“se o congresso não autorizar, vamos cumprir o superávit”, diz Aloizio Mercadante

Ministro-chefe da Casa Civil fala sobre projeto em tramitação no Congresso e relata as ações do governo para superar a crise econômica mundial e voltar a crescer em 2015

FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

A jornalista Miriam Leitão, da Globo News, foi ao Palácio do Planalto, em Brasília, entrevistar o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Um dos coordenadores da campanha vitoriosa para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, Mercadante falou sobre a estratégia do novo governo para enfrentar as dificuldades econômicas e políticas em 2015.

Miriam Leitão – Ministro, a gente está com um crescimento zero e a inflação acima do teto da meta. Isso não é um bom desempenho.

Aloizio Mercadante – Depende do ponto de vista que você olha. Vamos pegar a China, que é o motor da economia mundial. A China está com a pior taxa de crescimento dos últimos 25 anos. 7,3%. Ela crescia 14% antes da crise. A Europa teve uma taxa negativa de crescimento nos últimos dois anos e não conseguiu sustentar uma recuperação e está próximo a uma de- flação. A inflação está 0,4% e caindo. A Alemanha vem com uma taxa de queda da produção, a indústria mais competitiva da Europa e uma das mais competitivas do mundo, vem com uma taxa negativa de juros e não consegue se recuperar e a indústria vem tendo sucessivas quedas. Se você olhar ao nosso entorno aqui a situação não é diferente. Os Estados Unidos tiveram um segundo trimestre melhor, mas é uma única economia. É muito importante, mas não é o cenário internacional. O Brasil no ano passado cresceu 2,5%. Se você pegar nesse período da crise o Brasil teve um dos melhores desempenhos entre as economias do G20. Vamos pegar as contas fiscais, tema que precisamos discutir. Nós fomos o segundo melhor superávit primário do G20 nesse período de crise. Hoje só cinco países do G20 tem superávit primário. O Brasil é um deles. A dívida bruta dos países do G20 cresceu em média 30%. A nossa caiu. Nós desendividamos a sociedade brasileira. É preciso reconhecer o esforço que o estado brasileiro fez de superávit e redução da dívida. Nossa dívida bruta está estável, nossa dívida líquida que era 60% do PIB está em torno de 35%, que é o indicador mais relevante para você avaliar a solvência fiscal de um país. As nossas reservas foram preservadas em R$ 375 bilhões. É um dos países com as melhores reservas fiscais do mundo. Isso tudo foi o que nos permitiu alguma margem de manobra na crise. O comércio internacional que crescia 7,5%, está crescendo 3%. Metade do que era no período pré-crise.

ML – Esta semana o governo mandou ao Congresso uma proposta de aumentar o desconto que deve a ser maior do que o superávit. Levando-se em conta esse desconto você tem um déficit primário. Como convencer as pessoas e o mercado financeiro de que o governo realmente está sólido do ponto de vista fiscal?

AM – Dos 20 países mais importantes da economia mundial só cinco têm superávit. A única economia que teve um viés de alta este ano, que foi a Inglaterra, Reino Unido, está com déficit primário. Os Estados Unidos em 2009 chegaram a ter um déficit primário de 13,5% do PIB. Na hora que a recessão bateu eles saíram fazendo uma política dicíclica, levando o Keynes ao limite para tentar evitar que a recessão, desemprego, a quebradeira financeira econômica. E de lá para cá vem mantendo uma política monetária e fiscal de tentar reativar a economia fortemente. Estou pegando economias que são referência para vermos a opção que fizemos. A primeira opção que fizemos este ano foi continuar desonerando a produção, reduzindo carga tributária para as empresas. Desoneramos 56 setores da folha de pagamento para a indústria. Isso reduz custo. Ajuda a manter emprego porque faz o posto de trabalho ficar mais barato. Mantivemos o reintegra para melhorar as exportações como uma política permanente. Desoneramos a cesta básica. Os impostos federais para reduzir o custo para as famílias. Desoneramos a micro e pequena empresa. 142 setores entraram no supersimples, reduzindo carga tributária e desburocratizando e facilitando a vida das empresas. Desoneramos investimentos importantes. E desoneramos alguns setores que tem grande impacto na cadeia industrial.
ML – E por que que o Brasil não cresceu?

AM - Se nós aumentarmos a carga tributária, fizermos uma medida provisória retirando todas as desonerações da indústria vai melhorar a economia brasileira? Não vai. Agravaria a recessão, o desemprego e a crise. A mesma coisa em relação aos gastos. Qual foi o gasto que cresceu? Não foi folha de pagamento. Não foi o custeio do estado. O que cresceu foi basicamente investimento. 34% de aumento e o PAC cresceu 47%. Porque fizemos um esforço adicional de investimento? Exatamente porque a economia mundial está em uma trajetória de recessão. Nosso setor exportador está sofrendo muito com esse cenário. O minério de ferro caiu 38% de preço. Soja, 28%. Petróleo caiu 26%. Mas a queda das commodities internacionais e uma retração do comércio afeta nossa indústria. Então as desonerações e o esforço de investimento, mais as Parcerias Público Privada para investimento em estrutura. Eu acho que o Congresso vai entender que é necessário isso.

ML – Não era melhor falar assim: não podemos cumprir a meta, a meta vai ser isso...

AM – Nós nunca usamos o desconto que estava na lei. O que é o desconto do superávit? São só dois: PAC onde está crescendo, e desoneração onde cresceu. Nós estamos dizendo com toda transparência que fizemos uma opção de proteger a indústria, o salário, o chão da fábrica, o emprego.

Porque o mundo lá fora não nos permite crescer. O que nós temos é o nosso mercado interno que é o que mantém o nível de atividade da economia. E o estado tem que fazer uma política anticíclica como todas as principais economias estão fazendo e fizeram. O G20 está discutindo um esforço pactuado, concentrado, de fazer um esforço adicional de investimento para que o mundo se recupere.

Porque a primeira coisa que a gente faz quando cai em um buraco é parar de cavar. Se todo mundo aumentar impostos e cortar gastos pode ter certeza que a economia mundial vai muito mais rápido para o buraco do que ela já está. Nós fomos um dos primeiros alunos da sala nessa década em superávit primário. Fomos um dos poucos países que desendividou o estado. Eles aumentaram em 30% a dívida pública. A nossa ficou estável, a nossa dívida líquida caiu. Nós estamos usando essa margem. Agora se você me perguntar se eu queria um superávit primário maior, nós queremos. Vamos fazer o máximo que a gente conseguir. Já em 2014 e 2015.

É um valor importante o superávit primário. É um valor importante a Responsabilidade Fiscal. E nós não estamos abrindo mão desses valores. Sabemos que esse esforço é importante para reduzir juros, atrair investimentos. Nós somos o quinto país com mais investimento externo no mundo. Em meio a essa crise, 66,5 bilhões de dólares nesse ano. Então nós temos consciência disso. Em 2011, nós fizemos 10 bilhões a mais de superávit. Em 2008, criamos um fundo soberano e fizemos uma poupança extraordinária. Mas não é o quadro desse ano. Então é a discussão é transparente e pública.

Se o Congresso não der a autorização do superávit, nós cumpriremos o superávit. É simples. Suspende as desonerações e corta os investimentos, e para as obras, para uma parte da economia, vamos ter mais desemprego, e ficará na responsabilidade de quem tomar essa atitude. Porque não há outra opção. As pessoas começam a fazer política cedo e não vão na aula de matemática. É simples. Superávit significa mais impostos e menos gastos, menos investimentos.

Clique e Curta Portal Meio Norte no Facebook

 



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES