'Ninho com mais de 200 ovos de pterossauros' é descoberto na China

Foram encontrados pelo menos 215 ovos fossilizados

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Há 120 milhões de anos, um grupo de pterossauros, répteis voadores da época dos dinossauros, escolheu uma área nos arredores de Turpan, cidade no Noroeste da China, como seu local de reprodução. Então, as fêmeas da espécie, Hamipterus tianshanensis, voltavam regularmente ao lugar para depositar seus ovos, criando o que os cientistas acreditam ser um “ninho coletivo”. Um dia, porém, tempestades fizeram os rios da região transbordarem, inundando a área e carregando centenas de ovos, enterrando-os em sedimentos não muito longe de onde estavam originalmente.

Com o passar do tempo, estes ovos acabaram fossilizados, preservando sua forma tridimensional em uma camada de arenito (tipo de rocha resultado da compactação de material granulado, como areia) na formação geológica da Bacia de Turpan-Hami, nesta região da China. E ali eles permaneceram até que, muitos milênios depois, uma equipe de pesquisadores, com a participação de cientistas chineses e brasileiros, os encontrou, no que está sendo saudada como uma das maiores e mais importantes descobertas do tipo até agora. Acredita-se que o achado ajudará a revelar como eram, se reproduziam e desenvolviam estes animais hoje extintos e sem descendentes evolutivos.

Relatado pelo paleontólogo Alexander Kellner, este cenário não seria crível nem para o próprio pesquisador brasileiro se tivesse sido descrito a ele não faz muito tempo, admite. Até recentemente, o registro fóssil tridimensional de ovos de pterossauros em todo mundo se resumia a seis exemplares: um encontrado na Argentina e todos outros cinco também em Turpan.

Mas embora parte da história contada por Kellner ainda seja preliminar, ou mesmo um tanto especulatória, o achado em si — de pelo menos 215 ovos fossilizados desta espécie de pterossauro, muitos com partes dos embriões também preservados dentro deles — é bem real, e está detalhado, junto com as primeiras análises de seu conteúdo, em artigo do qual é coautor e publicado nesta quinta-feira na prestigiosa revista científica “Science”.

'É como ganhar na loteria', diz pesquisador

— É como ganhar na loteria — compara Kellner, professor da UFRJ e pesquisador do Museu Nacional, onde apresentou nesta quinta-feira réplica do “ninho de pterossauros” que ficará em exposição na instituição. — Ovos já são naturalmente frágeis, o que faz com que sejam difíceis de serem preservados, e no caso de ovos de casca mole, como os de pterossauros, a situação é ainda pior, já que isso os torna ainda mais difíceis de serem fossilizados. E aí está outro aspecto fundamental de nossa descoberta: estes ovos foram parar ali depois que chuvas torrenciais os carregaram uma pequena distância desde o ninho original, isto é, seu processo de fossilização foi decorrente de um evento de alta energia, e não de baixa energia como se imaginaria, e futuras escavações devem ficar atentas a esta possibilidade.

Segundo Kellner, o achado amplia o registro fóssil de ovos de pterossauros de tal forma que os cientistas esperam poder montar uma abrangente série do desenvolvimento embriológico destes animais, trazendo pistas sobre sua morfologia e comportamentos.

Para começar, ele destaca que o fato serem tantos ovos juntos em tão variados estados de desenvolvimento indica que ao menos esta espécie mantinha estes tipos de ninhos coletivos:

— Primeiro, não é de se imaginar que duzentos e tantos ovos tenham sido postos por uma única fêmea — explica. — Segundo, ovos estragam muito fácil, então a distância inicial entre eles não pode ter sido muito grande, isto é, eles não foram trazidos de vários lugares diferentes por uma hipotética inundação e se acumularam no local onde foram fossilizados. E, em terceiro, estão seus diferentes estágios embrionários, o que aponta que foram postos em momentos diferentes.

Espécie talvez guardasse ninhos

Outro aspecto sugerido pela descoberta é que os indivíduos adultos da espécie talvez se revezassem na guarda do ninho coletivo e no cuidado com os filhotes recém-eclodidos. Nas camadas de arenito foram observadas diversas “concentrações” de ovos em estágios similares de desenvolvimento, e junto com eles também foram encontrados restos fossilizados de exemplares jovens dos animais, com idades estimadas de até dois anos. Além disso, as análises feitas até agora nos embriões mostram que seus fêmures (ossos da perna) se desenvolviam muito mais rápido que os úmeros (ossos do braço).

— Isto sugere que, assim que eclodiam, estes pterossauros tinham condições de andar, mas não de voar, requerendo algum cuidado parental — conta Kellner, para quem isso reforça a noção de que ao menos esta espécie mantinha ninhos coletivos. — Já as concentrações de ovos, na nossa interpretação, indicam que esta espécie voltava regularmente para a área de nidificação, num tipo de comportamento que vemos hoje em répteis como as tartarugas, que sempre voltam para mesma praia para pôr seus ovos. É só uma suposição, mas estes pterossauros provavelmente se juntavam em uma área por algum motivo escolhida para ser seu ninho coletivo, alguns ficavam por ali a guardando, depois iam embora e as fêmeas voltavam para pôr mais ovos.



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