José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

Operação da PF põe Braga Neto e o Haiti no radar dos tristes acontecimentos

Polícia Federal apura suspeita de sobrepreço em coletes a prova de bala

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O nome do general Braga Neto voltou à tona nesses últimos dias, depois que a Polícia Federal deu largada numa operação que visa apurar a participação do ex-interventor militar no Rio de Janeiro, como suspeito de envolvimento numa negociação nebulosa para a compra de 9.360 coletes, para a Polícia Militar, cujo preço, à época, era superior a R$ 40 milhões.

Conforme relatório posterior do Tribunal de Contas da União, ocorreu sobrepreço na compra, além de outras irregularidades. Braga Neto era o interventor federal no sistema de segurança do Rio, colocado nesse posto extraordinário, fora de padrões institucionais, pelo então presidente da República, Michel Temer.

O general-interventor defendeu a urgência na compra dos coletes, alegando a proximidade de perda de validade dos coletes existentes e a necessidade de policiais confrontarem os criminosos que utilizavam armamentos pesados. Braga Neto, então, assinou documento encaminhado ao TCU defendendo que a compra fosse feita sem licitação.

MISSÃO DE PAZ

O curioso da ação da PF que busca, enfim, esclarecer essa obscura negociação para compra de milhares de coletes, é que tudo faz lembrar a República do Haiti, localizada no mar do Caribe, considerada a nação economicamente mais pobre das Américas. Foi lá que, a partir de 2004, alongando-se por 13 anos, até 2017, o Brasil desenvolveu uma “missão de paz”, em cooperação com a ONU, deixando para trás muita polêmica e um rastro de violência contra os haitianos. A população local sustenta que a presença do Exército brasileiro foi uma verdadeira catástrofe, embora o general Heleno, que foi seu comandado nessa missão, sempre enalteça a atuação como gloriosa.

Foi aí, comandados pelo general Augusto Heleno, que cerca de 300 militares brasileiros, fortemente armados, realizaram uma chamada “operação de pacificação”, na maior favela da capital haitiana, Porto Príncipe, que se transformou em verdadeiro massacre. Assassinaram 63 pessoas, deixando outras 40 gravemente feridas.

Quando Bolsonaro assumiu o poder no Brasil, o entorno da Presidência, incluindo ministérios importantes diretamente ligados ao chefe da Nação, passou a ser ocupado por generais, coronéis, e outros de variadas patentes, todos ex-integrantes da força de paz no Haiti. E as estratégias montadas pelo General Braga Neto, no Rio, por inspiração no general Heleno, tinha como lastro a experiência que o Exército brasileiro conquistara na sua passagem pelo Haiti.

Foi nesse período de intervenção de Braga Neto que as favelas do Rio de Janeiro passaram pelas maiores varreduras de todos os tempos, com a morte de centenas de pessoas, muitas delas consideradas inocentes, sem vínculos com a criminalidade que é uma realidade em muitos locais da cidade.

ASSASSINATO DO PRESIDENTE

Es as estranhezas em relação ao Haiti não ficam por aí. Em julho de 2021, o presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi assassinado num ataque a tiros, que deixou ferida a primeira-dama. Os grupos que invadiram a residência oficial do presidente e o mataram, queriam que o então primeiro-ministro pudesse assumir seu lugar. O Governo dos Estados Unidos, através de sua Agência de Investigações de Segurança Interna (HSI), começou a apurar o assassinato do presidente haitiano e descobriu que a empresa norte-americana CTU Security LLC estava por trás das tramas que levaram à morte Jovenel Moïse e ferimentos de sua esposa.

Após essas apurações, no início de 2022, o governo dos EUA informou ao governo brasileiro que essa empresa suspeita de participar da morte do presidente haitiano era a mesma que fez negociações com o governo do Rio de Janeiro, cuja segurança pública estava sob a intervenção do general Braga Neto, para fornecer coletes para a PM.

Essa ação da Polícia Federal, desencadeada nesta semana, portanto, leva Braga Neto ao centro da questão, trazendo o Haiti e suas mazelas à cena dos acontecimentos, fazendo renascer as ações deploráveis das forças de segurança do Rio em sua atuação nas favelas da cidade, na repetição de um modelo trágico aplicado em favelas de Porto Príncipe e, finalmente, vinculando o ex-interventor a negócios nebulosos na compra de coletes a nada menos do que essa empresa norte-americana sob investigação de falcatruas e assassinato



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