A vida de Pedro Bial, contada por ele mesmo

Como é a realidade do homem público que comanda o programa mais popular da atualidade

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Pedro Bial entra em transe. No topo do altar que é o palco do Big Brother Brasil, o apresentador, de microfone em riste, prepara o espírito coletivo para sua primeira entrada ao vivo naquela terça-feira. Em tom beirando o messiânico, a face mais onipresente da TV brasileira no momento levanta os braços e pede a bênção de Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Falando como um pastor que prega por puro prazer, ele emenda, como uma quase reza, os primeiros versos do clássico "Palco", de Gilberto Gil. Em seguida, tira do bolso um frasco plástico, cheio até a boca de um líquido de consistência indefinida. A plateia, extasiada e escolada, entende o que aquilo significa: Bial, sem nenhuma cerimônia, dispara golfadas daquela água benta esverdeada na direção das 400 pessoas prostradas a seu redor, que recebem as gotas e as esfregam nas mãos, nos rostos e nos braços. "Vamos arrebentar!", ele exclama, soltando demônios, gerando a catarse, convocando a histeria coletiva, antes de dar três longos pulos no mesmo lugar e perigosamente se arremessar com um salto para longe do palco

Não satisfeito, ele finaliza o procedimento degraus abaixo, distribuindo sua lavanda abençoada nas palmas estendidas dos que se encontram atrás das câmeras - produtores, cinegrafistas, a equipe de apoio. A maioria ali, acostumada à cena, nem se abala. Na minha vez, Bial me olha direto nos olhos e saúda: "É isso aí!" A lavanda perfumada refresca ao entrar em contato com a pele e exprime seu objetivo inicial - o indefectível aroma de talco, ou bumbum de bebê, exaltados por Gil. Rapidamente, o pregador já desaparece pelo camarim quando, em questão de segundos, uma rara brisa fresca espalha de modo quase sobrenatural o inebriante aroma de fraldas limpas pelo ambiente superaquecido e em clima de suspensão. Mas há uma sensação a mais que insiste pairar no ar.

Rei soberano das noites de paredão do BBB, Pedro Bial contextualiza o ato que repete, desde 2004, horas antes de cada eliminação do reality show que comanda há mais de oito anos: "O Chacrinha jogava bacalhau na plateia. Eu jogo lavanda".

Qualquer indivíduo que assista à TV com regularidade no Brasil presume que a terça-feira seja o dia mais estressante da semana de Pedro Bial. Nesse caso, é mesmo. Às 13h ele já se encontra no Projac, base de operações da Globo em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, para tomar parte da elaboração do programa que será exibido, ao vivo, nove horas mais tarde.

"Ao longo destes anos, adquiri manias", ele conta, falando sobre os rituais - alguns chamariam de TOC - que executa antes de sua entrada em rede nacional, quando encarnará o Chacrinha, passará de anjo a mensageiro de más notícias em segundos, recitará poesias e comandará o maior fenômeno televisivo da década. "Chego cedo, coloco o sapato direito antes do esquerdo, me organizo... e tem essa mais vistosa, que é a farra da lavanda."

A visão que tenho às 18h daquele dia é, até então, inédita para o público brasileiro. Bial está de pé em seu camarim e veste somente uma toalha branca amarrada na cintura. Tem o rosto tomado por creme de barbear e está de óculos, que não escondem uma acentuada vermelhidão ao redor dos círculos azulados dos olhos. "Eu preciso colocar cada coisa em seu devido lugar", ele indica o balcão diante do grande espelho, onde se encontram fotografias dos participantes do programa, objetos de uso pessoal e o já famoso frasco verde de lavanda para bebê. "Tenho que cumprir isso para sentir que as coisas darão certo", ele sorri, começando a se barbear, interrompendo o processo a todo instante para complementar algum pensamento que insiste em lhe sair pela boca.

"Este é um paredão especial", ele comemora, sobre a eminente festa da eliminação. "Talvez a gente bata o recorde de votos hoje. Quando as pessoas são movidas pelo ódio, acontece isso." A situação, no caso, envolve personagens polêmicos da décima edição do show: Dicesar, assumidamente gay; Ana Angélica, assumidamente lésbica; e Marcelo Dourado, acusado de comportamento homofóbico. Sem a menor cerimônia, Bial vai dizendo o que realmente pensa sobre cada um dos integrantes do programa que apresenta desde 2002 (no primeiro ano, foram duas edições). O jornalista carioca nascido em 29 de março de 1958 comandou todos eles, mas não é apenas esse seu papel: Bial escreve textos, participa da edição e se envolve com o processo criativo ao lado do diretor Boninho e uma equipe de editores. Sua rotina de preparação também envolve acompanhar durante horas diárias o pay-per-view do BBB, em que capta minúcias e entrelinhas dos confinados. Não surpreendentemente, o showman mostra engajamento genuíno e discorre com paixão sobre a vida de cada concorrente, tal como se já conhecesse pessoalmente cada um. "Procuro não saber nada sobre o passado deles, nada", enfatiza, com a metade do rosto barbeada. "Mas não tem como não se envolver. Acabo lendo muita coisa por aí." Comento sobre a notícia mais fresca do dia - um blogueiro ofereceu R$ 50 mil aos internautas que votassem para defenestrar Dourado do programa. "Não estava sabendo. Mas duvido que o cara vá dar esse dinheiro", diz Bial, com a barba finalizada e ainda um pouco de creme na ponta da orelha.



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