Cinthia Lages

Notícias Direto de Brasília

Opinião: Você já leu sobre a homenagem à Janja mas saiba que não é só isso!

A cobertura da cerimômia da Ordem Rio Branco expõe a preguiça do jornalismo de likes

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A israelense Nimrod Koren e a ucraniana Oksana Poltavtseva, que  trabalham nas embaixadas do Brasil em Tel Aviv, Estado de Israel e em Kiev, na Ucrânia, foram homenageadas ontem com a Ordem Rio Branco, na qualidade de Grão-Mestre, ao lado de outros 31 cidadãos estrangeiros. Como eles, porém em outras categorias, também foram agraciados o Cacique Raoni, o escritor Gabriel Chalita, padre Júlio Lancellotti, os jogadores Vini Jr e Marta; o cantor e compositor Chico Cesar, a médica Margareth Dalcomo, a jornalista Flavia Oliveira e  todas as ministras do atual Governo. Houve homenagens póstumas ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista Don Phillips, as artistas Gal Costa e Rita Lee. A lista é longa e eclética! A cerimônia, que celebra o Dia do Diplomata, reuniu todos os Poderes da República - de ministros do Supremo ao presidente da República.

Apesar de ser um lugar preferencial para a circulação de notícias - como a presença entre os agraciados do Chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias, um dos nomes cogitados para indicação ao STF - Mas você deve ter ouvido falar apenas de uma das homenageadas, Janja da Silva, a primeira-dama brasileira. A decisão sobre a escolha dos nomes de quem entra na vasta lista da Ordem Rio Branco é de um Conselho, presidido pelo presidente da República. Janja não comopareceu à cerimônia por problemas de saúde.

Pela manhã, logo após a divulgação do video feito pela primeira-dama para informar sobre sua ausência nos compromissos desta terça-feira,21, os principais sites nacionais e programas de Televisão passaram a informar: "Lula concede a Janja, a mais alta condecoração da Ordem Rio Branco". Não faltou quem puxasse o fio para retomar a simetria entre Lula e seu antecessor, Jair Bolsonaro, que também homenageou a mulher, Michele. E como é preciso alimentar a polêmica, outros, foram mais a fundo na história para mostrar que ”Temer e FHC não condecoraram as esposas"

No final da manhã, #Janja já era um dos assuntos mais comentados do X, antigo Twitter. E majoritariamente de forma negativa por 45,31% dos internautas que interagiram com postagens sobre a homenagem. Outros 37,14% reagiram de forma positiva e 17,55% se mantiveram neutros. Ao final do dia, no rescaldo dos grupos de whatsapp, o que resta da cerimônia no Itamaraty é a notícia sobre a primeira-dama.

Não se trata de questionar decisões editoriais que são tomadas  - quer gostemos ou não - em torno do potencial de visibilidade e não de noticiabilidade. Não há vilões que trabalham para destruir o Jornalismo. Há jornalistas que se adequaram ao novo modo de divulgar suas apurações associadas ao número de likes.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu tem a metáfora perfeita para a questão: “os jornalistas têm 'óculos' especiais a partir dos quais vêem certas coisas e não outras". Ocorre que, todos os óculos estão levando à uma visão única, sem que ninguém decida olhar para os lados e perceber além da obviedade que é a  atitude paroquial do político que homenageia a esposa com uma Comenda conferida pelo Estado brasileiro. Ainda que respeitada a subjetividade inerente a toda escolha destoa até mesmo dos pontos defendidos pela primeira-dama, sobre o papel das mulheres no mundo atual. Sabemos, no entanto, que, nesse caso, o que motiva escolher Janja como protagonista do dia é a certeza de que a menção ao nome dele é garantia de reação, seja ela qual for! Esse é o critério preguiçoso e repetitivo  que parece conduzir as pautas diárias no Brasil.

Sabemos que a  falta de estrutura dos meios de comunicação associada à competitividade gerada pelas redes sociais está por trás da unificação das notícias fabricadas em série, e rapidamente difundidas sem que haja tempo ou disposição sequer de checar informações. Também é relevante observar que a cobertura dos assuntos do Poder em Brasília tem sotaques do sul e sudeste. Isso faz muita diferença no conteúdo disseminado pelo resto do pais. O que o leitor/telespectador/internauta dos meios de comunicação tradicionais consome tem origem limitada a esse espaço geográfico. 

Vocês que reproduzem essa visão de mundo já se perguntaram se ele realmente interessa ao seu público? Será que não existem outras notícias que possam ter mais impacto na vida das pessoas? Porque eu creio  que existam. Acredito que o Jornalismo não deve abrir mão das suas premissas básicas e que encontrar um caminho que não reproduza apenas ideias pré-concebidas como âncoras de sucesso é o caminho que se deve seguir!



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