José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

Caso Ana Hickmann põe no radar a violência contra a mulher

Segundo estudo, 45% das mulheres agredidas não pediram algum tipo de ajuda,

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O deplorável episódio deste fim de semana, que vitimou a apresentadora de televisão Ana Hickmann, alvo de agressão do seu próprio marido, Alexandre Correa, coloca no radar da mídia e das redes sociais uma realidade indignante que tem se avolumado no país de modo vergonhoso, a violência contra as mulheres. Finalmente, Ana se encorajou para comparecer à delegacia e registrar um BO indicando sem rodeios a maneira com que a agressão foi praticada, consubstanciada nos crimes de lesão corporal (art. 129 do Código Penal) e violência doméstica (Lei 11.340/06). 

O que aconteceu com ela, uma mulher bonita, loira, famosa, provavelmente provida de riqueza e conforto material, nem assim escapando da agressividade do marido, dentro de sua própria casa, é algo chocante e inadmissível, mas que carrega, no seu exemplo, a possibilidade de compreendermos que a violência praticada por esses machões ocorre diariamente contra mulheres de todas as cores, níveis sociais e econômicos, por todos os rincões desse imenso Brasil.

Desse caso triste e lamentável, que devemos estar prontos a condenar com veemência e exigir apuração e punição toda vez que ocorrer, seja lá contra quem for cometido, extraio algumas conclusões bastante óbvias. A Primeira delas, é que a violência contra mulheres, praticada por homens, quase sempre maridos, companheiros, namorados, ou ex, é um ato criminoso antigo, enraizado na cultura colonialista que moldou as famílias, tendo o homem como superior à mulher.  

É dessa cultura enviesada e torpe que nasce a violência de gênero, que não é apenas física, mas que é carregada de toda uma prática de desvalorização e submissão. A história da humanidade é repleta desse comportamento vil, no qual o homem sente-se como dono, controlador, último a falar e a mandar. A mulher, para esse tipo, é apenas um objeto, um negócio, que deve estar a seus pés, sujeita a suas ordens e controle.

50 MIL MULHERES

Embora bastante presente no passado, conforme nos mostra a história da humanidade, essa prática de violência é algo que vem crescendo a cada dia em nosso país. O mapa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra, por exemplo, que em 2022 cresceram todas as formas de violência contra mulher. Mais de 50 mil mulheres sofreram algum tipo de agressão no decorrer do ano passado.

Um aspecto que chama a atenção da gente, indicado por estudo recente, é que quase quatro a cada 10 mulheres já sofreram algum tipo de violência cometida por companheiros ( o que representa 36% do total), desde agressões físicas, violência sexual, violência psicológica ou patrimonial. E aqui surge uma descoberta gritante e frequente: metade da população conhece alguma mulher que já tenha sido agredida; ao contrário, porém, apenas 6% dos homens brasileiros admitem já ter agredido suas parceiras.

É aí que mora o perigo. Homens capazes de violentar suas mulheres, companheiras, namoradas, escondem-se não apenas na violência de seu caráter machista, mas, de maneira inversa, na sua covardia deplorável. Os agressores de mulheres não são perigosos apenas no ato da agressão, mas nutrem um poder de domínio e controle que vai além disso. É o que está em estudo recente da Organização Mundial de Saúde, apontado para o medo que as mulheres têm de denunciar seus agressores à polícia.

Segundo o estudo, 45% das mulheres agredidas não pediram algum tipo de ajuda, 38% afirmam acreditar que conseguiriam resolver o problema sozinhas e 21% declararam que não fizeram denúncia por não confiarem na polícia, por acharem que a polícia fica sempre ao lado dos homens nessas situações.

DENUNCIE 

A atitude assumida por Ana Hickmann nos dá a certeza- que está alicerçada por todas as conclusões de analistas e estudiosos da questão-, que denunciar, sempre, é o caminho mais certo. Por mais temor que se tenha, por mais desconfiança que possam causar o sistema policial e os organismos governamentais e não-governamentais de proteção, a formalização de BO contra o agressor é o meio mais eficiente de buscar o mínimo de reparação e fazer conter os “valentões”. É preciso fazer crescerem campanhas públicas que amparem as mulheres e denunciem os agressores, chamando a atenção para os sinais, que podem ser vistos e, se vistos e compreendidos, podem servir para evitar o pior, que é a morte.

Hoje mesmo saiu pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelando que apenas no primeiro semestre deste ano de 2023, no Brasil, 722 mulheres foram vítimas de feminicídio, um acrescimento de 2,6% em relação a igual semestre passado. Mas nos Estados do Sudeste (São Paulo, Minas e Espírito Santo) esse crescimento foi de 16,2%. Uma barbaridade, que precisa acabar.



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