José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

As lições que podemos tirar do escândalo das Americanas

O atual CEO das Lojas Americanas prestou depoimento na CPI que apura os escândalos financeiros da empresa

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A presença, nessa terça-feira,  do atual CEO das Lojas Americanas em depoimento na CPI que apura os escândalos financeiros dessa que foi uma das maiores empresas com negócios no Brasil, começa a colocar alguma luz sobre as práticas criminosas envolvendo não apenas os interesses econômicos da companhia em si, mas como a atuação obscura de megamilionários pode afetar o mercado financeiro, a bolsa de valores e obter em seu benefício lucros fictícios, irreais, enganosos, todos fundamentados na especulação. 

O que se supunha, em janeiro passado, ter sido o prejuízo das Americanas algo em torno de R$ 18 bilhões, sabe-se agora que isso é muito maior. Trata-se de uma fraude espetacular, que já se mostra na casa dos R$ 50 bilhões. E começam a aparecer sinais que podem – se isso for apurado com clareza e coragem -, chegar aos verdadeiros responsáveis, alcançando não apenas aqueles que hoje (os ex-executivos) estão sendo apontados como responsáveis, mas, principalmente, os medalhões que estavam por trás dos negócios e usufruíram do mercado financeiro com suas manobras obscuras. 

Fraude milionária

Por enquanto, o atual diretor-presidente da empresa fraudada, Leonardo Coelho, apresenta indicativos de que antigas diretorias promoveram deliberadamente seguidas e incontáveis ações que levaram à fraude milionária, escondendo do mercado e do Conselho o índice de endividamento, na estratégia de que revelar tal situação seria “morte súbita”. 

Mas é muito improvável que essa responsabilização não fique apenas nas costas dos ex-dirigentes. Figuras como Jorge Paulo Lemman ( tido pela Forbes como o mais rico entre os brasileiros), e seus sócios Carlos Alberto Sucupira e Marcel Teles, que eram os acionistas majoritários das Americanas, certamente tinham conhecimento de tudo o que se passava lá dentro.  

Sobretudo na relação dessa companhia com a Bolsa de Valores, que levou aos sócios grandes lucros nas movimentações do IBOVESPA e, no caminho inverso, a enormes prejuízos, perdas irreparáveis, para pequenos investidores que, enganados, colocaram suas reservas na esperança e na confiança de que as ações das Americanas eram um bom negócio.  

Procurando culpados

Antes, os atuais dirigentes colocavam a culpa pelo escândalo em “inconsistências contábeis”. Agora, já admitem claramente que houve fraude, mas jogam a culpa nos dirigentes do passado, longe ainda de admitir que os sócios majoritários tinham, por todas as razões da lógica, conhecimento da situação, até pela claríssima preocupação de proteger seus elevados investimentos. 

O mercado financeiro é habitualmente invadido por uma série de práticas mal intencionadas que têm o objetivo de manipular e fraudar o funcionamento normal desse ambiente de negócios. Por meios especulativos, os preços de ativos de determinadas empresas mudam radicalmente de posição no lançamento de compra e venda, fazendo uma variação que interessa especialmente ao especulador. Para obter vantagem injusta e imoral sobre o mercado, vendem as ações em estágio de alta, daí alcançando significativos lucros. 

Assim tem sido ao longo da história, no Brasil e no mundo. Já no início deste século, nos Estados Unidos, ocorreram gigantescos escândalos contábeis com a empresa Enron Corporation, uma gigante de energia e commodities. Descobriu-se que ela usava lacunas contábeis para esconder bilhões de dólares de dívidas incobráveis, ao mesmo tempo em que inflacionava os ganhos da empresa. Resultado, mais de U$ 74 bilhões de perdas para seus acionistas. Lá, houve condenações. 

Privilégio 

No Brasil, o empresário Eike Batista usou por anos informações privilegiadas na venda de ações da OSX. De uma só vez, vendeu 9 milhões de ações da empresa de construção naval, um pouquinho antes da divulgação de notícias que derrubaram o valor dos papéis. Teve ganhos extraordinários com as vendas e levou milhares de acionistas a enormes prejuízos na bolsa.  

Muitas vezes, há de se perceber, o mercado age contra o interesse público. Por aplicação de suas práticas especulativas, comete crime contra acionistas de valores e nem sempre são punidos pelos atos que cometeram, que prejudicaram muitas pessoas e que levam à descrença do próprio mercado. Vamos esperar que desta vez seja diferente.



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