Deputado defende combate às milícias para pacificar o Rio

Pontos do Complexo do Alemão são pichados com as iniciais da facção

Iniciais do Comando Vermelho | Terra
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No momento em que as forças de segurança estudam repetir a operação de ocupação do Complexo do Alemão nas favelas da Rocinha, Vidigal e na Mangueira, o propositor da Comissão de acompanhamento do enfrentamento à violência no Rio de Janeiro, na Câmara dos Deputados, deputado Chico Alencar (Psol), defende o combate às milícias como o próximo passo para coibir a ação do crime organizado na cidade do Rio de Janeiro.

"As autoridades públicas que hoje lideram o combate à violência no Rio de Janeiro, de uma maneira ou de outra, foram lenientes com as milícias. Algumas até disseram que se tratava de "autodefesa comunitária" ou "mal menor"... as milícias são muito criminosas, são, inclusive, o verdadeiro poder paralelo porque agentes públicos atuam nelas", afirma.

Ele classifica as milícias como a representação de uma migração de formas criminosas mais sedentárias, atrasadas, pesadas e antieconômicas para outras mais modernas, sofisticadas, com campo de negócios mais amplo, oferecendo, inclusive, segurança para os moradores que vivem em territórios dominados por esses grupos.

Para coibir a atuação desses grupos "nefastos", como adjetiva Alencar, ele defende uma reforma na estrutura policial. "É importante acabar com a parceria desses agentes públicos com grupos criminosos.... No Rio de Janeiro, nos últimos 20 anos, nenhum evento criminal de grande porte aconteceu sem algum tipo de sociedade com autoridades públicas. Tanto quanto a ficha limpa na política, é importante que se tenha apenas uma banda limpa na polícia".

Para acompanhar o andamento das operações policiais no Rio e evitar que se tornem apenas "êxito ufanista" e "discurso triunfalista", foi criada a comissão que atuará em diversas frentes. Em Brasília, junto ao governo e ao legislativo, vai ajudar na elaboração de projetos na área da segurança pública. "Um deles seria o que especifica o crime de formação de milícias e outro seria o que amplia o rigor sobre a lavagem de dinheiro".

O parlamentar afirma que a comissão deve ser renovada na próxima legislatura, que começa em fevereiro, para "verificar se, de fato, haverá uma política profunda e estruturante em segurança Pública (....) A grande preocupação é de que seja realizado um trabalho continuado, sério, pautado na legalidade, que junte a repressão policial com trabalho social, de educação, cultura, formação para o trabalho, oportunidade e saúde para essas comunidades sempre abandonadas".

A passagem de armas de drogas pelas fronteiras brasileiras, segundo Alencar, será cobrada da Polícia Federal e do Ministério da Defesa. "O objetivo será descobrir porque que existe tanto furo no controle do contrabando de armas para abastecer o crime. É impressionante como esse fluxo das armas continua". O deputado acredita que o Exército poderia auxiliar na fiscalização, ao invés de atuar como polícia nos morros cariocas, "seria muito mais útil".

Ele afirma que as forças armadas não recebem treinamento específico para atuar em situações como essas e lembra o episódio ocorrido no Morro da Providência, há dois anos, no qual militares entregaram jovens para traficantes de uma comunidade rival. Mas, Alencar diz que em situações de emergência, como a que vive o Rio atualmente, a ação de apoio logístico se justifica. "No entanto, isso não deve ser permanente, nem virar um provisório que vira definitivo".

Reação às UPPs

Alencar diz que as ações de intimidação protagonizadas pelos traficantes com o incêndio de carros e arrastões não pode ter sido motivada apenas pela implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras nas favelas, porque são poucas. "Representam apenas 2% das áreas ocupadas criminalmente pelo varejo das drogas armado ou pelas milícias, que continuam, portanto, com 90% e ação em pontos da região metropolitana do Rio de Janeiro, isso mostra a profundidade e gravidade do problema".

Segundo ele, pela ação abusiva e intimidatória dos traficantes, que criou um inegável clima de tensão na cidade, a autoridade do Estado tinha que reagir sob o risco de se mostrar falida. "A reação foi rápida dura e muito bem pensada porque imaginávamos que poderia ocorrer uma carnificina, um banho de sangue, assim já ocorreu em outras ocasiões. Eu vi inteligência nessa reação", elogia.

Ele diz que a pacificação do Rio só será possível com a separação do uso da força pelo Estado e pelo crime. "Temos que estar vigilantes para se manter essa separação, que muitas vezes não existiu. Até os próprios bandidos não acreditaram, talvez eles não acreditassem nessa reação em locais onde atuavam pagando mensalão para a polícia, recebendo celebridades nas festas, era um poder cristalizado, e agora, pelo menos naquelas áreas, onde 99% da população é inteiramente do bem, o cenário é outro, mas isso só será confirmado com o decorrer do tempo".

Nascido, criado e com família constituída no Rio de Janeiro, Alencar afirma que ainda quer ver um futuro melhor para a cidade onde seus filhos crescem. "Levando em conta as palavras de campanha e agora reiteradas pelo governador do Estado (Sérgio Cabral, PMDB), de que não vai haver mais nenhum espaço territorial do Rio de Janeiro controlado por qualquer tipo de poder paralelo até o fim do governo dele, acredito em um futuro melhor, mas acredito, inclusive, que o Flamengo pode ser campeão brasileiro, apesar de ter fugido a duas penas do rebaixamento", brinca.



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