José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

O que podemos aprender com as florestas e as crianças

Essas crianças, por sua incrível resistência e pelo que nos revelam de sabedoria na convivência com a floresta, nos trazem lições extraordinárias

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Dois acontecimentos diferentes no seu modo de atuação, mas correlatos no seu ambiente comum, devem merecer nossa atenção a partir desta semana. O primeiro diz respeito ao desfecho epopeico, que tem a dimensão temática dos verdadeiros heróis, que foi o achado, com vida,  das quatro crianças que passaram 40 dias na floresta amazônica colombiana, depois da queda de um avião, em que perderam a mãe. 

Assim como a mãe, que morreu após ainda resistir por quatro dias depois da queda da aeronave, as quatro crianças são indígenas. E essas crianças, por sua incrível resistência e pelo que nos revelam de sabedoria na convivência com a floresta, nos trazem lições extraordinárias. O segundo acontecimento é a chegada ao Brasil da presidente da Comissão Europeia, a alemã Von der Leyen, que vem ao nosso país para conversas com o Presidente Lula e outras autoridades, seriamente interessada na questão amazônica.

A vinda dessa importante figura mundial ocorre em meio a duas tragédias. Uma, com final feliz, que é essa do resgate das crianças, que se salvaram porque se valeram do conhecimento empírico de que a floresta, se bem a entendermos e dela formos capazes de fazer bom uso,  tem todos os elementos capazes de nos salvar  e, mais amplamente, de salvar o planeta; outra, de resultado perverso, consistiu nas decisões da Câmara dos Deputados, ao aprovar em larga vantagem, um chamado marco temporal calamitoso, com grave comprometimento aos direitos territoriais dos povos originários, limitando ao máximo as demarcações de suas terras, e depois, se não bastasse, resolvendo retirar poderes essenciais do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Povos Indígenas. 

Von der Leyen no Brasil

Von der Leyen chega ao Brasil, e depois segue na sua missão por mais quatro países da América do Sul, sustentando o convencimento de que “os indígenas desempenham papel central na preservação e no uso sustentável da floresta e no desenvolvimento do potencial de superpotência verde do Brasil.”

A visão da dirigente da Comunidade Europeia está em plena consonância com o que pensa a própria Organização das Nações Unidas, expresso em seus relatórios recentes: "Quando falamos de combater as mudanças climáticas, não podemos alcançar ações efetivas sem a liderança de Povos Indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

Baixas taxas de desmatamento

Essas comunidades são alguns dos mais importantes protetores do carbono vivo, já que as áreas manejadas por elas têm taxas de desmatamento muito menores do que áreas protegidas pelos governos. De fato, Terras Indígenas abrigam 80% da biodiversidade remanescente no mundo e 17% do carbono florestal do planeta. Para apoiar Povos Indígenas a manterem seu papel crucial, governos precisam reconhecer formalmente seus direitos à terra e uso de recursos, e os financiamentos para ação climáticas devem incluir ações de apoio às comunidades.”

Não é isso, vergonhosamente, o que tem ocorrido no Brasil. Não só nos exemplos recentes vindos dos parlamentares com assento na Câmara dos Deputados, mas por reiteradas ações e posições dos próprios governantes do país, preponderantes no último governo. 

Foi certamente por vigorosa ignorância, mas muito também por desprezo, que o último ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, o empresário Joaquim Leite, declarou durante conferência das Nações Unidas para Questões Climáticas, que “ onde existe floresta também existe muita pobreza”, associando pobreza a florestas vivas, daí, muito provavelmente, o incentivo que o governo passado promoveu na invasão de terras indígenas e no desmatamento, que foram os mais rigorosos da história.

Desmatamento no governo passado

Dados consolidados apontam que o Brasil contabilizou 6,6 milhões de hectares desmatados ao longo de todo o governo Bolsonaro, entre 2019 e o ano passado, o equivalente a uma área de 1,4 vez o tamanho do estado do Rio de Janeiro. O relatório com os dados de 2022 foi divulgado na madrugada de hoje pelo MapBiomas, plataforma que reúne ONGs, empresas e universidades e monitora o desmatamento no Brasil.

E as terras indígenas, antes demarcadas como reservas ambientais, foram saqueadas e ocupadas por garimpos ilegais, abrigando bandidos do PCC e outros comandos criminosos, que promovem o desmatamento, contaminam de mercúrio todos os rios, expulsam e matam os indígenas e desenvolvem a mais desordenada exploração de ouro e diamantes, associando-se a organizações internacionais, operam gigantescas operações de contrabando dos valiosos minérios brasileiros. 

O mundo está numa grande encruzilhada: salvar nossas florestas, para fazer o planeta respirar, ou entregar-se ao extermínio, permitindo avançar a ganância inescrupulosa e criminosa de domínio crescente sobre as terras virgens.

Prefiro confiar que o exemplo heroico dessas crianças salvas na Amazônia colombiana possa entrar no coração e nas mentes dos governantes mundiais e sigam iluminando o presidente Lula na sua crença e compromisso diante da natureza.



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