Memória

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Jean-Paul Sartre frustra academia e se nega a receber o Prêmio Nobel 

Sartre explicou a razão por trás de sua decisão no jornal francês Le Figaro.

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No dia 22 de Outubro de 1964 a Academia Sueca que realiza o Prêmio Nobel faria o anúncio oficial do vencedor, naquele ano, do Nobel de Literatura, uma honraria que seria entregue ao filósofo, romancista, dramaturgo e pensador francês Jean-Paul Sartre, mas aí veio a grande frustração: numa carta datada do dia 14 de Outubro avisava à Academia que não aceitaria o Nobel da Literatura. A atitude inédita de Sartre causou um incidente público, porque era a primeira vez na história que alguém tinha rejeitado o prêmio por sua própria vontade (o prêmio também inclui uma quantidade substancial de dinheiro). Apenas um outro homem na história rejeitaria, anos depois, o prêmio desta forma – o vietnamita Le Duc Tho em 1973.

Sartre explicou a razão por trás de sua decisão no jornal francês Le Figaro. Em primeiro lugar, ele lamentou que seu ato causou um escândalo público. Ele alegou que havia rejeitado o prêmio porque um escritor deve permanecer independente das instituições que concedem tais prêmios. Ele não queria que o Prêmio Nobel o transformasse e o associasse com a Real Academia Sueca de Ciências. Finalmente, Sartre salientou que o Prêmio Nobel não trata escritores de todas as ideologias e nações de igual modo, uma vez que prefere modelos ocidentais.

Na verdade, Sartre provou ser um homem de princípios, uma vez que ele já havia rejeitado a adesão à Legião de Honra francesa, e também disse que teria rejeitado o Prêmio Lenin se tivesse sido oferecido a ele.

Ainda assim, a decisão de conceder o Prêmio Nobel não pode ser revogada, de modo que Sartre ainda é considerado o destinatário de 1964, apesar de sua recusa categórica em aceitá-lo.

Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 — Paris, 15 de abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.

Repeliu as distinções e as funções problemáticas e, por estes motivos, se recusou a receber o Nobel de Literatura de 1964. Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede à essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma "essência" que suceda à existência. Ele também é conhecido por seu relacionamento aberto que durou cerca de 51 anos (até sua morte) com a filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir.

Sartre e Beauvoir nunca formaram um casal monogâmico. Não se casaram e mantinham uma relação aberta. Sua correspondência é repleta de confidências sobre suas relações com outros parceiros. Além da relação amorosa, eles tinham uma grande afinidade intelectual. Beauvoir colaborou com a obra filosófica de Sartre, revisava seus livros e também se tornou uma das principais filósofas do movimento existencialista. Sua obra literária também inclui diversos volumes autobiográficos, que frequentemente relatam o processo criativo de Sartre e dela mesma.

Na década de 1950 Jena-Paul Sartre assume uma postura política mais atuante, e abraça o comunismo. Torna-se ativista, e posiciona-se publicamente em defesa da libertação da Argélia do colonialismo francês. É importante frisar que Sartre, junto com Fanon, foram dois intelectuais importantes no processo de descolonização-contribuição referenciada através de textos relacionados ao tema do colonialismo e também no envolvimento manifestado no engajamento político de ambas as partes. Suas contribuições passam pelo estudo das inter-relações que se estabelecem no plano do pensamento e as interconexões que ocorrem através de inúmeras razões, entre elas a existência do colonialismo e suas interconexões.

A aproximação do marxismo inaugura a segunda parte da carreira filosófica de Sartre em que tenta conciliar as ideias existencialistas de autodeterminação aos princípios marxistas. Por exemplo, a ideia de que as forças socioeconômicas, que estão acima do nosso controle individual, têm o poder de modelar as nossas vidas. Escreve então sua segunda obra filosófica de grande porte, La Critique de la raison dialectique (A crítica da razão dialética) (1960), em que defende os valores humanos presentes no marxismo, e apresenta uma versão alterada do existencialismo que ele julgava resolver as contradições entre as duas escolas.

Considerado por muitos o símbolo do intelectual engajado, Sartre adaptava sempre sua ação às suas ideias, e o fazia sempre como ato político. Em 1963, Sartre escreve Les Mots (As palavras, lançado em 1964), relato autobiográfico que seria sua despedida da literatura. Após dezenas de obras literárias, ele conclui que a literatura funcionava como um substituto para o real comprometimento com o mundo. Em 1964 a Academia Sueca lhe agracia com o Nobel de Literatura, que ele no entanto recusa, pois segundo ele "nenhum escritor pode ser transformado em instituição". O caso se tornou um escândalo, que poderia ter sido evitado pela Academia Sueca, visto que Sartre teria descoberto antecipadamente que seu nome estava entre os indicados, e por isso enviou uma carta a Academia avisando que recusaria o prêmio caso fosse o escolhido para recebê-lo, a carta, no entanto, só chegou a mão dos Acadêmicos responsáveis pela escolha do vencedor do prêmio, dias depois de Sartre ter sido escolhido para recebê-lo.

Morreu em 15 de abril de 1980 no Hospital Broussais (em Paris). Seu funeral foi acompanhado por mais de 50 000 pessoas. Está enterrado no Cemitério de Montparnasse em Paris. No mesmo túmulo está sepultada Simone de Beauvoir.



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