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Mercado do cartão de crédito de loja cresce na pandemia; cuidado!

Esses cartões têm seduzido muitos consumidores pela facilidade para obtenção do empréstimo.

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Basta cruzar a porta principal para ouvir a pergunta: “Vamos fazer o cartão da loja?”. Ao chegar no caixa: “Quer pagar as compras com 10% de desconto? É rapidinho!”. A estratégia das varejistas tem dado certo. O mercado de crédito ensaia uma recuperação para patamares anteriores à pandemia de Covid-19, e um dos motores é justamente o cartão de loja.

Segundo o Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC), a demanda por este tipo de crédito ao consumidor avançou 22% em agosto em relação a julho, mês em que já tinha registrado alta de 57% frente a junho.

— A recuperação está relacionada tanto à reabertura do comércio quanto à adaptação de muitas redes para conceder o crédito on-line — explica Breno Costa, diretor de Produtos da Neurotech.

Edvania Carvalho tem três cartões de loja diferentes / Crédito: Brenno Carvalho / Agëncia O Globo

Parcelou? Fez empréstimo

Oferecidos também por mercados, postos de combustíveis e farmácias, esses cartões têm seduzido muitos consumidores pela facilidade para obtenção do empréstimo.

Ao parcelar uma compra, de fato, o consumidor está contratando um financiamento e muitas vezes não se dá conta. Segundo especialistas, o sistema pode mascarar riscos, levar o consumidor a pagar mais caro e a perder o controle.

A autônoma Edvania Maria de Oliveira Carvalho, de 45 anos, tem três cartões de lojas de departamento diferentes, além do cartão de crédito. Ela gasta, em média de R$ 50 a R$ 70, por mês em cada um. Para ela, a principal vantagem em relação ao cartão de crédito tradicional é a possibilidade de parcelamento mais longo:

— Na loja, perguntam se quero parcelar em até oito vezes. Se for no cartão de crédito, só posso dividir em três. Além disso, o cartão da loja oferece desconto de 10% na primeira compra.

Crédito fácil é caro

O secretário de Defesa do Consumidor paulista, Fernando Capez, diz que o cartão fideliza o cliente para que compre sempre no mesmo local pela suposta facilidade de pagamento, sem que se dê conta dos altos juros cobrados pelo estabelecimento:

— A loja vende a ilusão do consumo fácil. Mas, na verdade, é um crédito caro. O empréstimo sofre maquiagem.

Capez ainda alerta: — Por não entrar numa financeira para pegar dinheiro, o consumidor não percebe que está contraindo um empréstimo naquela loja para consumir. No supermercado, por exemplo, tende a comprar sempre no mesmo local, que nem sempre é o mais em conta e ainda paga os juros do cartão. O risco é se endividar!

O consumidor costuma ser conquistado pela oferta de muitos “benefícios”, “descontos” e “facilidades” para pagar. Outro atrativo é a pouca burocracia para contratar: as lojas costumam pedir apenas identidade e CPF do cliente.

— O crédito muitas vezes é oferecido de maneira abusiva, por meio de assédio, sem que o agente forneça todas as informações — observa a advogada Glaucia Coelho, sócia da área de contencioso do Machado Meyer.

Quanto mais fácil o crédito oferecido, mais caro ele é, dessa forma o risco da operação é compensado, explica Filipe Pires, coordenador do MBA em Finanças do Ibmec/ RJ. Ele ressalta que os juros dos cartões de loja se aproximam das taxas cobradas pelo rotativo do cartão de crédito.

— Em muitos casos, aquele consumidor não conseguiria fazer um cartão de crédito de banco, ou pegar um empréstimo por causa do seu score (nota de seu perfil de crédito). As lojas de departamento precisam ter ciclo financeiro alongado. Com o cartão, elas passam a dividir essa despesa com sua base de clientes através do custo de tomada de crédito que fica mais elevado, e o cliente acaba pagando acréscimo no valor da compra. Não parece, mas há taxas embutidas em cada compra.

Risco de endividamento

Apesar do cartão de loja conceder poder de compra a classes mais baixas, possibilitando parcelamento para quem não possui outro tipo de cartão de crédito, é preciso ter controle. Myrian Lund, professora de Finanças nos MBAs da FGV, diz que o cartão de loja deve ser analisado como qualquer outro cartão bancário e alerta:

— Ao mesmo tempo que permite comprar mais coisas, se a pessoa não se programar para pagamento no mês seguinte, as parcelas se embolam com outras despesas. O cartão oferece um ganho expressivo para as lojas, mas representa maior risco de endividamento para o cidadão.



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