocou fuzil em mesa de reunião com pré-candidatos no Rio | Reprodução
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O miliciano Danilo Dias Lima, conhecido popularmente como Tandera, conduziu uma reunião com pré-candidatos a prefeituras de municípios da Baixada Fluminense e chegou a colocar um fuzil sobre a mesa. De acordo com o Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o encontro aconteceu em 2020, antes das eleições, e tinha por objetivo negociar apoio das regiões comandadas por eles em troca de vantagens.

Participaram do encontro quatro pré-candidatos: Luciano Henrique Pereira, conhecido como “Luciano da Rede Construir”, candidato do PL à Prefeitura de Seropédica; Cornélio Ribeiro iria concorrer à prefeitura de Nova Iguaçu pelo PRTB, mas acabou desistindo das eleições; Thay Magalhães, conhecida como Doutora Thay e candidata à prefeitura de Mesquita.

Miliciano colocou fuzil em mesa de reunião com pré-candidatos no Rio | Foto: Reprodução / GaecoTrechos das investigações do Gaeco do Ministério Público e da 48ª DP (Seropédica) mostram como o miliciano conduziu a reunião. De acordo com o Gaeco, o encontro aconteceu em abril de 2020. Tandera queria negociar apoio das regiões comandadas por eles em troca de vantagens como secretarias e licitações, caso alguns dos presentes fossem eleitos.

Um quarto pré-candidato participou da reunião, mas não foi denunciado pelo MP. Também de acordo com as investigações, as gravações foram feitas pelo miliciano e seu bando para possíveis chantagens posteriores. Nas imagens, é possível ver os pré-candidatos em primeiro plano e, em dado momento, Tandera chega a perguntar se teria problema colocar seu fuzil sobre a mesa do encontro. "Se incomodam?", questiona.

Todos respondem juntos que “não”, demonstrando "medo e respeito" por Tandera, de acordo com o documento elaborado pelo MP. Já em outro momento, Tandera volta a fazer menção à arma, mas enaltece o poder dos convidados.

"Isso aí [em referência ao fuzil] é pra guardar a minha vida, guardar a vida de vocês, guardar a vida do morador. Guardar a vida até de quem vai contra. Mas o potencial mesmo está aí: a caneta!”. Em outro trecho, o miliciano dá a entender que poderia fazer exigências, mas que prefere negociar:

Danilo Dias Lima, conhecido popularmente como Tandera | Foto: Reprodução

"Eu poderia muito bem chegar aqui e falar assim: eu quero 50 fuzil (sic) de cada município! Eu poderia chegar aqui só, eu quero R$ 5 milhões de cada município. Impossível de se negociar assim, está me entendendo? Aqui você vai estar confortável, vai estar protegido. Em compensação, depois que vocês assumirem, eu vou querer alguma vantagem. A gente tem que ter o direito a uma licitação. A gente tem que ter o direito a alguma secretaria. Tá me entendendo? Aí as coisas andam, aí a gente faz um elo", propõe o miliciano, segundo o vídeo.

AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Nem Thay, nem Luciano - que chegaram a concorrer às eleições de 2020 - , se elegeu: ambos terminaram na terceira posição das eleições municipais. Cornelio, Luciano e Thaiana foram denunciados pelo Ministério Público por negociarem com a milícia de Tandera e foram alvos de busca e apreensão no dia 3 de maio.

A operação também teve mandados de prisão. Entre os presos, estão os cinco milicianos: Denys Cleberson (Sardinha); Jackson Oliveira; Alex Sandro Vieira (Melecão); Victor Valladares e Diego Leite de Assis (Bebezão). Dos 17 denunciados pelo Ministério Público, 14 são integrantes da milícia.

"Nós identificamos relacionamentos dessa organização com a política, uma tentativa de obter secretarias, cargos públicos, contratos administrativos por meio de licitações fraudulentas, o que revela o quão complexa se tornou essa organização criminosa", afirmou a promotora do Gaeco, Glaucia Mello, ao Portal G1.

OPERAÇÃO

Tandera domina as regiões de Nova Iguaçu e de Seropédica, na Baixada Fluminense. Até 2020, Tandera integrava a maior milícia do RJ, mas rompeu com Wellington da Silva Braga, o Ecko, que então chefiava o grupo paramilitar. Com a morte de Ecko em uma ação da polícia em junho de 2021, Tandera tentou tomar dos rivais áreas de Santa Cruz e Paciência, na Zona Oeste do Rio, mas acabou rechaçado.

De acordo com as investigações, a quadrilha é responsável por extorsões, homicídios, ameaças, grilagem de terras, agiotagem, exploração ilegal de areais, lavagem de dinheiro, entre outros crimes, principalmente nos municípios do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Queimados e Seropédica. 

Miliciano colocou fuzil em mesa de reunião com pré-candidatos no Rio | Foto: DivulgaçãoEm agosto do ano passado, a polícia apreendeu 16 fuzis que pertenceriam ao paramilitar. Uma das armas era um fuzil do Exército americano capaz de atingir um alvo com precisão a 400 metros de distância. Na identificação, estava escrito “propriedade do governo dos Estados Unidos”. A numeração tinha sido raspada. A polícia ainda apreendeu um carro-forte usado pelos milicianos para intimidar desafetos e para proteger criminosos durante confrontos com rivais.

Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital e a ação contou com o apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ). A quadrilha vem enfraquecendo, com sucessivas operações. Irmão de Tandera, Delso Lima Neto, o Delsinho, foi morto em uma ação da polícia em agosto de 2022. Ele era o segundo na hierarquia do grupo paramilitar.



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